Mercado da reposição tem cenário positivo para invernistas e terminadores, mas até quando?

Mercado da reposição registra melhora na relação de troca, insumos mais baratos e valorização da arroba, mas ciclo pecuário exige cautela

O mercado de reposição bovina vive, neste início de maio de 2025, um momento de aparente alívio para invernistas e terminadores. Os preços da arroba do boi gordo seguem em patamares valorizados, enquanto o bezerro apresenta estabilidade, tornando a relação de troca mais atrativa para quem precisa repor animais. Além disso, o custo de produção vem caindo, especialmente com a retração no preço do milho, contribuindo para uma margem mais confortável na engorda.

No entanto, especialistas alertam que esse cenário favorável pode ser passageiro diante das incertezas do ciclo pecuário e dos fatores climáticos.

Preços atualizados: arroba valorizada e bezerro estável

De acordo com o Cepea, o bezerro Nelore em Mato Grosso do Sul foi cotado, na média de março de 2025, a R$ 2.661,50 por cabeça, representando uma alta de 28,8% em relação a março de 2024. Apesar da valorização em relação ao ano anterior, os preços têm mostrado estabilidade nos últimos meses, sem novas altas expressivas.

Já a arroba do boi gordo em São Paulo está cotada, em maio de 2025, a cerca de R$ 318,85, após meses de recuperação iniciada no segundo semestre de 2024. Esse nível de preços cria um diferencial importante, principalmente para terminadores que compraram reposição ainda no ciclo de baixa, e agora têm margem positiva para abate.

Relação de troca melhora e favorece a reposição

A relação de troca, que mede quantos bezerros podem ser comprados com a venda de um boi gordo de 20 arrobas, chegou a 2,33 em março de 2025, segundo o Farmnews. Trata-se da melhor relação para o mês desde 2021 e interrompe dois anos de queda no indicador. Esse avanço evidencia que invernistas e confinadores conseguiram recuperar poder de compra, principalmente nas regiões onde o preço da arroba valorizou com mais força.

No entanto, o alerta vem justamente da valorização do bezerro. Segundo analistas, caso os preços da reposição retomem um movimento de alta mais agressivo — como já ocorreu em ciclos anteriores — os custos para entrada de novos lotes podem voltar a pressionar margens.

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Foto: Nelore MT

Custos em queda trazem alívio temporário

Outro fator que sustenta o otimismo no curto prazo é a redução dos custos de produção, em especial os relacionados à alimentação. O preço do milho, insumo essencial na dieta de bovinos em confinamento, tem apresentado tendência de baixa no mercado interno e externo. Projeções da Band Agro indicam que o cereal deverá seguir mais barato ao longo do ano, devido à boa expectativa para a safra 2025 e à pressão internacional dos estoques.

Com isso, confinadores e terminadores estão conseguindo melhorar a eficiência econômica da operação, mesmo diante da manutenção de custos fixos elevados e do peso da taxa de juros. A expectativa é de que os custos por arroba produzida fiquem abaixo dos R$ 270 em sistemas bem manejados.

Condições climáticas contribuem com o manejo

A previsão para o mês de maio, conforme dados do Inmet e do Canal Rural, aponta para condições climáticas majoritariamente favoráveis à pecuária. O fim do fenômeno El Niño e a transição para uma neutralidade térmica garantem maior previsibilidade do regime de chuvas, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste.

Com isso, há melhor qualidade das pastagens e redução da pressão de venda por falta de capim — o que, em ciclos anteriores, forçou a saída precoce de animais. O bom momento climático também favorece a retenção estratégica de bezerros, o que pode afetar a disponibilidade de reposição no segundo semestre.

Mas até quando o cenário segue favorável?

A principal dúvida que ronda os pecuaristas é sobre a duração deste momento positivo. Historicamente, o mercado de reposição é cíclico e responde com atraso às oscilações do boi gordo. Analistas alertam que a possível retomada da retenção de fêmeas pode reduzir a oferta de bezerros nos próximos anos, impulsionando os preços da reposição e alterando novamente a relação de troca.

Além disso, há o risco de queda nas exportações de carne bovina em função de mudanças nos mercados asiáticos e variações cambiais. Uma retração na demanda externa poderia pressionar o preço da arroba e, por consequência, reduzir as margens da terminação.

Considerações finais

O momento é positivo para quem atua nas fases finais da cadeia, especialmente aqueles que conseguiram se posicionar bem durante o ciclo de baixa. A relação de troca mais favorável, o alívio nos custos e o clima colaborando com as pastagens oferecem uma janela de oportunidade.

No entanto, o mercado exige atenção. O ciclo pecuário está em transição, e o bom resultado atual pode não se repetir no segundo semestre ou em 2026. Para os pecuaristas, o recado é claro: aproveitar o momento com planejamento, gestão eficiente e uso de ferramentas de proteção de preço.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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