Possibilidade de agregar valor ao grão e estreitar a conexão com o consumidor final leva cafeicultores a investirem neste segmento.
A crescente demanda por cafés de alta qualidade e com perfis sensoriais únicos tem levado muitos produtores a deixarem de vender apenas o grão verde para investir na microtorrefação. Em Minas Gerais, de janeiro a agosto deste ano, dados da Receita Federal indicam a abertura de quase 50 negócios com a classificação (CNAE) “torrefação e moagem de café”, representando um aumento de 48% em relação a igual período de 2024. O estado reúne 863 negócios neste segmento (dados até outubro/25), entre microempresas (728) e empresas de pequeno porte (135).
Uma microtorrefação se concentra em torras artesanais de café em pequena escala (microlotes de, no máximo, 30 sacas), envasados em grão ou moído, em pacotes de 200g a 3kg. Este método permite maior controle sobre o processo de torrefação para realçar as características de cada grão. Além dos aspectos técnicos, produtores que investem em marcas próprias somam um valor emocional aos cafés.
“O café não é mais uma commodity, ele tem uma história. E na microtorrefação, o movimento para construir esse storytelling é muito forte”, afirma o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Celírio Inácio. Além de valorizar a Indicação Geográfica (IG), que reconhece o terroir da região ao avaliar a combinação de fatores naturais (clima, solo, altitude e relevo) e humanos (práticas de cultivo) que influenciam o sabor e a qualidade do grão em uma região específica, a microtorrefação evidencia histórias por trás da produção e estabelece uma conexão emocional entre o produtor, a marca e o consumidor.
Do pé à xícara
Os consumidores de cafés vendidos por microtorrefações buscam conhecimento sobre os grãos especiais, que devem apresentar aspectos como rastreabilidade (origem do café), sustentabilidade e notas sensoriais. “E para além destes requisitos, os empreendedores que atuam na microtorrefação devem ter conhecimento sobre torra, maquinário e paladar. Por isso, é importante o investimento também em capacitação”, frisa Inácio.
Ilma Rosa Franco, de 69 anos, investe no segmento de microtorrefação há oito anos. “Percebi que poderia ser um bom negócio, porque muitas pessoas pediam para eu torrar o café. Consegui agregar uma média de 50% de valor ao produto, e ter controle total sobre a qualidade do café, do plantio à xícara”, explica.
Drones estão redesenhando a agricultura mundial
A venda do Café Rosa Franco é feita pelo WhatsApp, Instagram e em cafeterias. Filha da quinta geração de cafeicultores, ela está à frente do Sítio Terra Nova, localizado na cidade de Campestre, no Sul do estado. Na propriedade de 68 hectares, ela produz 600 sacas, anualmente, e comercializa 120 como café especial, com pontuação acima de 80 – para um café ser considerado especial, ele deve obter uma pontuação acima de 80 pontos em uma escala de 0 a 100, segundo os protocolos da Specialty Coffee Association (SCA).
“Meu sucesso é resultado de muita capacitação. O Sebrae Minas é grande parceiro em diversos cursos, como o de torra, que abriu novos horizontes e fortaleceu a nossa conexão com a Região Vulcânica”, diz. A produtora integra o espaço Village Sebrae, durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, onde pequenas torrefações apresentam seus produtos, compartilham suas histórias e mostram o potencial dos empreendedores mineiros.
O terroir da região é apontado pelo analista do Sebrae Minas, Ivan Figueiredo, como um dos fatores que estimulam os produtores a investirem na microtorrefação. “Em um concurso recente, registramos cafés produzidos na Região Vulcânica com pontuação acima de 90. Isso motiva os cafeicultores a investirem na torra com o mesmo cuidado que têm com o plantio e o café no pé. Os cafeicultores buscam nuances sensoriais específicas, deixando o café com o sabor que realmente desejam levar para o consumidor final”, diz.
VEJA TAMBÉM:
- Fachin vota para derrubar benefício fiscal que reduz 60% do ICMS de defensivo
- Agropalma retoma produção de biodiesel, após 15 anos, com nova usina em Belém
- PR retirará carne de ave cozida do regime de substituição tributária
ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.