John Deere renova investimentos em pesquisa no país

Fabricante americana firma parcerias para expandir conectividade no campo e aposta na redução de barreiras para comercializar máquinas autônomas no país

Depois de mais de dois anos à frente da área global de pesquisa e desenvolvimento da John Deere nos Estados Unidos, Cristiano Correia está de volta ao Brasil com uma visão clara: o agronegócio brasileiro tem uma capacidade extraordinária de adaptação — e, em diversos aspectos, já ultrapassou os modelos mais tradicionais, como o americano.

Correia assumiu recentemente a vice-presidência da John Deere no país e fala com a autoridade de quem está na companhia há mais de duas décadas, tendo atuado em áreas como produção e marketing antes da experiência internacional. Durante seu período nos EUA, ele participou de decisões estratégicas e projeções para o crescimento global da empresa.

Segundo o executivo, o avanço do agro no Brasil tem raízes sólidas: “Nosso setor se apoia fortemente na ciência, tanto pela contribuição de instituições públicas como a Embrapa quanto pelos investimentos contínuos da iniciativa privada”, afirma. Ele acredita que essa base científica foi essencial para ganhos expressivos de produtividade e para consolidar o Brasil como referência no cenário agrícola mundial.

Tecnologia como alavanca, conectividade como desafio

Para Correia, a evolução da agricultura brasileira está diretamente ligada à adoção de tecnologias avançadas — e o futuro da John Deere no país depende dessa aposta. No entanto, ele alerta que o maior obstáculo hoje não está nos equipamentos, mas sim na infraestrutura digital. Ao contrário dos EUA, onde o 5G cobre praticamente toda a zona rural, no Brasil o acesso à internet em regiões agrícolas ainda é limitado.

Diante disso, a empresa tem buscado soluções. Parcerias com companhias como a Sol/Claro já permitiram conectar cerca de 3 milhões de hectares, além de iniciativas com tecnologias de satélite. A proposta é simples: quanto mais áreas conectadas, maior o potencial de adoção de máquinas inteligentes e geração de dados estratégicos. Atualmente, a John Deere conta com 780 mil equipamentos conectados em operação no mundo — e quer dobrar esse número até 2026, alcançando 1,5 milhão de unidades.

Automação pronta, mas presa a entraves

O uso de tratores e colheitadeiras autônomos já é realidade nos Estados Unidos. No Brasil, a tecnologia está disponível, mas ainda esbarra em limitações regulatórias e na baixa conectividade do campo. Para Correia, resolver essas questões é crucial. “A dificuldade de atrair mão de obra para o campo é um problema global. Quando removermos essas barreiras, a transformação será profunda.”

Soluções sustentáveis com identidade brasileira

Em relação à transição energética, enquanto outros países investem em eletrificação, o executivo enxerga no etanol a melhor alternativa para o Brasil. “Já temos infraestrutura, know-how e mercado. O etanol é o combustível renovável mais viável para nossa realidade”, destaca.

Logística, o calcanhar de aquiles

Mesmo com tanta inovação no campo, os gargalos fora das fazendas continuam sendo um desafio. A infraestrutura precária e a falta de capacidade de armazenagem causam prejuízos bilionários ao setor. Estima-se que as perdas cheguem a US$ 150 bilhões por ano. A John Deere quer atuar onde o desperdício acontece — seja no plantio, na colheita ou na gestão de dados — com foco em soluções que otimizem processos e aumentem a eficiência da produção.

Brasil ganha protagonismo global dentro da multinacional

O Brasil, que já foi visto apenas como mercado comprador, hoje exerce papel estratégico na operação da John Deere. Um marco dessa mudança foi a inauguração do primeiro centro global de pesquisa e desenvolvimento focado na agricultura tropical, localizado em Piracicaba (SP). O projeto, feito em parceria com instituições como a Esalq/USP, a Fealq e o Grupo Terraverde, recebeu um investimento inicial de R$ 6 milhões.

Cenário econômico e perspectivas

Apesar dos avanços, o momento exige cautela. As altas taxas de juros continuam dificultando o acesso ao crédito, especialmente para pequenos e médios produtores. Correia reconhece que o Plano Safra é importante, mas que sua distribuição ainda deixa lacunas.

Em termos de resultados, a matriz da John Deere reportou lucro líquido de US$ 1,8 bilhão no segundo trimestre fiscal de 2025, encerrado em abril — uma queda de 24% em relação ao mesmo período do ano anterior. A receita líquida também encolheu, atingindo US$ 12,76 bilhões, uma retração de 16%.

Para o mercado brasileiro, a projeção é de estabilidade, com uma possível alta de até 5% em 2025. A produção de grãos continua liderando o setor, mas culturas como café, cacau, cana e citros vêm se destacando positivamente.

No plano global, a estimativa de lucro anual da empresa foi revisada para baixo, devendo variar entre US$ 4,75 bilhões e US$ 5,5 bilhões — abaixo dos US$ 7,1 bilhões alcançados em 2024.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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