
Como a IA tem permitido tornar as plantas fabris mais flexíveis e eficientes, contribuindo para a redução de perdas e para a melhoria do desempenho operacional.
O papel da inteligência artificial (IA) e da automação no avanço da indústria do trigo foi destaque em um dos debates do 32º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, promovido pela Abitrigo entre os dias 20 e 22 de outubro, no Rio de Janeiro. Com o tema “Do dado ao valor: IA e automação inovando a indústria do trigo”, o painel foi moderado pelo vice-presidente de Varejo e Indústria da Rock Encantech, Fernando Gibotti, e reuniu o gerente de vendas da Haver & Boecker Latinoamericana, Edson Palorca, e a product and strategy advisor na Inovação Ninja, Érica Briones.
Fernando Gibotti abriu o debate contextualizando as grandes mudanças nos padrões de consumo, que impactam diretamente as decisões do varejo e da indústria — como o envelhecimento populacional, a redução do tamanho das famílias, o aumento no número de pets e o surgimento de novas demandas sociais. Para ele, o caminho está em compreender o comportamento do consumidor com base em dados e IA, como forma de gerar previsibilidade e eficiência comercial. “O novo mercado é movido por conhecimento pleno e estratégico. Dados, quando bem utilizados, ampliam margens, otimizam vendas e fortalecem o relacionamento com o cliente de maneira assertiva”, afirmou.
Edson Palorca apresentou a perspectiva prática da aplicação da inteligência artificial dentro da indústria 4.0, com foco nos processos de automação já implementados no setor moageiro. O executivo explicou como a IA tem permitido tornar as plantas fabris mais flexíveis e eficientes, contribuindo para a redução de perdas e para a melhoria do desempenho operacional. “Hoje já vemos sistemas de carregamento a granel automatizados, aplicação precisa de sacos em ensacadeiras e o uso de sensores para garantir a selagem correta das embalagens. Tudo isso representa ganhos concretos para a indústria”, destacou.
Já Érica Briones aprofundou a discussão sobre o papel real da ferramenta nos negócios, alertando que a tecnologia, embora amplamente debatida, precisa ser compreendida além do modismo. Ela destacou que o uso estratégico da IA pode aumentar a competitividade ao atuar em áreas como automação de vendas, otimização logística e precificação. “A inteligência artificial é hype, bolha e realidade ao mesmo tempo. Mas, acima de tudo, é uma ferramenta poderosa para ampliar a inteligência humana e criar diferenciais de mercado. A transformação começa nos dados que já temos e nos processos que já estão prontos para evoluir”, explicou.
Comportamento do consumidor determina a farinha do futuro
O impacto das mudanças de comportamento do consumidor no mercado da farinha do futuro foi o tema do painel “A farinha de trigo no novo mercado de panificação”, que reuniu o vice-presidente de Operações da Uptown Bakeries/Red Brick Consulting (EUA), Didier Rosada, o fundador da Bioalimentos Consultoria Associada, Pery Carvalho, e contou com a moderação do conselheiro da Abitrigo, Rogério Tondo.
Em sua palestra, Didier Rosada apresentou um panorama das tendências globais da panificação, destacando que o setor atravessa um processo de transformação profunda. Os hábitos de consumo têm mudado rapidamente, com consumidores cada vez mais atentos à saúde, à sustentabilidade e à personalização dos produtos. “Diante desse cenário, a indústria moageira assume um papel essencial: não apenas como fornecedora de matéria-prima, mas como agente de inovação para se adaptar a essas novas exigências”, ressaltou.
Ao analisar o mercado consumidor contemporâneo e as expectativas para os próximos anos, Pery Carvalho apresentou o modelo dos “Dois Ds”. Segundo ele, em decorrência da busca contínua por frescor e qualidade, o perfil atual de consumo se caracteriza pela diversidade — sustentada por um sortimento amplo de produtos — e pela disponibilidade. “As farinhas do futuro tendem a ser, cada vez mais, tipificadas e customizadas para atender às indústrias artesanais e automatizadas, sejam elas tradicionais ou especializadas em congelados”, alertou.
Brasil é o maior mercado global de padarias independentes
A força e a representatividade do mercado de panificação também ganharam destaque na programação, com a palestra do diretor da Seven, Alexandre Neves, que trouxe dados inéditos da pesquisa “O Mercado da Panificação no Brasil”.
Como mostra o levantamento, o Brasil é atualmente o maior mercado global de padarias independentes em número de estabelecimentos, com 70.235 unidades ativas e um faturamento anual de USD 5,12 bilhões. Em 2024, esse segmento respondeu por aproximadamente 2,4 bilhões de compras, o que representa 10% do total do food service no país. Entre 2021 e 2024, o setor apresentou um crescimento acelerado, com taxa anual composta (CAGR) de 10,2%. A projeção para os próximos três anos é de crescimento mais estável, com CAGR estimado em 4,3%.
“Estamos falando de um setor que representa 6,4% do PIB de bares e restaurantes e que emprega milhões de pessoas de forma direta e indireta. A panificação brasileira é madura, está distribuída por todo o país e tem uma base sólida para seguir crescendo”, afirmou Neves. Ele destacou ainda que o Sudeste lidera em relevância, seguido pelo Nordeste e Sul. “Apesar das diferenças regionais, o consumo de pão francês, café, sanduíches e bolos demonstra que as padarias seguem como um ponto essencial do cotidiano do brasileiro. Esse hábito cultural reforça a importância estratégica do setor dentro do food service”, concluiu.
Próximos passos do mercado de trigo no Brasil e no mundo
Ao encerrar a programação de palestras, o último painel, mediado pelo vice-presidente do Negócio Trigo da Bunge na América do Sul, Junior Justino, reuniu o especialista em trigo da Safras&Mercado, Elcio Bento, o consultor Pablo Maluenda e o chefe da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.
Segundo Maluenda, o recuo dos preços vivido pelo setor está ligado à disponibilidade e boa produção mundial, como é o caso da Argentina, que deve registrar uma safra recorde. Outros elementos incluem a guerra comercial entre Estados Unidos e China, além das supersafras de soja e milho no país norte-americano. Para ele, a recuperação dos preços dependerá de fatores geopolíticos, como um possível acordo entre China e Estados Unidos. “Se isso ocorrer, os preços podem reagir”, afirmou.
Elcio, por sua vez, avaliou o mercado interno. Para ele, o preço praticado tende a acompanhar o valor de referência do trigo importado, ou seja, dificilmente ultrapassará o custo da paridade de importação. Essas referências, contudo, são diretamente afetadas pela taxa de câmbio e pelas oscilações do mercado global. “Com a recente desvalorização dos preços internacionais, ambos os vetores (moeda e cotação externa) têm pressionado os preços domésticos para baixo”, avaliou.
O representante da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, ao também analisar o mercado brasileiro, afirmou que o país reúne os elementos necessários, como terra, tecnologia e capacidade produtiva, para alcançar a autossuficiência e se tornar mais competitivo. Sua expansão, portanto, representa uma oportunidade estratégica com impactos positivos nos âmbitos econômico, ambiental e social. “O trigo brasileiro tem potencial para se tornar parte relevante da segurança alimentar global, além de ser considerado uma opção descarbonizante”, frisou.
Fonte: Abitrigo
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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