Influência da eficiência de semeadura na qualidade da lavoura

A máquina deve garantir uniformidade de distribuição em todas as linhas, colocar as sementes em profundidade uniforme e cobri-las com uma camada de terra.

Em qualquer sistema, a semeadura deve possibilitar o estabelecimento rápido e uniforme da população de plantas desejada.

Para isso, a semeadora deve formar um ambiente de semeadura que possibilite a absorção de água pelas sementes e as condições de temperatura e disponibilidade de oxigênio adequadas ao processo de germinação.

As semeadoras-adubadoras realizam o corte da palhada, a abertura de sulcos no solo, dosagem das sementes que serão distribuídas, colocação das sementes nos sulcos, cobertura das sementes depositadas, fixação da camada de solo em volta das sementes e aplicação, dosagem e incorporação dos fertilizantes.

A máquina deve garantir uniformidade de distribuição em todas as linhas, colocar as sementes em profundidade uniforme e cobri-las com uma camada de terra.

As máquinas utilizadas para a semeadura das culturas de inverno ou culturas de grãos finos (trigo, aveia, cevada), são denominadas de semeadoras de fluxo contínuo, ou seja, apresentam sistema de distribuição de sementes através de rotores acanalados helicoidais, que distribuem as sementes de forma contínua, diferentemente das semeadoras de precisão que distribuem as sementes individualizadas.

Outra característica marcante das semeadoras de grãos miúdos é o espaçamento entre linhas. Estas máquinas apresentam espaçamentos entre linhas reduzidos, normalmente de 17 cm.

Atualmente para a semeadura de grãos finos a utilização de máquinas múltiplas tem crescido ano após ano, desde o pequeno ao grande produtor. A utilização dessas máquinas tem mostrado uma excelente qualidade de semeadura com alta performance principalmente em áreas com maiores volumes de palha.

O baixo revolvimento de solo e o excelente acabamento do sulco são características marcantes da utilização das máquinas múltiplas na semeadura das culturas com espaçamento reduzido.

As máquinas múltiplas são importantes, pois, além de proporcionarem melhorias na qualidade do Sistema Plantio Direto (SPD), possibilitam a introdução de novas espécies, viabilizando, desta forma, a rotação de culturas que é fundamental para o sucesso do sistema.

Estas máquinas também apresentam algumas particularidades, no que se refere a qualidade da semeadura: trabalham com rodas limitadoras de profundidade e por isso apresentam maior uniformidade na profundidade de colocação das sementes e menor revolvimento de solo, o que é uma característica muito favorável em se tratando de Plantio Direto.

Outra característica importante das máquinas múltiplas é a utilização de dois tubos porta-ferramentas para a fixação das linhas. Isto representa maior defasagem entre as mesmas resultando em maior vazão da palhada, diminuindo significativamente a possibilidade da ocorrência dos “embuchamentos”.

No SPD a operacionalidade das semeadoras assume papel importante, uma vez que vários fatores afetam o estabelecimento da cultura, entre eles a velocidade e a profundidade de semeadura. Além desses, também é importante o teor de água no solo, que na Região Sul do Brasil costuma ser excessivo na época de semeadura, prejudicando a eficiência das semeadoras, o que aumenta a importância da capacidade operacional em condições de umidade ideal de semeadura.

ANTECEDENDO A SEMEADURA

O manejo das plantas de cobertura e dos resíduos culturais tem como objetivo tornar apto o terreno para implantação da cultura subsequente. Desta forma, por exemplo, se os restos das culturas estiverem mal distribuídos e se não houver manejo da cultura de cobertura pode ocorrer embuchamentos. Isto indica que o manejo da cobertura vegetal deve visar à viabilização das operações envolvidas na conservação do solo, tendo como finalidade distribui-las uniformemente na superfície do solo, permitindo melhores condições para a semeadura das culturas ou proporcionando o dessecamento uniforme da vegetação.

Assim, a utilização correta do distribuidor e picador de palhas em colhedoras (deposição na largura de corte de sua plataforma) tem grande importância no plantio direto, pois com a utilização do dispositivo, os resíduos culturais podem ser distribuídos mais uniformemente na superfície do solo.

O manejo das plantas de cobertura e de resíduos culturais deve considerar sempre o tempo de permanência dos resíduos sobre a superfície do solo, ciclos e estágio fenológico das culturas e das plantas de cobertura, necessidades de corte ou não da palha, condições climáticas da região e liberação de nutrientes (imobilização ou mineralização), teor de água no solo no momento do manejo, sentido de deslocamento do equipamento e direção do acamamento, entre outros (Siqueira & Casão Jr., 2004).

PROFUNDIDADE DE SEMEADURA

A profundidade de semeadura deve ser adequada para que possa garantir a germinação e emergência das sementes e rendimento de grãos, para isso, deve-se considerar as características das sementes, as condições físico-químicas do solo, clima e manejo das culturas.

Maiores profundidades de colocação das sementes podem causar dificuldades de emergência das plantas devido ao maior consumo energético das reservas das sementes. Profundidades inferiores a 2,0 cm podem determinar dificuldades na germinação e emergência em situações de baixo teor de umidade no solo e também, devido ao menor contato da semente com o solo.

A profundidade de colocação das sementes é um fator de difícil controle, especialmente em se tratando de Plantio Direto devido a presença da camada de palha na superfície do solo. O controle da profundidade de semeadura das culturas de inverno é realizado através de rodas limitadoras de profundidade posicionadas ligeiramente atrás dos sulcadores, no caso das máquinas múltiplas. Neste caso é possível a realização de diferentes ajustes para diferentes situações de plantio.

VELOCIDADE DE SEMEADURA

A velocidade de semeadura tem grande influência sobre o desempenho das semeadoras. Em geral pode-se afirmar que na grande maioria das situações e em todos os diferentes sistemas de semeadura a qualidade da semeadura diminui quando se aumenta a velocidade de trabalho.

Alguns trabalhos têm mostrado que o uso de maiores velocidades de avanço durante a semeadura resultam em populações de plantas menores, maiores distâncias entre as plantas e aumento dos danos mecânicos nas sementes. Em geral, a velocidade recomendada para a semeadura das culturas de inverno, segundo recomendações dos fabricantes, é de 6,0 – 8,0 km/h.

A eficiência das semeadoras poderá ser avaliada por meio de dois parâmetros principais: a distribuição longitudinal de sementes e o coeficiente de variação dos espaçamentos. A uniformidade de distribuição longitudinal de sementes é uma característica que mais contribui para a obtenção de um stand adequado de plantas e, consequentemente, para a melhoria da produtividade das culturas.

Percentual de Cobertura do solo e Rendimento de Grãos, em função de diferentes velocidades de semeadura de trigo.

Velocidade Cobertura do Solo rendimento de Grãos
Velocidade Cobertura do Solo rendimento de Grãos

CALIBRAÇÃO DA SEMEADORA

A máquina deve ser calibrada de acordo com a necessidade de cada uma das diferentes variedades aliado a região em que a cultura será implantada.

Rio Grande do Sul e Santa Catarina

A densidade de semeadura indicada é de 250 sementes viáveis/m² para cultivares semitardias e tardias e de 300 a 330 sementes viáveis/m2 para cultivares médias e precoces. Para cultivares tardias, quando semeadas para duplo propósito (pastejo e colheita de grãos ou somente pastejo), a densidade indicada é de330 a 400 sementes viáveis/m2.

Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo

As densidades variam de 60 a 80 sementes por metro ou de 200 a 400 sementes viáveis/m2, em função do ciclo, porte das cultivares e, algumas vezes, dos tipos de clima e solo.

Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso

A densidade indicada para trigo de sequeiro é de 350 a 450 sementes aptas/m2. Em solos de boa fertilidade, sem alumínio trocável, deve-se utilizar 400 sementes aptas/m2. Para o trigo irrigado, a densidade indicada é de 270 a 350 sementes aptas/m2.

CULTURAS

Para a cultura de triticale a densidade de semeadura indicada é de 350 a 400 sementes viáveis/m². Já para a cultura de cevada recomenda-se de 225 a 250 sementes viáveis/m².

Em geral as recomendações de densidade para as culturas de inverno são indicadas em kg/ha, porém, como o peso de mil sementes destas culturas e das diferentes variedades pode variar muito em função das condições climáticas, da adubação nitrogenada, da cultivar entre outros, o ideal é que a regulagem seja feita em função do número de sementes por metro linear.

AJUSTES DA MÁQUINA

Além dos aspectos relacionados a regulagem de semente e fertilizante, alguns ajustes se fazem necessários para o bom desempenho da semeadora.

Um dos cuidados que deve-se levar em conta diz respeito à abertura de sulco. As semeadoras de fluxo contínuo, sejam elas específicas para grãos miúdos ou as múltiplas, utilizam para realizar a abertura do sulco o sistema de discos duplos defasados, em geral sem a presença de discos de corte.

O desempenho destes sulcadores está diretamente relacionado às condições do solo no momento da semeadura e a presença de palha na superfície do solo, para isso as diferentes máquinas apresentam regulagens destes sulcadores que podem ser realizadas através de pressão de molas, número de molas, regulagem dos batentes das molas e curso dos cilindros hidráulicos.

A uniformidade da profundidade de deposição das sementes no solo é um dos principais fatores para a obtenção de uma rápida emergência e estabelecimento da cultura. Seja através de aros limitadores ou de rodas limitadoras de profundidade, o controle da profundidade deve ser realizado de forma criteriosa para que não ocorram erros relativos à germinação das sementes;

Durante a semeadura a velocidade de deslocamento não deve ultrapassar 8,0 km/h, pois até esta velocidade as máquinas conseguem manter o seu desempenho de regularidade tanto para a distribuição de sementes como para a distribuição de fertilizantes. Vale ressaltar também, que no Plantio Direto, alta velocidade é sinônimo de maior revolvimento do solo, redução da eficiência de corte da palhada e menor profundidade de semeadura.

Deve-se também observar o estado geral dos dosadores de sementes e fertilizantes e verificar se os dosadores estão corretamente ajustados;, além de observar se os sulcadores e condutores não estão obstruídos. Ainda é preciso verificar a pressão dos pneus da semeadora, certificar-se de que os mecanismos de transmissão estejam perfeitamente ajustados e manter a semeadora sempre em perfeitas condições mecânicas para evitar atrasos na semeadura.

NA HORA DE SEMEAR

Durante a operação de semeadura, alguns pontos devem ser observados para a obtenção de uma operação com alta qualidade: eficiência de corte da palha, dosagem e posicionamento do fertilizante, dosagem e posicionamento da semente, fechamento e cobertura do sulco.

A qualidade de corte da palha é um fator norteador de todo processo de funcionamento da semeadura, pois dele depende o funcionamento dos demais componentes da máquina. Um eficiente corte de palha pode ser analisado pelo grau de afastamento da palha provocado pelos sulcadores, como também pelo número de ocorrências de embuchamentos e de paradas.

Com relação a qualidade da fertilização, deve-se avaliar a regularidade da dosagem e a variação entre as linhas. A regularidade da quantidade de sementes viáveis, posição delas no solo e distribuição ao longo da linha de plantio são os parâmetros que qualificam o processo da colocação de semente no solo realizado pela unidade semeadora.

Por fim a qualidade de desempenho da roda compactadora pode ser medida pela constância ou não da presença de sementes descobertas ou sulco mal fechado.

A semeadura é uma operação delicada que não permite erros e, a atenção durante a operação é de extrema importância, pois erros cometidos durante a semeadura poderão inviabilizar a produção. O sucesso de uma cultura depende de uma boa semeadura, por isso, atenção especial deve ser dada a esta operação.

Este artigo foi publicado na edição 140 da revista Cultivar Máquinas. Clique aqui para ler a edição.

Fonte: Grupo Cultivar

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