
Em 2023, apenas os polos de Parecis e Alto Teles Pires (MT) e Barreiras (BA) responderam por metade da produção nacional. Esse grau de concentração, revelado pela Embrapa, destaca desigualdades territoriais, desafios logísticos e pressões sobre a cadeia produtiva do algodão brasileiro.
O agronegócio brasileiro é um dos grandes pilares da economia nacional, sustentado pela produção em larga escala e pelo protagonismo em commodities como soja, milho, carnes, café e algodão. Porém, apesar da grandiosidade, a distribuição das lavouras e rebanhos pelo país está longe de ser uniforme. Um dado recente da Embrapa Territorial – o SITE-MLog (Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária) – revelou que metade do algodão produzido no Brasil em 2023 veio de apenas três microrregiões: Parecis e Alto Teles Pires, em Mato Grosso, e Barreiras, na Bahia.
Esse cenário mostra a força e a competitividade de polos já consolidados, mas também escancara os riscos de uma concentração tão elevada em poucas áreas. O Brasil, que já é um dos maiores produtores globais da fibra, consolidou em 2023/24 a posição de líder mundial em exportação de algodão, superando os Estados Unidos.
A safra brasileira rendeu cerca de 3,7 milhões de toneladas de algodão beneficiado, das quais 2,7 milhões foram exportadas para países como China, Vietnã, Bangladesh, Paquistão e Turquia. O faturamento ultrapassou os R$ 30 bilhões, reforçando o peso do algodão na balança comercial brasileira.
Produção de algodão nacional e mundial
No Brasil, a cultura do algodão vem apresentando crescimento consistente. Para 2025, a expectativa é de que a safra alcance 3,9 milhões de toneladas, resultado de uma área cultivada em torno de 2,1 milhões de hectares. Apesar da expansão, a produtividade deve registrar leve recuo em relação ao ciclo anterior, reflexo de fatores climáticos.

No panorama mundial, os maiores produtores continuam sendo China e Índia, seguidos pelos Estados Unidos. O diferencial do Brasil está justamente na exportação: enquanto os asiáticos consomem boa parte internamente, o país se tornou referência global em fornecimento de algodão de qualidade, com rastreabilidade e certificações socioambientais, como o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Estima-se que mais de 80% da produção nacional já seja certificada.
As microrregiões que dominam o cenário na produção do algodão brasileiro
Os números da Embrapa mostram que a produção brasileira de algodão é extremamente concentrada em três regiões:
- Parecis (MT)
- Alto Teles Pires (MT)
- Barreiras (BA)
Esses polos reúnem solos férteis, clima adequado, infraestrutura de beneficiamento e logística, além de produtores com forte know-how e capacidade de investimento. Não por acaso, se tornaram centros consolidados de cotonicultura, atraindo indústrias, pesquisa e tecnologia.

Por que a produção é tão concentrada?
A concentração produtiva no algodão é resultado de diversos fatores:
- Exigência de estrutura industrial: a cultura demanda beneficiamento, descaroçamento e armazenagem específicos, elevando os custos e favorecendo regiões já estruturadas.
- Condições climáticas favoráveis: áreas como o Cerrado mato-grossense e baiano apresentam regime de chuvas e insolação adequados.
- Logística: a proximidade a rotas de escoamento e portos fortalece a competitividade.
- Histórico e pesquisa: o fortalecimento da cadeia produtiva local gera efeito de polo, atraindo novos investimentos e tecnologias.
- Escala: a concentração permite diluição de custos e maior eficiência, além de viabilizar certificações e rastreabilidade em larga escala.
Desafios e perspectivas
Apesar da liderança global, o setor algodoeiro brasileiro enfrenta importantes desafios. O primeiro é logístico: boa parte da produção ainda depende de longos trajetos rodoviários até portos como o de Santos (SP), aumentando custos e gargalos. A busca por alternativas, como portos no Nordeste, já está em debate para reduzir a pressão sobre o sistema atual.
Outro ponto crítico são as mudanças climáticas. O algodão é sensível a altas temperaturas, déficit hídrico e excesso de chuvas em momentos específicos do ciclo, o que pode comprometer produtividade e qualidade da fibra. Estratégias como melhoramento genético, zoneamento agrícola e manejo conservacionista vêm sendo cada vez mais adotadas.
Há ainda o desafio da competição com fibras sintéticas, que dominam parte da indústria têxtil global. Para se diferenciar, o algodão brasileiro aposta em atributos como sustentabilidade, rastreabilidade e qualidade superior.
A constatação de que mais de 50% do algodão brasileiro é produzido em apenas três microrregiões mostra não apenas a força de regiões como Parecis, Alto Teles Pires e Barreiras, mas também o risco de dependência de poucos polos.
O Brasil alcançou a liderança mundial na exportação de algodão, sustentado por produção em larga escala, certificações socioambientais e logística eficiente. Porém, manter essa posição exigirá investimentos em infraestrutura, inovação e diversificação regional, garantindo que a expansão ocorra de forma sustentável e equilibrada, sem comprometer a competitividade global da fibra brasileira.
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