Morre ícone do cavalo crioulo, um recordista!

A raça se despediu de Infinito do Itapororó nesta quinta-feira, dia 7. Morreu cavalo crioulo recordista das rédeas há 19 anos, veja história!

O Crioulo que virou lenda ainda em vida, hoje torna-se infinito – como bem diz seu nome – na história da raça. Ainda que a famosa máxima diga que “enquanto houver éguas parindo, ninguém é invencível”, a nota mais alta da história do Potro do Futuro de Rédeas no Brasil resiste há 19 anos no topo, consagrando a proeza de um Crioulo: Infinito do Itapororó.

O recordista, filho de El Trapiche T Maqui e Benvinda do Itapororó, faleceu na última quinta-feira, 7 de fevereiro, de causas naturais, aos 22 anos de idade. “Morreu como deve morrer um grande cavalo, solto na manada com dez éguas. Que seus poucos filhos sigam seu legado, levando por diante seu excelente temperamento, mansidão sem igual e impressionante habilidade”, exaltou o proprietário do recordista, Gabriel Demutti, da Cabanha Rancho Los Barsa, localizada em Gramado (RS). O cavalo Zaino possui 11 filhos contribuintes.

Em 2016, a Revista Cavalo Crioulo, edição Nov/Dez, divulgou uma matéria especial que contou a história do Crioulo nascido em 14/10/1996. Na época, ele era recordista há 16 anos, por atingir nos anos 2000 os 232 pontos e 78 de média no Potro do Futuro ANCR 2000, junto com o cavaleiro Eduardo Salgado, sobrinho de Jango Salgado – feito que se mantém até os dias atuais.

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Foto: Faby Mattos


Morreu como deve morrer um grande cavalo, solto na manada com dez éguas

A reportagem foi escrita pelo repórter Douglas Saraiva e pode ser conferida abaixo:

“Era o ano 2000, e a virada do milênio parecia mostrar no horizonte um futuro promissor para o Cavalo Crioulo nas Rédeas. O novo momento chegava embalado por uma presença cada vez mais efetiva de animais da raça em importantes provas da modalidade, guiados por treinadores de destaque no meio. O caminho estava aberto para o cavalo Crioulo mostrar o seu potencial e versatilidade em uma das modalidades equestres que mais requer inteligência e bom temperamento.

Porém, tudo começou alguns anos antes dessa grande virada, ainda no fim dos anos 90. O potro zaino filho de El Trapiche T Maqui, nascido em 1996, foi vendido um tempo depois ao pé da mãe, Benvinda do Itapororó, pela cabanha Itapororó à Infinito. Daí o nome unindo o afixo dos dois criatórios. Rapidamente sua capacidade funcional chamou a atenção dos proprietários e a modalidade que abria suas portas ao cavalo Crioulo surgiu como opção a ser explorada pelo cavalo, já que sua principal prova privilegiava animais precoces.

Foi quando as suas rédeas caíram nas mãos daquele que, com a sua montaria, alcançaria o resultado mais expressivo da modalidade no Brasil a partir de então. O ainda emergente Eduardo Salgado, 20 anos, seguia os passos do tio Jango, a quem servia de assistente, e buscava uma comprovação em pista de que a profissionalização como cavaleiro era o caminho certo a seguir.

E a certeza que lhe faltava, naquele ano 2000, se transformou no maior incentivo à continuidade da sua carreira. Infinito do Itapororó se destacava por apresentar um desempenho consistente, com manobras muito fortes, e fácil assimilação dos comandos. Mesmo sabendo do potencial do cavalo, era recém o segundo ano em que Eduardo competia como profissional, na temporada que se tornaria um divisor de águas na sua formação como cavaleiro de rédeas.

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Nesse ano, a Associação Nacional do Cavalo de Rédeas (ANCR) realizou o seu Potro do Futuro em Americana, cidade localizada a noroeste da capital do estado de São Paulo, distante desta cerca de 120 quilômetros. Foi uma edição histórica do Potro do Futuro, com os melhores treinadores do país em pista, notas altas e recorde de inscrições na categoria aberto. Para alguns, uma das mais fortes disputadas da modalidade em provas realizadas no Brasil.

Em meados da prova, os juízes (dois brasileiros e um americano) já se mostravam surpresos com o espetáculo apresentado em pista. Jango Salgado liderava o aberto com 227,5 enquanto Eltinho liderava o aberto limitado com 226. Notas que dificilmente seriam batidas, pois estabeleciam um alto parâmetro. Somente uma execução próxima da perfeição poderia superá-las.

Foi então a vez de Infinito do Itapororó fazer história. Mais do que isso, escrever definitivamente o nome de um animal da raça Crioula entre os grandes cavalos de Rédeas do país. E o desempenho do conjunto foi tão impressionante que recebeu duas notas 77, dos juízes brasileiros, e um inédito 78 do americano. Foi a maior nota do Brasil e a 3ª maior do mundo. “Ele correspondeu com todos meus comandos e marcou 232, nota que já se passam 16 anos e ninguém bateu no Brasil. Ele foi demais, é um cavalo muito especial”, relembra Eduardo.

Depois disso, no entanto, a dupla acabou se separando e seguindo caminhos opostos. O cavaleiro foi morar nos Estados Unidos onde trabalha até hoje como treinador profissional, evoluindo e alcançando resultados cada vez melhores. O cavalo seguiu no Brasil, correu o Derby com o cavaleiro Gilson Vendrame e foi Reservado Campeão Nacional em 2003/2004. No Ranking Acumulado 2005/2006 da ANCR somou R$21.620,00 em prêmios.

Após esses período, enquanto o sucesso de Eduardo o fez alçar voos ainda vez mais altos, Infinito do Itapororó teve uma sequência de poucas provas. Competiu em algumas disputas amadoras até ser vendido a uma criadora de Lusitanos e permanecer subutilizado por algum tempo. Em 2013 foi descoberto pelo criador Gabriel Demutti, de Gramado, no Rio Grande do Sul, que conhecia a sua história e decidiu investir no animal.

Com o novo proprietário, ganhou condicionamento físico e uma nova oportunidade. De acordo com Demutti, apesar do seu reconhecido potencial, o animal foi pouco aproveitado na reprodução. “Esse ano estou registrando a primeira geração de animais da cabanha, filhos de Infinito do Itapororó. Até 2013, quando o adquirimos, ele só havia tido oito filhos. Não teve a oportunidade de mostrar a sua produção e, pela sua história, deveria ser mais testado. Nessa temporada já tenho cinco éguas prenhes dele, e em seguida vamos levá-lo a Brasília para cobrir mais 15 éguas”, diz.

Aposentado das pistas, a aposta agora está nos descendentes do cavalo que deixou a sua marca entre os grandes competidores da Rédea no Brasil. Ainda que a sua pontuação esteja relacionada entre as melhores apresentações da modalidade no mundo, a busca pela superação de um desempenho praticamente impecável é o que move o seu uso, daqui em diante. Será alguém capaz de conquistar novamente essa marca? Só o tempo dirá se é possível alcançar o infinito.”

Fonte: ABCCC


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