O sucesso do ganho genético não está apenas na seleção, mas na disciplina. Perder prazos de programas como ANCP ou Geneplus significa excluir animais das avaliações e deixar dinheiro na mesa
Para o pecuarista que investe em melhoramento genético, o ano de 2026 não começa em 1º de janeiro. Ele começa agora, no rigoroso alinhamento entre o manejo no pasto e os prazos enviados ao computador. De nada adianta ter a melhor genética se os dados chegam atrasados, incompletos ou fora da janela correta. O sucesso de um programa de seleção não é medido apenas pela quantidade de animais avaliados, mas pela organização implacável das etapas que sustentam o processo.
A pecuária de precisão opera em ciclos rigorosos. Instituições renomadas, como a ANCP e a Embrapa Geneplus, dependem de um fluxo constante de dados para gerar as DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie) que guiam o mercado. Muitos criadores, no entanto, ainda tropeçam no básico: perdem a data de envio de pesagens, confundem os grupos de manejo ou não alinham sua rotina aos cronogramas dos programas. Siga a leitura e acompanhe o Compre Rural, aqui você encontra informação de qualidade para fortalecer o campo.
A consequência é severa e direta: informações valiosas são descartadas, animais promissores ficam “no escuro” (excluídos das análises) e o progresso genético da fazenda, que deveria ser constante, estagna. Compreender o calendário anual dos programas de melhoramento não é burocracia; é o pilar central da lucratividade futura.
Por que o Calendário é o Eixo Estratégico do Melhoramento?
O calendário de um programa de melhoramento genético tem duas funções vitais que se complementam: uma técnica e uma estratégica.
A Função Técnica (A Bússola): O calendário assegura a consistência dos dados. Ao exigir que as pesagens (desmama, sobreano) ou medições (CE, carcaça) sejam feitas em janelas de idade específicas, os programas garantem que os animais possam ser comparados de forma justa. É o que permite que um touro avaliado no Mato Grosso possa ser comparado a um em São Paulo. O rigor técnico é o que dá confiabilidade às DEPs.
A Função Estratégica (O Mapa): Para o gestor da fazenda, o calendário é uma ferramenta de planejamento produtivo. Ele dita quando os animais devem ser apartados, quando a ultrassonografia deve ser agendada e, crucialmente, quando o criador terá as DEPs atualizadas em mãos. Respeitar o cronograma significa ter os animais incluídos nos “sumários” mais recentes, aumentando seu valor comercial e permitindo decisões de acasalamento mais rápidas.
Ignorar esses prazos é, literalmente, invalidar o investimento feito.
A Tecnologia Como Aliada da Disciplina

Garantir a precisão dos dados enviados nos prazos corretos seria impossível em larga escala sem a tecnologia adequada. A coleta manual de dados está sujeita a erros humanos e ao estresse animal, que pode mascarar o potencial genético.
Aqui entram as ferramentas de precisão. Cochos eletrônicos, por exemplo, são essenciais para medir o consumo individual de alimento, permitindo o cálculo da Eficiência Alimentar (CAR) – uma das características mais buscadas atualmente. Balanças de pesagem voluntária, integradas aos bebedouros, capturam o peso do animal diversas vezes ao dia, sem manejo, gerando uma curva de ganho de peso muito mais precisa.
Esses sistemas automatizados não apenas aumentam a qualidade da informação, mas também facilitam a logística, enviando dados processados em tempo real. Isso garante que, ao final de uma prova de eficiência, os dados estejam auditados e prontos para envio imediato aos programas, fortalecendo a acurácia das DEPs.
Decodificando 2026: A “Engrenagem” dos Principais Programas
O Brasil conta com programas de melhoramento robustos, que transformam dados de campo em inteligência genética. O objetivo deles é claro: identificar cientificamente quais animais são geneticamente superiores para transmitir características desejáveis (produtividade, fertilidade, eficiência) aos seus descendentes.
Para o criador de Nelore P.O focado em eficiência, dois programas são referências centrais:
ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores): Um dos programas mais consolidados do país, a ANCP tem como missão impulsionar a produtividade da pecuária de corte, conectando o criador ao consumidor final através de avaliações genéticas confiáveis.
Embrapa Geneplus: Uma parceria público-privada que alia a pesquisa de ponta da Embrapa à consultoria de campo da Geneplus. Seu foco é a aplicação de ciência e tecnologia para uma seleção equilibrada, com forte ênfase na assistência técnica direta ao produtor.
Para planejar 2026, o pecuarista deve “encaixar” seu manejo no calendário específico do programa que utiliza.
Exemplo de Planejamento 1: O Ritmo da ANCP (Programa Nelore)
A ANCP atualiza suas avaliações genéticas seis vezes por ano. Perder uma data de envio significa esperar dois meses pela próxima “fotografia” genética do seu rebanho.
- Os Cronogramas de Pesagem (Os “Trilhos” da Coleta): O criador deve escolher um dos três cronogramas de pesagem e segui-lo rigorosamente:
Cronograma 1: Pesagens em Janeiro, Abril, Julho e Outubro.
Cronograma 2: Pesagens em Fevereiro, Maio, Agosto e Novembro.
Cronograma 3 (Comercial/PMGC): Focado em 4 pesagens-chave (ex: 120 dias, 210 dias, 365 dias e 450 dias), com janelas de intervalo definidas.
Nota: O Perímetro Escrotal (CE) deve ser medido entre 9 e 18 meses. As avaliações de carcaça por ultrassonografia (AOL, EGS) possuem sua própria janela (entre 330 e 640 dias de idade).
Datas-Limite de Envio (O Prazo Final):
Para que os dados coletados entrem na próxima avaliação, eles devem ser enviados até: Data Limite para Envio de Dados Mês de Liberação da Avaliação 15 de Fevereiro Abril 15 de Abril Junho 15 de Junho Agosto 15 de Agosto Outubro 15 de Outubro Dezembro 30 de Novembro Fevereiro (do ano seguinte)
Exemplo de Planejamento 2: A Precisão da Embrapa Geneplus (Nelore)
O Geneplus atualiza as avaliações da raça Nelore quatro vezes por ano. Um ponto crítico aqui é o alinhamento com os laboratórios de genotipagem.
- Datas-Limite de Envio de Dados (Fenótipos):
O fluxo de dados de desempenho (pesos, medidas) segue este cronograma:
Data Limite para Envio de Dados – Mês de Liberação da Avaliação
Janeiro – Abril
Março – Julho
Junho – Outubro
Setembro – Janeiro (do ano seguinte)
- Datas-Limite para Genotipagem (Genótipos):
Para que a informação genômica seja usada na avaliação, as amostras (pelo, sangue, etc.) precisam chegar ao laboratório de genotipagem com antecedência:
- Para a avaliação de Janeiro: Amostras devem chegar até 12 de Setembro (do ano anterior).
- Para a avaliação de Abril: Amostras devem chegar até 19 de Janeiro.
- Para a avaliação de Julho: Amostras devem chegar até 19 de Março.
- Para a avaliação de Outubro: Amostras devem chegar até 25 de Junho.
O “Funil” da Eficiência Alimentar
Um dos dados mais complexos e valiosos é o de Eficiência Alimentar (consumo individual). Esses dados, geralmente coletados por tecnologias como cochos eletrônicos, têm regras rígidas para serem aceitos:
- Grupos Contemporâneos: Os animais em prova devem ser da mesma raça, sexo, ter no máximo 90 dias de diferença de idade e variação de peso inicial de até 20%.
- Idade: A prova deve iniciar após os 8 meses de idade (mínimo 2 meses pós-desmama) e finalizar antes dos 24 meses.
- Auditoria: Os dados brutos devem ser auditados por profissionais qualificados antes do envio.
O ideal é enviar esses dados imediatamente após o término da prova, para que sejam incorporados no próximo ciclo de avaliação disponível (seguindo os calendários de envio da ANCP ou Geneplus).
Integrando o Calendário à Gestão
O calendário dos programas de melhoramento não pode ser um pôster na parede do escritório. Ele deve ser a espinha dorsal do planejamento de manejo da fazenda.
Integrar essas etapas significa que as datas de desmame, apartação, protocolos de IATF e agendamento de técnicos de ultrassom são decididas olhando para os prazos de envio de dados.
Em 2026, o pecuarista de ponta não será apenas um bom selecionador de animais; ele será um excelente gestor de informações. A organização, a consistência e o alinhamento com os programas de melhoramento são os fatores que definem o ritmo do progresso genético e, consequentemente, o retorno econômico do investimento em seleção.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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