Milho transgênico totalmente desenvolvido no Brasil é lançado

Parceria Público-Privada apresentam cultivar de milho transgênico com alta eficácia contra a considerada principal praga da cultura, a lagarta-do-cartucho

A Embrapa e a Helix, empresa do grupo Agroceres, apresentaram, no último dia 22 de novembro em Patos de Minas-MG, cultivares com o evento transgênico de milho BTMAX, proveniente de um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) com alta eficácia contra as pragas Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho, considerada a principal praga da cultura do milho) e Diatraea saccharalis (broca-da-cana). O evento transgênico BTMAX é resultado de parceria público-privada 100% nacional entre a Embrapa e a Helix e foi aprovado por unanimidade pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) em junho de 2022.

Com resultados em laboratório e de campo conduzidos em regiões relevantes para o agronegócio do milho no Brasil, “o BTMAX foi tão eficiente quanto a melhor tecnologia existente no mercado e não apresentou nenhum dano em folhas ou no cartucho da planta, mesmo em regiões com alta pressão da lagarta-do-cartucho, como foi o caso de Rondonópolis, no estado de Mato Grosso, que talvez tenha sido o mais impactante para a tomada de decisão da equipe”, explica Cesar Moisés Camilo, pesquisador da Helix.

Ainda segundo o pesquisador, mesmo com a diluição da folha do milho BTMAX em dieta artificial de 25 vezes, 70% das lagartas estavam mortas em sete dias. Ao final de 14 dias, o BTMAX eliminou 99% das lagartas, sendo que 1% restante não completou o ciclo, “um ponto muito importante para o manejo de resistência da proteína”, reforça o pesquisador da Helix. “O milho BTMAX não apresenta resistência cruzada com as proteínas presentes em eventos comerciais que já apresentam quebra de resistência“, reitera Cesar Camilo.

“O BTMAX se apresenta como um produto potente em campo, com alta expressão, e representa um novo modo de ação e uma nova tecnologia. Por isso, a tecnologia é tão disruptiva” – ressaltou Cesar.

Embrapa e Helix apresentam milho transgênico totalmente desenvolvido no Brasil
Foto: Guilherme Viana

Urbano Ribeiral Júnior, diretor financeiro do grupo Agroceres, reforça o mesmo ponto de vista em relação ao ineditismo da tecnologia. “É um processo feito de forma extenuante pelas empresas concorrentes e você precisa identificar algo inédito, que os outros ainda não tenham feito”, diz.

Segundo Urbano, outra explicação decisiva em relação ao desempenho do evento encontra resposta na própria biodiversidade brasileira. “Com os resultados desta parceria, demonstramos que há um diferencial, que é especificamente usar a biodiversidade brasileira para resolver, também de forma específica, problemas das nossas pragas nas plantas cultivadas, pragas do mundo tropical”, comenta. “Acredito que esse foco na agricultura tropical já faz o produto se viabilizar. Acredito nessa razão para o sucesso do primeiro evento, o BTMAX, assim como de outras tecnologias que estão por vir”, adianta.

Urbano também comentou sobre a relevância da ciência brasileira, desde a etapa inicial desse processo com as seguintes fases: bioprospecção de microrganismos e desenvolvimento tecnológico de interesse, identificação de dezenas de cepas de Bt com potencial toxicológico contra a Spodoptera frugiperda, identificação e síntese de centenas de genes, testes de validação, geração de dezenas de eventos de milho transgênico, ensaios em laboratórios, em casas de vegetação e no campo e a seleção de um “evento-elite” promissor.

Embrapa e Helix apresentam milho transgênico totalmente desenvolvido no Brasil
Foto: Guilherme Viana

“Com a aprovação unânime do evento pela CTNBio, referência mundial em excelência técnica, em junho deste ano, o processo de desregulamentação foi iniciado em outros países. Ainda não temos uma previsão para lançamento comercial da tecnologia, que depende muito da parte regulatória. Está aprovada no Brasil, mas como está na cadeia de exportação, ainda precisamos de mais aprovações”, adianta o diretor.

Consideramos um marco para a ciência brasileira. Apesar de ser uma tecnologia que já havia sido desenvolvida em outros países, somente duas empresas no mundo têm opção para o produtor hoje em dia. É um marco muito importante” – ressaltou Urbano.

Para Frederico Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, a apresentação do BTMAX aponta três momentos dinâmicos e interligados – “o da ciência, o da tecnologia e o do mercado”. “Os desafios relacionados à segurança alimentar para o mundo e o Brasil são enormes. Daí, estamos protagonizando ações para uma agenda de ‘Mais ciência e conhecimento para um mundo com oito bilhões de habitantes’. E como estrutura produtiva de alimentos – pela sua relevância estratégica nesta agenda – ousamos afirmar que ‘o milho que o Brasil faz é commodity, a tecnologia não’, reforça Durães.

Embrapa e Helix apresentam milho transgênico totalmente desenvolvido no Brasil
Foto: Guilherme Viana

“A Embrapa, com foco em uma Plataforma Bio de PD&I, incluindo um Smart Lab, tem produzido iniciativas e movimentos inteligentes e criativos para uma transição de primeira geração para gerações avançadas de bioinsumos, alimentadas por vias biotecnológicas, biologia sintética, edição gênica, bioinformática e inteligência artificial, em alianças estratégicas e acordos funcionais”, explica. “Na teoria e na prática, demonstramos a integração do conhecimento, da tecnologia e do produto para agregar valor e impactos para o agricultor e a agricultura tropical”, afirma o chefe-geral.

“Hoje estamos demonstrando, em um evento de exposição tecnológica de alto nível, de oportunidades negociais e de networking profissional, a lógica da construção, por cocriação e codesenvolvimento, de um evento transgênico que se configura pelas bases científicas em um fenômeno técnico-científico. E estamos fazendo isso com tal grandeza, com tal propósito, que nas alianças que estabelecemos com a Helix, por certo, estamos diante de um potencial enorme também de se tornar um fenômeno mercadológico. É isso que move o mundo de uma ciência com propósito”, destaca Durães.

“Temos algo novo, diferenciado, no mercado nacional. Precisamos da ciência para falar sobre a tecnologia. Focar na ciência e nos seus resultados requer validção percebida. Isso fornece elementos e alimenta as tratativas para uma estratégia de ação negociada, visando o desenvolvimento de mercado” – ressaltou Frederico, que emendou – “Este é o momento de focar na tecnologia, é o momento da empresa parceira. Neste momento, a Embrapa, aqui representada por gestores, cientistas, negociadores e apoiadores, é absolutamente protagonista e solidária”.

Embrapa e Helix apresentam milho transgênico totalmente desenvolvido no Brasil
Foto: Guilherme Viana

O evento BTMAX é resultado de uma parceria público-privada 100% nacional entre a Embrapa e a Helix, empresa do grupo Agroceres. “O desenvolvimento desse evento, assim como todo o processo de avaliação de segurança, foi realizado completamente no País. É um marco para a ciência brasileira, que já tinha produzido organismos geneticamente modificados de soja, feijão, eucalipto e agora um de milho”, disse. Ainda segundo o presidente da CTNBio, “o processo foi muito bem instruído, remetendo corretamente às questões de segurança alimentar e ambiental”, reforçou.

Os processos para a liberação comercial do evento BTMAX em outros países já foram iniciados pela Helix. No Brasil, a data para o início da comercialização ainda não foi definida.

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