Lecar Campo, primeira picape híbrida brasileira, decepciona e adia planos para 2027; vídeo

Com apresentação desastrosa, protótipos incompletos e modelo de negócios questionado, marca brasileira de carros elétricos e híbridos vira alvo de críticas no principal evento automotivo do país; conheça a Lecar Campo

A edição de 2025 do Salão do Automóvel de São Paulo teve um dos momentos mais constrangedores de sua história recente quando a brasileira Lecar, que se autointitula “revolucionária da mobilidade elétrica nacional”, subiu ao palco para exibir sua primeira picape. A promessa era ousada: apresentar um protótipo funcional da Lecar Campo, primeira picape híbrida brasileira. No entanto, o que o público e a imprensa viram foi um mockup de isopor sem motor, chassi ou qualquer funcionalidade mecânica — um modelo que precisou ser empurrado até o palco sobre rodinhas presas às rodas traseiras.

Uma apresentação amadora e sem respostas

O evento no estande da marca, realizado no Distrito Anhembi, contou com falhas técnicas e desorganização visível. O nome do CEO Flávio Figueiredo apareceu errado nos telões e o vídeo de apresentação exibido foi uma gravação da maquete da futura fábrica da empresa — ainda longe de sair do papel.

Jornalistas presentes relataram constrangimento com o amadorismo da apresentação e o improviso nas falas do fundador, que chegou a subir ao palco com camisa de time de futebol, cabelos desgrenhados e discurso sem roteiro.

Promessas grandiosas, mas sem base sólida

Mesmo sem nenhum veículo funcional pronto, a Lecar anunciou três modelos: a picape Lecar Campo, o sedã Lecar 459 e o jipe híbrido Tático, este último anunciado como uma alternativa ao Troller, com 1.000 km de autonomia usando apenas 30 litros de etanol. Todos utilizarão o sistema híbrido flex do tipo EREV (Range Extended Electric Vehicle), com motor a combustão alimentando apenas o gerador, e não as rodas.

A empresa afirma que o motor elétrico será da WEG e o extensor de autonomia da Horse, mas não exibiu nenhum componente físico, apenas imagens geradas por inteligência artificial.

Flávio Figueiredo, CEO da Lecar — Foto: André Fogaça/g1

Fábrica em Sooretama (ES) segue no papel

A construção da fábrica, inicialmente prometida para 2024 em Caxias do Sul (RS), foi remanejada para Sooretama, no Espírito Santo, com início agora previsto apenas para o primeiro trimestre de 2026. A promessa é produzir os primeiros carros no segundo semestre de 2027, com capacidade anual para 120 mil unidades, 1.300 empregos diretos e uma estrutura de 90 mil m² com certificações ambientais e energia solar.

O total investido até o momento seria de R$ 90 milhões, com projeção de R$ 870 milhões no total. Para efeito de comparação, a BYD anunciou R$ 5,5 bilhões para sua fábrica em Camaçari (BA).

Concessionárias vendem maquetes por R$ 200 mil

O modelo de negócios da Lecar também gera desconfiança. Cada “mockup” da picape Campo, igual ao mostrado no Salão, é vendido por R$ 200 mil a interessados em se tornar concessionários. Já os veículos da marca são comercializados exclusivamente via Compra Programada, com parcelas a partir de R$ 2.212,50 por até 72 meses. Não há opção de pagamento à vista, e a entrega só ocorre após metade do valor ser quitado — ou seja, em três anos.

A meta da Lecar é ter 150 pontos de venda até 2026, incluindo lojas multimarcas de seminovos adaptadas para representar a marca, o que levanta questionamentos sobre suporte técnico e pós-venda.

Lecar Campo: da curiosidade à decepção

Apesar do caos na apresentação, a picape Campo gerou curiosidade: houve uma “corrida” de jornalistas para ver o protótipo. Mas a empolgação durou pouco. Muitos se decepcionaram ao perceber que o veículo sequer tinha vidros, volante ou interior montado. O estande da empresa, que contou com dezenas de modelos uniformizadas em um cenário mal iluminado, também foi alvo de críticas e comentários bloqueados no Instagram oficial da marca.

A Lecar ainda afirmou que negocia com uma montadora chinesa para viabilizar a produção, mas não revelou nomes nem detalhes. Em momentos anteriores, chegou a dizer que os carros poderiam ser fabricados na China, voltando atrás depois, sem explicações claras.

O veredito: ideia promissora, execução precária

A iniciativa de criar uma montadora brasileira de carros híbridos é, por si só, louvável. O discurso nacionalista e a tentativa de popularizar tecnologias limpas têm apelo. No entanto, a falta de protótipos funcionais, a fragilidade do modelo de negócios, os constantes adiamentos e a falta de transparência colocam em xeque a credibilidade do projeto.

Enquanto gigantes do setor investem bilhões e apresentam soluções concretas, a Lecar ainda não conseguiu sair da fase de promessas e maquetes de isopor. O tempo está passando, e a paciência do mercado também.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM