Manta caprina e ovina é patrimônio cultural imaterial

Câmara de Petrolina aprova projeto que torna a manta caprina e ovina patrimônio cultural imaterial do município.

Em sessão realizada no dia 11 de abril, os vereadores da Câmara Municipal de Petrolina votaram o Projeto de Lei 135/2018, que declara a manta caprina e ovina como patrimônio cultural imaterial da cidade. Por unanimidade, os parlamentares aprovaram a proposta, que agora segue para sanção do prefeito.

A manta consiste em uma técnica de corte, salga e secagem da carcaça dos animais, amadurecida há várias gerações, que resulta em uma carne macia e quase integralmente desossada. Por sua importância, e por ser um dos produtos mais emblemáticos da gastronomia e do comércio da região, um grupo interinstitucional de trabalho, liderado pela Embrapa Semiárido, articulou junto aos parlamentares a proposta para oficializar o produto como patrimônio do município.

Durante a sessão de votação, os parlamentares destacaram que este reconhecimento é um passo importante no desenvolvimento da cadeia produtiva de Petrolina, sendo capaz de aumentar a produtividade e gerar renda, além de fortalecer o comércio, a gastronomia e o turismo da região.

Desenvolvimento – De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal de 2017, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a soma dos rebanhos de ovinos e caprinos de Petrolina totaliza cerca de 412 mil cabeças, sendo 172 mil (41,7%) de bodes e cabras e 240 mil (58,3%) de carneiros e ovelhas. A cidade ainda é um dos principais centros consumidores dessas carnes no país.

Além do consumo da manta assada na brasa – o tradicional “bode assado” – servido em diversos restaurantes da cidade, essa carne também é comercializada em feiras livres, supermercados e açougues. De acordo com Tadeu Voltolini, pesquisador da Embrapa Semiárido, a proposta valoriza o produto local e é capaz de beneficiar fornecedores de insumos, produtores rurais, abatedouros, processadores e distribuidores, casas de carne e outros.

“O projeto movimenta toda uma cadeia produtiva e favorece também o turismo. O visitante vem para a cidade, sabe que aqui tem uma carne de qualidade, vai querer provar e compartilhar essa experiência com outros possíveis visitantes. A manta acaba se tornando um instrumento de desenvolvimento regional”, avalia.

Benedito da Silva, criador de ovinos do distrito de Caroá, em Petrolina, acredita que um dos pontos positivos da proposta é o aumento na produção da manta para atender às demandas do mercado local. “Isso vai gerar uma expectativa do consumidor em querer experimentar o produto, pela qualidade e agora por ser um patrimônio da cidade. Consequentemente vamos precisar produzir mais e comercializar uma quantidade maior da manta”, comenta.

Segundo Tadeu Voltolini, 12% da população brasileira não conhece a carne ovina e a divulgação de produtos diferenciados, a exemplo da manta, deve agregar ainda mais valor à carne e contribuir para o aumento do seu consumo. “A partir de agora é importante o apoio às ações de fortalecimento da manta. Quanto mais nós trabalharmos essa marca, mais benefícios o município vai ter”, destaca.

Para a vereadora Maria Helena de Alencar, uma das autoras do projeto, o próximo passo é articular junto a lideranças políticas as isenções para que o transporte da mercadoria possa ser liberado para outros destinos no Brasil. “Já temos a liberação municipal, agora partirmos para buscar resolver a questão junto ao Estado e à Federação”, salienta.

Parcerias – O pesquisador Tadeu Voltolini destaca que o grupo de trabalho deve desenvolver novas ações para divulgar e fortalecer a marca. “O projeto continua com discussões de novas propostas e atividades para otimizar outras questões, a fim de que se desenvolva um produto diferenciado”, reforça.

Outra ação a ser estudada sobre a manta de Petrolina é o planejamento para a defesa do registro de indicação geográfica, para que o produto possa ganhar uma espécie de selo de qualidade e exclusividade. “O que propomos é criar um produto diferenciado, assim como acontece com a cachaça de Salinas e o queijo da Serra da Canastra, por exemplo”, destaca Tadeu.

No grupo de trabalho, estão envolvidos representantes da Embrapa Semiárido, Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (ADAGRO-PE), Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Vigilância Sanitária, associações de criadores, técnicos e produtores locais.

Patrimônio – Um patrimônio cultural representa o conjunto de bens materiais e práticas culturais que se destacam no ambiente e nas manifestações populares. Ele pode ser considerado como tangível ou material – quando se refere a objetos concretos –, ou intangível ou imaterial – quando se refere aos conhecimentos, às técnicas, ao saber fazer, às manifestações culturais, às representações e histórias populares e aos usos e costumes de um povo. O patrimônio cultural inclui tudo aquilo que as pessoas consideram ser mais importante, mais representativo da sua identidade, da sua história ou da sua cultura.

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