Menos calor, mais leite: tecnologia australiana “cria” vacas à prova de calor

Índice pioneiro permite selecionar vacas leiteiras com maior tolerância ao estresse térmico e promete ganhos em bem-estar e produtividade de leite

Em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais severas, a Austrália tem se destacado na adoção de soluções inovadoras para enfrentar o impacto do calor extremo na pecuária leiteira. Cientistas do país desenvolveram um índice genético inédito no mundo, o Heat Tolerance Australian Breeding Value (ABV), que permite identificar e selecionar vacas com maior tolerância ao estresse térmico, um dos principais desafios enfrentados pela cadeia do leite em regiões tropicais e subtropicais.

O índice foi criado pelo cientista Thuy Nguyen, de Melbourne, e já está sendo utilizado por produtores de leite australianos com resultados promissores. O mecanismo analisa uma amostra de DNA do animal – como um tufo de pelos – e atribui uma pontuação com base em sua resistência ao calor, tendo como referência a marca de 100 pontos. Animais com pontuação acima dessa média demonstram maior capacidade de lidar com ambientes quentes e úmidos sem perda significativa de desempenho.

De acordo com a Dairy Australia, entidade nacional do setor, o estresse térmico pode reduzir a produção de leite em até 40%, uma consequência direta da queda no apetite dos animais em dias mais quentes. “Muitas vezes, vacas superaquecidas deixam de comer ou reduzem drasticamente o consumo, o que afeta diretamente a produtividade”, explica Stephanie Bullen, líder nacional de saúde e bem-estar animal da Dairy Australia.

Segundo ela, o ABV não apenas protege a produtividade das vacas, mas também contribui para o bem-estar animal, à medida que reduz os impactos fisiológicos causados pelas altas temperaturas.

Um dos primeiros a implementar o ABV foi o produtor de leite Trevor Parrish, em Nova Gales do Sul. Segundo ele, cerca de 20% de seu rebanho já apresenta resiliência genética superior ao calor, graças ao uso do índice na seleção e cruzamento dos animais.

“A ferramenta tem sido essencial para garantir a continuidade da produção em períodos críticos do verão”, afirmou Parrish em entrevista à ABC (Australian Broadcasting Corporation), veículo que divulgou a inovação nesta semana.

O uso do índice genético traz vantagens expressivas para os pecuaristas, entre elas:

  • Aumento da produção de leite, mesmo em ambientes com temperaturas elevadas;
  • Redução de custos com sistemas de mitigação de calor, como ventiladores e aspersores;
  • Melhor bem-estar animal, promovendo longevidade e menor incidência de doenças associadas ao estresse térmico.

Com os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais presentes, a criação de vacas adaptadas ao calor deve se tornar uma estratégia essencial para a sustentabilidade da pecuária leiteira mundial. O ABV representa um avanço significativo ao integrar tecnologia, genética e bem-estar animal em uma única solução, colocando a Austrália na vanguarda da inovação no setor.

Além de contribuir diretamente para a resiliência da produção de leite, a ferramenta reforça o papel da ciência na construção de um agronegócio mais adaptado e eficiente frente aos novos desafios do clima.

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