
Queda no consumo interno, exportações ameaçadas e oferta de confinados criam ambiente de incerteza no mercado do boi gordo e negociação travada no setor pecuário
O mercado físico do boi gordo vive um momento de forte volatilidade e indefinição, pressionado por uma série de fatores internos e externos que dificultam os negócios em pleno mês de julho. A combinação entre oferta confortável de animais terminados, baixo ritmo de escoamento de carne bovina no varejo, ameaça de nova tarifa dos Estados Unidos e concorrência com proteínas mais baratas, como a carne de frango, tem travado as negociações em várias praças do país.
Segundo analistas da Safras & Mercado, Scot Consultoria e Agrifatto, o ambiente atual é de pressão baixista sobre os preços da arroba do boi gordo, ainda que em algumas regiões o ritmo de queda tenha perdido força. A situação é agravada pelo cenário internacional, com os EUA prestes a impor um adicional tarifário de 50% sobre a carne bovina brasileira a partir de 1º de agosto, medida que já provocou reações por parte da indústria exportadora.
Oferta confortável pressiona mercado do boi gordo
De acordo com Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, os frigoríficos seguem com escalas de abate relativamente confortáveis, principalmente devido à entrada expressiva de animais confinados e à boa oferta de fêmeas no Norte do país. Isso tem permitido que a indústria pressione os preços para baixo nas compras no mercado físico.
As escalas de abate em São Paulo, por exemplo, atendem, em média, a nove dias úteis, o que diminui a urgência de compras no curto prazo.
Cotações da arroba do boi gordo em 23/07/2025
As cotações da arroba seguem com movimentos mistos, entre estabilidade e leves quedas. Veja os números:
Segundo a Scot Consultoria e Agrifatto (SP):
- Boi comum (sem padrão exportação): R$ 290/@
- Boi-China (perfil exportador): R$ 300/@
- Boi gordo comum (à vista): R$ 297/@
- Vaca gorda: R$ 270/@
- Novilha gorda: R$ 282/@ (queda de R$ 1/@)
Segundo Safras & Mercado (outras praças):
- São Paulo: R$ 293,07 (ontem: R$ 294,37)
- Goiás: R$ 276,14 (ontem: R$ 276,21)
- Minas Gerais: R$ 282,35 (ontem: R$ 281,76)
- Mato Grosso do Sul: R$ 295,68 (ontem: R$ 295,80)
- Mato Grosso: R$ 293,73 (ontem: R$ 294,04)
Quatro regiões monitoradas pela Agrifatto registraram desvalorização da arroba: Bahia, Espírito Santo, Pará e Tocantins. Nas demais 13 regiões, os preços permaneceram estáveis.
Exportação travada com ameaça dos EUA
Desde o anúncio da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre a carne brasileira, feito em 9 de julho, o mercado tem operado com grande instabilidade. A medida, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, já causa impactos na operação das indústrias exportadoras.
Segundo a Agrifatto, muitos frigoríficos suspenderam temporariamente as compras de bois com perfil de exportação para os EUA, adotando postura cautelosa diante da incerteza. Algumas plantas estão se abastecendo com animais de confinamento próprio ou de contratos de parceria, o que reduz o poder de barganha dos pecuaristas e reforça a tendência de baixa.
Varejo lento e frango mais competitivo
O mercado atacadista de carne bovina segue com preços acomodados e sinaliza para possível queda adicional no curtíssimo prazo. Isso ocorre devido à reposição lenta entre atacado e varejo, típica da segunda quinzena do mês.
Além disso, a carne de frango continua muito mais competitiva do que as demais proteínas, o que prejudica ainda mais o escoamento da carne bovina nos mercados interno e externo.
- Quarto dianteiro e ponta de agulha: seguem cotados a R$ 17,50/kg
Câmbio e futuros: leve alívio, mas cautela persiste
O dólar comercial encerrou o dia em queda de 0,79%, cotado a R$ 5,5227 para venda. A desvalorização da moeda americana poderia favorecer as exportações, não fosse a barreira tarifária imposta pelos EUA, que neutraliza esse efeito positivo no curto prazo.
No mercado futuro, o contrato de boi gordo com vencimento em julho/25 teve alta de 0,58% na terça-feira (22), encerrando o dia em R$ 297/@, sinalizando cautela, mas ainda sem fôlego para retomada firme dos preços.
Panorama final
O setor pecuário atravessa uma fase de incerteza, marcada por:
- Negociações travadas em boa parte das praças
- Estabilidade ou recuo discreto das cotações da arroba
- Pressão das escalas confortáveis e dos confinados
- Exportações ameaçadas por nova tarifa dos EUA
- Mercado interno lento, com concorrência do frango
A expectativa do mercado do boi gordo é por uma reacomodação nas próximas semanas, que dependerá do desfecho das políticas comerciais internacionais e do comportamento da demanda interna.
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