
Compra de rebanho foi feita por dois dos alvos da CPMI; notas fiscais foram emitidas com CPF dos investigados do INSS, entre 2020 e 2025
As investigações sobre o desvio de recursos do INSS ganharam um novo capítulo com a revelação de que parte do dinheiro teria sido usada na compra de gado. Documentos fiscais analisados mostram que dois dos investigados pela CPMI — o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, e o empresário Alexsandro Prado Santos, conhecido como “Lequinho” — adquiriram pelo menos 1.243 cabeças de bovinos ao custo total de R$ 2,88 milhões.
O conteúdo com esses dados veio a público ontem, após processamento automático de notas fiscais emitidas entre 2020 e 2025, obtidas pelo site Metrópoles. A informação é apresentada de forma ética e jornalística, sem prejulgamento, pois os investigados ainda não apresentaram suas versões completas.
Segundo as notas levantadas, Carlos Roberto Ferreira Lopes comprou 998 cabeças de gado entre junho e agosto de 2020, em 12 lotes, somando R$ 1,5 milhão. A maior parte do gado adquirido era de bezerros Nelore, raça que compõe a base do rebanho de corte nacional. As compras foram feitas diretamente com produtores, principalmente de Minas Gerais, usando o CPF do dirigente.
Já Alexsandro Prado Santos (“Lequinho”) adquiriu 245 cabeças de bovinos entre novembro de 2023 e janeiro de 2025, pagando R$ 1,37 milhão. Ele é apontado pela CPMI como controlador de entidades de fachada — a Associação Universo e a APDAP Prev — usadas para desviar recursos de aposentados, motivo pelo qual teve o sigilo quebrado.
Os documentos foram analisados com o uso de linguagem de programação para cruzamento de dados das notas fiscais, um recurso empregado para garantir precisão na investigação financeira. As transações indicam possível conversão de dinheiro público desviado em ativos rurais facilmente liquidáveis, o que pode configurar tentativa de ocultação de patrimônio — hipótese que ainda será examinada.
A reportagem do Metrópoles afirma que tentou contato com Carlos Roberto Ferreira Lopes e com Alexsandro Prado Santos. Até a publicação, nenhum dos dois havia respondido, e o espaço permanece aberto para manifestação das defesas.
A CPMI segue reunindo documentação para rastrear fluxos financeiros, confrontar depoimentos e identificar eventuais crimes conexos, como lavagem de dinheiro e organização criminosa. A aquisição de gado em grande escala por investigados, com uso de CPFs e notas emitidas dentro do período do suposto esquema, passa agora a integrar a trilha probatória.
Contexto do escândalo
O escândalo que levou à criação da CPMI do INSS explodiu após suspeitas de que associações “fantasmas” estariam recebendo repasses milionários da Previdência com base em filiações fraudulentas de aposentados, inclusive com casos envolvendo pessoas mortas e até crianças registradas como beneficiárias.
A investigação aponta um esquema estruturado que operava por meio de convênios e entidades privadas, redirecionando recursos destinados a benefícios sociais. O caso ganhou proporção nacional pela gravidade, pelo volume potencial desviado e por atingir diretamente aposentados — a camada mais vulnerável do sistema previdenciário brasileiro. A CPMI agora tenta seguir o rastro do dinheiro, inclusive no patrimônio agropecuário dos envolvidos, como apontaram as novas evidências.
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