Maior do mundo? China ergue 400 km² de energia renovável no topo do mundo

Instalação combina solar, eólica e hidrelétrica em alta altitude para abastecer data centers, indústrias e trens de alta velocidade com energia renovável que seja barata e estratégica.

No coração da Ásia, a quase 3 mil metros acima do nível do mar, a China construiu algo sem precedentes: um cinturão de energia renovável de escala continental, painéis solares até onde a vista alcança, turbinas eólicas nas cristas geladas, represas que domam rios de desfiladeiros e linhas de transmissão que carregam a energia limpa por 1.600 km até polos industriais e centros de dados de inteligência artificial. Trata-se do maior e mais ambicioso projeto de energia renovável já realizado na Terra.

A estratégia não é apenas ambiental. É energia como instrumento de poder industrial, tecnológico e geopolítico. A eletricidade barata gerada a partir de sol, vento e água alimenta trens de alta velocidade, fábricas de painéis solares, data centers de IA e reduz a dependência de petróleo, gás e carvão importados, uma prioridade estatal.

Embora ainda queime tanto carvão quanto o resto do planeta somado, a China anunciou no palco da ONU um compromisso: cortar emissões e multiplicar por seis a capacidade renovável. Na prática, isso significa converter uma supremacia industrial em liderança climática.

Enquanto os EUA sob Trump miraram a expansão de combustíveis fósseis, a China ocupou o vácuo, investindo agressivamente em:

  • Solar de alta altitude
  • Eólica de equilíbrio noturno
  • Megabarragens como bateria do sistema
  • Baterias, carros elétricos e silício para o mundo inteiro
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Projeto solar Talatan, em Qinghai — Foto: Atlas Solar Global

O Parque Solar de Talatan, em Qinghai, é hoje o maior do planeta:

  • 412 km² — sete Manhattans cobertos por vidro fotovoltaico
  • 16.930 megawatts de capacidade — energia para todas as casas de Chicago
  • Expansão prevista para área 10× maior que Manhattan até 2028

Na mesma região, somam-se 4.700 MW em eólicas e 7.380 MW em hidrelétricas, formando um sistema de triplo equilíbrio (solar + eólica + hídrica) que permite estabilidade sem depender de térmicas fósseis.

Gerar energia no “teto do mundo” não é simbolismo. É eficiência:

  • Luz solar 40% mais intensa graças ao ar rarefeito
  • Temperaturas baixas aumentam rendimento dos painéis
  • Ventos noturnos compensam a queda solar
  • Tubulação gelada reduz custo de resfriamento de data centers em 40%

Nenhum outro país opera renováveis em altitudes comparáveis.

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Fonte: Imagens de satélite da Planet, julho de 2025. Por Mira Rojanasakul/The New York Times

Em julho, a China anunciou cinco novas barragens no Yarlung Tsangpo, em região fechada à imprensa. Segundo especialistas, pode se tornar o maior projeto hidrelétrico do mundo — algo que gera temor na Índia devido ao risco de restrição hídrica em áreas a jusante.

Qinghai virou polo de indústrias de polissilício, baterias e data centers, que consomem eletricidade renovável a custo até 40% inferior ao carvão. A província planeja multiplicar por 5 sua capacidade de data centers até 2030. O calor dos servidores já é usado para aquecer cidades inteiras no inverno, substituindo caldeiras a carvão.

Dois novos projetos irão usar excedente solar para bombear água a reservatórios elevados, liberando-a à noite — armazenamento por bombeamento, hoje a solução mais barata de “bateria” em larga escala.

Este não é apenas o maior complexo de energia renovável do mundo — é um projeto de poder estatal, que:

  • Reposiciona a China como líder da transição energética global
  • Produz energia para alimentar IA, transporte e indústria interna
  • Controla tecnologias e cadeias produtivas que o Ocidente consome
  • Reduz dependência de fósseis e de importações estratégicas

Enquanto isso, a cada três semanas, a China instala painéis solares equivalentes à usina de Três Gargantas, a maior hidrelétrica da história.

A disputa pelo comando do futuro da energia não é climática. É industrial, tecnológica e geopolítica, e, neste momento, o centro de gravidade desse futuro está a 3 mil metros de altitude, no topo do mundo, sob bandeira chinesa.

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