Inoculantes: O que todo agricultor precisa saber para potencializar os cultivos

Atualmente, uma variedade de inoculantes está disponível no mercado, incluindo líquidos, em gel, turfosos e novas formulações; entenda melhor sobre o insumo

Nos últimos tempos, a agricultura experimentou uma transformação significativa graças aos avanços tecnológicos. Desde a integração digital com os equipamentos agrícolas até a evolução dos insumos, tornando-os mais eficazes e sustentáveis, temos testemunhado uma verdadeira revolução. Um exemplo disso é a crescente popularidade dos inoculantes biológicos nas últimas duas décadas, muitas vezes correlacionada ao aumento da produção de soja no Brasil.

Mas o que exatamente são esses inoculantes biológicos? Conforme definido pela legislação brasileira, são produtos compostos por microrganismos, como bactérias e fungos, que têm a capacidade de promover o crescimento das plantas ao facilitar a fixação de nitrogênio (N), a mobilização de fósforo (P) e potássio (K), entre outros benefícios.

Entendendo a Inoculação

Para compreender o processo de inoculação, é fundamental primeiro entender a fixação biológica de nitrogênio (FBN). Nesse processo, o nitrogênio (N2) presente na atmosfera é convertido em formas assimiláveis pelas plantas.

As bactérias fixadoras de nitrogênio, conhecidas como rizóbios, desempenham um papel crucial nessa conversão. Elas possuem enzimas nitrogenases que catalisam essa reação em simbiose com certas plantas leguminosas (como soja, feijão, ervilha, entre outras).

No entanto, é importante ressaltar que essa simbiose não ocorre em todas as espécies vegetais, sendo mais proeminente na cultura da soja. Essa associação resulta na formação de estruturas especializadas nas raízes das plantas, conhecidas como nódulos, onde o processo de fixação do nitrogênio ocorre.

Inoculantes: O que todo agricultor precisa saber para potencializar seus cultivos
Foto: Divulgação

Diferentes cepas bacterianas com habilidades de fixação do nitrogênio atmosférico foram identificadas em associação com gramíneas como milho, trigo e cana-de-açúcar.

Contudo, ao contrário das leguminosas, nessas plantas não se formam nódulos nas raízes e a quantidade de nitrogênio fixado é substancialmente menor. Consequentemente, a aplicação de adubos nitrogenados continua sendo essencial para otimizar o rendimento das lavouras.

A inoculação pode ser compreendida como um procedimento no qual as bactérias fixadoras de nitrogênio, selecionadas através de pesquisas, são introduzidas nas sementes antes do plantio. O produto utilizado para esse fim é denominado inoculante ou biofertilizante.

Ação dos Inoculantes

Atualmente, uma variedade de inoculantes está disponível no mercado, incluindo líquidos, em gel, turfosos e novas formulações. Os inoculantes líquidos podem ser aplicados tanto diretamente nas sementes quanto no sulco de semeadura, enquanto os à base de turfa são exclusivamente aplicados nas sementes.

Dentre as bactérias mais proeminentes na fixação de nitrogênio, destacam-se as pertencentes aos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, associadas às leguminosas, e diversas espécies de Azospirillum, ligadas às gramíneas.

De acordo com dados da Associação Nacional de Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), o uso de inoculantes já abrange aproximadamente 85% das áreas de cultivo de soja no Brasil. Além disso, cerca de 97% dos inoculantes utilizados no país são de fabricação nacional, refletindo um crescimento constante no registro de produtos biológicos a cada ano.

Os inoculantes são formulados com base biológica, ou seja, são derivados de organismos vivos!

Sua produção segue padrões estabelecidos pela Relare (Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbiológicos de Interesse Agrícola) e são registrados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Vantagens dos inoculantes na produção de soja

Como mencionado anteriormente, na produção de soja, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) pode eliminar completamente a necessidade de adubação nitrogenada convencional. O processo ocorre graças aos inoculantes que contêm cepas específicas de bactérias Rhizobium e/ou Bradyrhizobium. Quando essas bactérias são introduzidas nas raízes da soja, são capazes de converter o nitrogênio atmosférico em compostos nitrogenados, fornecendo à cultura quantidades adequadas desse elemento essencial.

Além dos benefícios econômicos derivados da eliminação do uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos pela inoculação, essa tecnologia se destaca por sua simplicidade e sustentabilidade.

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Benefícios dos Inoculantes para o cultivo de milho

Uma pesquisa conduzida pela Embrapa Agroecologia identificou bactérias com a capacidade de converter o nitrogênio atmosférico em uma forma que as plantas possam assimilar, especificamente uma espécie denominada Herbaspirillum seropedicae.

O inoculante desenvolvido a partir dessas bactérias não apenas reduz a dependência de adubos nitrogenados, mas também fortalece a resistência das plantas a condições adversas, como estresse hídrico, e melhora a eficiência na absorção de água e outros nutrientes presentes no solo.

Além disso, o estudo revelou que os agricultores podem reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados em até 50%.

Momento adequado para aplicação do inoculante

Uma prática fundamental na aplicação de inoculantes e outros bioinsumos é garantir que sejam introduzidos na planta no momento exato em que a cultura os necessitará. No caso dos inoculantes, isso ocorre quando as raízes estão se desenvolvendo.

Em culturas de ciclo anual, como o milho, a inoculação pode ocorrer durante o tratamento das sementes (antes do plantio) ou diretamente no sulco de plantio (após o plantio). Para culturas perenes, a inoculação é realizada quando a planta entra novamente em fase vegetativa, após períodos de estresse ambiental, como seca ou variações de temperatura. A precisão em colocar o insumo biológico (seja inoculante ou outro bioinsumo) no local correto é crucial.

É igualmente importante que os produtores sigam rigorosamente as instruções do fabricante ao aplicar o produto.

Será que contar apenas com inoculantes é suficiente?

É notório que a eficácia dos inoculantes biológicos varia entre diferentes culturas agrícolas, como soja (leguminosa) e milho (gramínea). Enquanto no caso da soja, os inoculantes biológicos podem suprir todas as necessidades da planta, para o milho, é comum que sejam requeridos suplementos adicionais.

Quando se trata da utilização de bioinsumos em contraposição aos insumos tradicionais, a abordagem geralmente é complementar. Isso significa que um solo com boa estrutura mineral e nutrientes pode ser aprimorado com a aplicação de insumos convencionais para maximizar a produtividade. O mesmo princípio se estende aos biodefensivos, visto que certas formas de proteção das plantas ainda dependem do uso de produtos químicos. A ideia central é sempre de complementaridade, não de substituição.

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Foto: Divulgação

Diferenciando Inoculantes biológicos e bioinsumos

É importante não confundir inoculantes biológicos com bioinsumos. Os inoculantes biológicos representam apenas uma categoria de bioinsumos disponíveis no mercado, concentrando-se principalmente na fixação de nitrogênio para promover o crescimento das plantas.

Entre os variados bioinsumos encontramos:

  • Agentes Biológicos de Controle: Estes são organismos vivos que desempenham um papel crucial no controle de pragas de forma natural, agindo como predadores ou inimigos naturais.
  • Bioestimulantes: Elaborados a partir de substâncias naturais, os bioestimulantes são aplicados nas sementes, no solo ou nas próprias plantas, visando aprimorar seu desempenho, estimular a germinação, promover o desenvolvimento das raízes e outros processos fisiológicos fundamentais.
  • Biofertilizantes: Compostos por elementos ativos ou substâncias orgânicas de origem animal, vegetal ou microbiótica, os biofertilizantes têm a função de aumentar tanto a produtividade quanto a qualidade das plantas.
  • Condicionadores Biológicos de Ambientes: Estas substâncias são empregadas para aprimorar a atividade microbiológica nos ambientes de produção, criando condições mais favoráveis ao desenvolvimento das culturas.

Em suma, os bioinsumos representam uma alternativa promissora e sustentável para impulsionar a agricultura moderna. Ao compreender a diversidade desses recursos, que vão desde os agentes biológicos de controle até os condicionadores biológicos de ambientes, é possível vislumbrar um horizonte onde a produção agrícola se beneficia da sinergia entre ciência e natureza.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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