
Pesquisa inédita mostra que moléculas de células-tronco reduzem inflamações e aumentam o teor de gordura do leite, abrindo caminho para vacas mais saudáveis e uma pecuária leiteira mais produtiva.
A pecuária leiteira moderna enfrenta um desafio constante: vacas altamente produtivas, capazes de gerar mais de 50 litros de leite por dia, frequentemente sofrem com problemas de saúde devido ao intenso esforço fisiológico. O excesso de produção afeta principalmente as glândulas mamárias, provocando inflamações e queda na qualidade do leite. Esse cenário, que preocupa produtores e especialistas do setor, pode estar próximo de ganhar uma solução inédita graças à ciência. Moléculas de células-tronco prometem vacas mais saudáveis e produção superior.
Um estudo publicado na revista científica Stem Cell Research & Therapy revelou que moléculas secretadas por células-tronco mesenquimais (MSCs) têm potencial para transformar a pecuária leiteira. A pesquisa foi conduzida por uma equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém, que demonstrou, pela primeira vez, que essas moléculas podem reduzir inflamações nas células mamárias bovinas e, ao mesmo tempo, aumentar o teor de gordura do leite.
De acordo com a Dra. Roni Tadmor-Levi, principal autora do estudo, essa é a primeira evidência científica de que secreções de células-tronco podem influenciar positivamente a produção de gordura nas células responsáveis pela lactação. “É uma direção completamente nova no uso de células-tronco para o melhoramento de laticínios”, afirmou.
A equipe, que também contou com o aluno de mestrado Lior Sharabi e a professora Nurit Argov-Argaman, conduziu experimentos em laboratório com células epiteliais mamárias bovinas cultivadas. Quando foram adicionadas as MSCs ou apenas suas secreções — o chamado “secretoma” —, os cientistas observaram queda nos marcadores inflamatórios e aumento da produção de triglicerídeos, componentes essenciais da gordura do leite.
Segundo a professora Argov-Argaman, a importância da descoberta vai além do aspecto produtivo. “A gordura do leite não se resume à textura. Ela fornece energia, ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis, como A e D. Aumentar o teor de gordura naturalmente torna o leite mais nutritivo”, destacou.
O estudo também demonstrou que os benefícios surgiram sem necessidade de contato direto entre as células-tronco e as células mamárias. Apenas as moléculas secretadas já foram suficientes para desencadear os efeitos positivos. Esse detalhe abre caminho para o desenvolvimento de suplementos ou aditivos alimentares que poderiam ser incorporados facilmente à ração das vacas, sem a necessidade de tratamentos invasivos.
As descobertas têm implicações importantes para a saúde do rebanho. A inflamação crônica das glândulas mamárias é um dos principais fatores que levam à mastite, doença que reduz drasticamente a produção de leite e causa forte desconforto nos animais. Ao reduzir o estresse celular, as moléculas derivadas das MSCs podem aumentar a longevidade produtiva das vacas, diminuindo custos para o produtor e garantindo maior bem-estar aos animais.
“Não se trata apenas de obter mais leite”, reforçou Argov-Argaman. “Trata-se de apoiar o sistema natural da vaca para produzir leite de melhor qualidade e se manter saudável.”
Se confirmada em estudos de campo, a tecnologia pode resultar em novas ferramentas de manejo de rebanhos leiteiros, oferecendo mais precisão e sustentabilidade. Como os efeitos podem ser reproduzidos a partir do secretoma, há a possibilidade de desenvolver aditivos nutricionais inovadores, que poderiam transformar a rotina de fazendas leiteiras ao redor do mundo.
Para dimensionar o impacto da descoberta, vale lembrar que a maior fazenda leiteira do Brasil, a Fazenda Colorado, em Araras (SP), possui cerca de 4 mil vacas em lactação, com produção média diária de 100 mil litros de leite. Mesmo sendo uma potência nacional, os números ficam distantes da escala global da pesquisa, que pode beneficiar rebanhos de centenas de milhares de vacas. Essa comparação evidencia como a inovação israelense pode abrir novas fronteiras para a pecuária leiteira mundial, incluindo o Brasil, referência no setor.
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