Maior usina de cana Colombiana fatura R$ 1,5 bilhão e quer substituir o petróleo

Localizada em Miranda, Cauca, a Incauca se consolida como a maior usina de cana da Colômbia e símbolo da transição energética no país, com foco em sustentabilidade, mecanização e impacto social.

Nos campos de Miranda, no departamento de Cauca, a paisagem é dominada por extensos canaviais que se estendem até o horizonte, formando um verdadeiro mar verde sob o sol tropical. Ali está localizada a Incauca (Ingenio del Cauca S.A.), a maior usina de açúcar da Colômbia e uma das principais referências em inovação e sustentabilidade da América Latina.

Em 2024, a empresa processou 3,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, alcançando a produção de 238 mil toneladas de açúcar, 64,6 milhões de litros de álcool e 337.993 megawatts-hora de energia. O desempenho garantiu à companhia um faturamento de 1,19 trilhão de pesos colombianos, o equivalente a R$ 1,52 bilhão.

Fundada pelo Grupo Ardila Lülle (GAH), um dos maiores conglomerados empresariais da Colômbia, com atuação nos setores de alimentos, mídia, têxtil e esportes — a Incauca vem se transformando rapidamente. Sob a liderança de Roberto Klinger, a empresa passou de uma tradicional produtora de açúcar a uma companhia voltada para energia renovável e valorização integral da cana-de-açúcar.

A estratégia é clara: reduzir a dependência do mercado açucareiro e expandir as fontes de receita a partir do uso total da biomassa. O bagaço, antes considerado um subproduto, tornou-se o centro da operação energética da empresa.

Usina Incauca Foto: Redmas

A usina inaugurou, em 2023, a maior planta de cogeração da Colômbia, com um investimento de 230 bilhões de pesos (aproximadamente R$ 294 milhões). O sistema transforma o bagaço da cana em combustível, produzindo vapor para turbogeradores que geram 120 megawatts de energia elétrica. Parte dessa energia é usada internamente e o excedente é vendido à rede nacional.

Atualmente, a energia responde por 6% a 8% do faturamento total da empresa e representa até 20% do EBITDA, consolidando a Incauca como uma potência energética regional.

A modernização também chegou ao campo. Toda a colheita da Incauca é mecanizada, um marco importante em uma região com alta pluviosidade, onde antes a mecanização era considerada inviável. A empresa é a terceira usina da Colômbia a atingir 100% de colheita mecânica e a única com duas unidades industriais, capazes de processar 20 mil toneladas de cana por dia, produzindo açúcar orgânico e convencional.

Essa transformação tecnológica vem acompanhada de forte investimento em qualificação profissional e inclusão de mulheres no setor. O programa “Mulheres colhendo o futuro” formou 60 operadoras de tratores e colhedoras, promovendo maior diversidade e autonomia nas equipes agrícolas.

A Incauca exerce papel fundamental na economia de Miranda. O município obtém 70% de sua arrecadação em impostos a partir das operações da empresa, e 66% das compras corporativas são realizadas junto a fornecedores locais. Além disso, 75% da cana processada provém de pequenos e médios produtores rurais, incluindo comunidades negras e indígenas do Cauca.

A empresa tem um programa que capacitou 60 mulheres para dirigir tratores. Foto: Incauca

O compromisso social também se manifesta em projetos voltados à juventude, como o Incauca Futebol Clube, que oferece formação esportiva e cidadania para 1.500 crianças em 14 comunidades.

Apesar dos avanços, a empresa enfrenta desafios significativos. O declínio da sacarose nas plantações, provocado por variações climáticas, tem exigido aprimoramentos contínuos nas práticas agronômicas. Além disso, a disputa por terras, a urbanização desordenada e incêndios criminosos pressionam a produção.

No cenário internacional, a Colômbia compete com gigantes como Brasil, América Central e Índia, países que influenciam diretamente o preço global do açúcar. O Brasil, por exemplo, produz 45 milhões de toneladas anuais, contra apenas 2,3 milhões da Colômbia.

Ainda assim, a Incauca vem ampliando suas exportações, com crescimento de 8% nos embarques para mercados como Estados Unidos e Chile, e aposta em produtos de maior valor agregado.

Com uma nova identidade corporativa, “a energia dos colombianos”, a Incauca prepara-se para liderar a transição energética rural da Colômbia. Os planos incluem o desenvolvimento de biogás, hidrogênio verde, bioplásticos e o uso de etanol como combustível limpo para mobilidade.

A diretoria de sustentabilidade reforça que o futuro da empresa está vinculado ao conceito de economia circular, em que nada se perde: a cana-de-açúcar é aproveitada integralmente, desde o caldo até o bagaço, para gerar energia, alimentos e insumos industriais.

Em meio às incertezas climáticas e econômicas, a Incauca se consolida como um símbolo da nova agroindústria latino-americana, que alia produção, inovação e responsabilidade ambiental.

Mais do que uma usina açucareira, a Incauca representa um modelo de integração entre o campo e a energia limpa, provando que a cana-de-açúcar pode mover não apenas a economia, mas também o futuro sustentável de uma nação.

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