
Paralisação de mineradores e camponeses impede transporte de leite cru e ameaça desabastecimento de laticínios. Situação lembra crise vivida pelo Brasil em 2018.
Mais de 500 mil litros de leite estão em risco de serem desperdiçados na Colômbia devido aos bloqueios provocados por um paro (greve) iniciado recentemente por grupos mineradores e agricultores no departamento de Boyacá, uma das principais regiões leiteiras do país.
A greve resultou em interdições nas principais vias da região, impedindo que caminhões coletores transportem o leite cru para as usinas de processamento localizadas em Cundinamarca e outras regiões. A situação preocupa seriamente o setor lácteo colombiano, principalmente por se tratar de um produto altamente perecível.
Segundo a presidente executiva da Asoleche (Associação Colombiana de Processadores de Leite), Ana María Gómez Montes, é urgente que se permita o trânsito dos caminhões de leite, tanto cru quanto processado.
“Desde a Asoleche fazemos um chamado urgente para garantir a livre mobilidade das pessoas e também de produtos básicos da cesta familiar, como o leite — um alimento essencial para a nutrição e a segurança alimentar do país”, declarou Gómez Montes.
Tanques lotados e perdas iminentes
Com os tanques de resfriamento nas áreas de coleta já operando no limite, a impossibilidade de escoamento compromete o leite ordenhado nas tardes seguintes e nos próximos dias, agravando ainda mais a crise. Além de prejuízos milionários, o bloqueio pode gerar desabastecimento de laticínios em várias regiões da Colômbia, afetando também o consumidor final.
Além disso, muitas famílias camponesas que dependem exclusivamente da produção de leite como fonte de renda estão sendo diretamente afetadas, aumentando a tensão social na região.
Boyacá é responsável por aproximadamente 700 mil litros de leite cru por dia. Caso esse volume não seja recolhido e processado a tempo, as indústrias terão de recorrer a estoques ou buscar suprimento em outras regiões, o que pode trazer desequilíbrios para a economia local e aumentar os custos logísticos da cadeia.
A Asoleche reforça a necessidade de diálogo entre manifestantes e autoridades, mas pede que, durante as negociações, seja garantida a passagem dos veículos de transporte de leite para evitar um dano ainda maior à cadeia produtiva.
“Evitar que a leite se perca nas estradas é proteger o trabalho dos produtores camponeses e assegurar o abastecimento de um alimento vital para milhões de colombianos”, concluiu a executiva.
E se o bloqueio fosse no Brasil? Um alerta para o setor
Se uma situação semelhante ocorresse em uma das principais bacias leiteiras do Brasil — como o Sudoeste Mineiro, a Zona da Mata ou o Oeste Catarinense — os impactos seriam tão graves quanto os que a Colômbia enfrenta agora.
O leite cru brasileiro também depende da coleta diária e do transporte imediato para as indústrias, sem o qual a produção precisa ser descartada por falta de refrigeração, gerando:
- Perda imediata da produção;
- Comprometimento da renda de pequenos produtores;
- Paralisação da indústria de laticínios, que ficaria sem insumo para produtos como queijos, leite UHT e iogurtes;
- Alta de preços ao consumidor final, impulsionada pela escassez.
Um episódio semelhante já foi registrado no Brasil durante a greve dos caminhoneiros de 2018, quando, em menos de 48 horas, mais de 300 milhões de litros de leite foram perdidos, segundo a Embrapa. O evento escancarou a fragilidade logística da cadeia láctea brasileira e reforçou a necessidade de planos emergenciais e negociação proativa com o governo.
Colômbia ainda sem solução: risco de colapso na cadeia láctea
Até o momento, não há previsão para o fim dos bloqueios em Boyacá. As lideranças do movimento grevista seguem negociando com o governo nacional, com reivindicações que envolvem infraestrutura, legalização de atividades extrativistas e melhoria nas condições de vida das comunidades rurais.
Caso o impasse continue:
- O volume total de leite perdido pode ultrapassar 1 milhão de litros;
- Indústrias poderão suspender contratos com produtores, agravando a crise no campo;
- Consumidores poderão enfrentar escassez nas prateleiras, especialmente em centros urbanos como Bogotá e Medellín;
- Os preços dos derivados lácteos devem disparar, pressionando a inflação alimentar.
A Asoleche segue pressionando por uma solução urgente e alerta que a situação pode se agravar nos próximos dias, colocando em xeque toda a cadeia produtiva do leite na Colômbia e servindo de alerta para países como o Brasil, que enfrentam desafios semelhantes de logística e dependência de transporte rodoviário.
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