
Rebanhos estão no menor nível em décadas, pressionando consumidores e redes de fast-food, alerta jornalista especializado em commodities e, ainda completa: “Mundo enfrenta escassez de bezerros”
O jornalista Javier Blas, colunista da Bloomberg especializado em energia e commodities, fez um alerta contundente: o mundo está ficando sem bezerros. Segundo ele, a disparada dos preços da carne bovina não é causada por aumento do consumo, mas sim pela falta de oferta de animais para abate.
Nos Estados Unidos, o rebanho bovino atingiu, no ano passado, o menor nível em 74 anos. Na Europa, a situação também preocupa: o plantel bovino está no patamar mais baixo desde a crise da “vaca louca”, ocorrida há três décadas. “Com menos animais sendo enviados aos abatedouros, a ‘mão invisível’ do mercado entrou em ação para racionar a carne”, explica Blas.
Preços da carne bovina em níveis históricos
O impacto já é evidente. No Reino Unido, o quilo do bife de alcatra alcançou £18,89 (cerca de US$ 25,61), uma alta superior a 25% nos últimos cinco anos. Na União Europeia, a tendência é semelhante. Nos EUA, a carne moída — considerada um termômetro do setor — chegou ao recorde de US$ 6,02 por libra, cerca de 33% acima dos níveis de 2020.
Enquanto outros alimentos básicos estabilizaram após a onda inflacionária de 2021 a 2023, a carne bovina continua subindo, impactando supermercados e redes de fast-food. Chris Kempczinski, CEO do McDonald’s, alertou investidores sobre um “ambiente altamente inflacionário” na Europa, com destaque para o peso da carne bovina nos custos.
Tendência de longo prazo
Blas destaca que, entre as décadas de 1980 e 1990, os preços se mantiveram praticamente estáveis. Porém, desde o início dos anos 2000, a carne bovina — junto com o frango — passou a registrar alta acumulada superior a 200% nos últimos 25 anos. Para efeito de comparação, o salmão quase dobrou de preço no mesmo período, enquanto cordeiro, carne suína e frutos do mar subiram menos.
A recuperação dos rebanhos é lenta: o ciclo pecuário para recomposição pode levar de 10 a 12 anos. E, mesmo com preços elevados, não há sinais claros de retomada significativa.

Custos de produção em alta
Outro entrave para a reposição é o custo elevado da ração — feita com trigo, cevada, milho e farelo de soja —, que vem subindo há cerca de 20 anos e teve picos em crises como as de 2007–2008, 2010–2011 e, mais recentemente, após a guerra na Ucrânia.
Na Europa, novas exigências ambientais e de saúde animal aumentam ainda mais as despesas. O setor também sofre com energia mais cara, juros altos e falta de mão de obra, o que eleva salários. Em diversas regiões, propriedades estão sendo fechadas por falta de sucessores, fenômeno descrito por especialistas como “não lucratividade estrutural”.
Estoques de bezerros no limite
Nos últimos dois anos, a oferta mundial só foi sustentada pela liquidação de rebanhos, levando ao que ele denomina como “escassez de bezerros”. Agora, esse estoque está acabando. “Faltam animais prontos para o abate — não há bezerros suficientes na cadeia produtiva”, ressalta Blas. Mesmo que a demanda se mantenha estável, frigoríficos terão que pagar mais pelo gado, e isso chegará ao bolso do consumidor.
O jornalista encerra com um aviso direto: “Fazer hambúrguer na churrasqueira vai custar cada vez mais nos próximos meses” — cenário que deve persistir até que haja reposição significativa dos rebanhos.
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