
Causada pelo psilídeo, doença chamada ‘greening’ avança sobre pomares de SP e MG, reduz produção e mobiliza agricultores
A citricultura brasileira, a maior do mundo, enfrenta uma ameaça crescente e silenciosa: o avanço do greening, doença devastadora transmitida por um inseto minúsculo, o psilídeo asiático dos citros (Diaphorina citri). Concentrado principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, o chamado Cinturão Citrícola já registra impactos significativos na produção de laranjas, levantando alertas no setor agrícola e exigindo mobilização urgente de produtores e autoridades.
O greening, ou huanglongbing (HLB), é considerado atualmente a mais grave doença da citricultura. Causado por bactérias do gênero Candidatus Liberibacter, o patógeno impede que a planta transporte adequadamente nutrientes, levando ao enfraquecimento progressivo da árvore, produção de frutos pequenos, deformados e amargos, e à morte precoce da planta.
⚠️ A doença não tem cura, e uma vez infectada, a árvore precisa ser erradicada para conter a disseminação.
A transmissão ocorre via o psilídeo asiático, um inseto de apenas 3 milímetros que se alimenta da seiva das plantas cítricas. Segundo especialistas do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), uma única árvore contaminada pode infectar dezenas de outras em poucos meses se o vetor não for controlado.
Situação crítica no cinturão citrícola, maior polo de laranja
O cenário é preocupante. De acordo com o levantamento anual do Fundecitrus, 44,3% das árvores do Cinturão Citrícola de SP e MG apresentavam sintomas da doença no último monitoramento — um aumento de 6,3 pontos percentuais em relação a 2023. Em algumas microrregiões, como Limeira (SP), o índice ultrapassa 70% das plantas afetadas.
A região, que responde por cerca de 77% da produção nacional de laranjas, é responsável também por um terço da produção global de suco de laranja concentrado. Portanto, a ameaça vai além das fronteiras brasileiras, afetando mercados internacionais.
“A doença está avançando de forma alarmante, e o controle do vetor é cada vez mais difícil devido à alta densidade populacional do psilídeo e à existência de pomares abandonados”, explica Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus.
Prejuízos bilionários no campo
Os impactos econômicos já são sentidos. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), as perdas causadas pelo greening podem comprometer cerca de 25% da safra atual de laranjas em SP e MG.
A perspectiva é de um encolhimento expressivo da oferta de frutas para a indústria de suco e para o consumo in natura, o que tende a pressionar aumento de preços tanto no mercado interno quanto nas exportações.
“O greening é uma ameaça não apenas à produção, mas à sobrevivência da citricultura brasileira como a conhecemos. Sem um plano coordenado de combate, corremos o risco de ver a redução permanente da área plantada”, alerta Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR.
Medidas de combate e os principais desafios
Diante da gravidade, o controle do greening exige ações contínuas e integradas:
- Monitoramento intensivo dos pomares para identificar focos precocemente.
- Controle químico com inseticidas para reduzir a população do psilídeo.
- Erradicação obrigatória de árvores contaminadas, conforme prevê a legislação sanitária.
- Utilização exclusiva de mudas certificadas e livres da bactéria.
No entanto, os custos elevados dessas medidas — estimados em até R$ 3 mil por hectare por ano — tornam difícil a adesão plena, especialmente entre pequenos e médios produtores. Além disso, pomares abandonados ou mal manejados funcionam como focos de reinfestação.
Outro entrave é o surgimento de psilídeos resistentes a defensivos químicos, o que exige a busca urgente por alternativas sustentáveis, como o controle biológico por predadores naturais.
O que esperar para o futuro?
Para tentar conter o avanço da doença, o Ministério da Agricultura, em parceria com o Fundecitrus e a iniciativa privada, prepara o lançamento de um Programa Nacional de Prevenção e Controle do Greening ainda em 2025. A meta é estabelecer ações regionais coordenadas, inclusive para a fiscalização de pomares abandonados.
Enquanto isso, pesquisadores apostam no desenvolvimento de variedades de laranja mais tolerantes à doença, embora essas soluções genéticas ainda estejam em fase experimental.
“A citricultura brasileira já superou desafios enormes no passado, como a clorose variegada e o cancro cítrico. Com ciência, união e planejamento, também venceremos o greening”, afirma Marcos Fava Neves, professor da FEA-RP/USP e especialista em agronegócio.
Em resumo, o futuro da citricultura brasileira dependerá da capacidade do setor de agir com rapidez, coordenação e inovação frente ao greening. Caso contrário, o maior polo de produção de laranjas do mundo poderá enfrentar um declínio sem precedentes nos próximos anos.
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