
Balanço da Nacional do Mangalarga Marchador levanta polêmica sobre lucros e transparência em ano decisivo de eleição na ABCCMM – que já tem data marcada, que representa os criadores de um dos maiores plantéis entre os equinos
A 42ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, realizada no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte (MG), encerrou sua programação no sábado (2) consagrando os melhores exemplares da raça em 2025. Considerado o maior evento do gênero no mundo, o encontro contou com mais de 1.000 animais, cerca de 500 expositores e atraiu aproximadamente 200 mil visitantes de todas as regiões do Brasil.
Durante 15 dias, o público acompanhou disputas acirradas de marcha picada e marcha batida, além de provas morfológicas que definiram os títulos mais cobiçados da raça. A Nacional não apenas movimentou o mercado, mas também reforçou sua posição como vitrine da genética e da cultura equestre brasileira.
A visão da atual presidência da ABCCMM
Em entrevista ao Compre Rural, a presidente Cristiana Gutierrez celebrou o encerramento da edição destacando resultados positivos:
“Encerramos mais uma edição histórica da Nacional do Mangalarga Marchador, a quarta sob a nossa gestão, reafirmando o compromisso de valorizar e fortalecer a raça. Foram mais de R$ 1 milhão em premiações, distribuídos em reconhecimento ao talento e à dedicação de criadores e expositores de todo o Brasil. É um orgulho enorme ver o Parque da Gameleira lotado, vibrando com cada apresentação e vivendo intensamente a nossa cultura equestre.”
Segundo a gestão atual, a ABCCMM ampliou o caixa e realizou o maior investimento de sua história, fortalecendo a presença do Mangalarga Marchador em todo o Brasil. Dados oficiais apontam que o caixa passou de R$ 10,7 milhões em dezembro de 2021 para R$ 13,7 milhões em setembro de 2025.
O contraponto: transparência e questionamentos
Apesar da comemoração oficial, críticas internas questionam a real transparência dos números. O Compre Rural também conversou com o advogado Marcelo Tostes — que também é pré-candidato à presidência da ABCCMM — argumenta que o crescimento apresentado não reflete um ganho efetivo:
“Não adianta dizer que temos caixa de R$ 13 milhões e que isso significa que estamos muito melhores do que há quatro anos. Estamos em um país com inflação. Se aplicarmos o valor do IGP-M mais 0,5% ao mês, veremos que esse valor ultrapassa, e muito, os R$ 13 milhões que temos hoje em caixa.”
De fato, cálculos corrigidos mostram que os R$ 10,7 milhões de dezembro de 2021 deveriam equivaler hoje a mais de R$ 14,2 milhões. Ou seja, em termos reais, o caixa atual estaria abaixo do esperado pela correção monetária, revelando uma perda do poder de compra.
Tostes também critica o déficit operacional de 2024, quando a associação teria gasto R$ 52 milhões contra uma receita de apenas R$ 46 milhões, e cobra a divulgação imediata do balanço da Nacional 2025:
“Estamos a quase 60 dias do término da Nacional e, até agora, ninguém sabe absolutamente nada sobre os números desse evento. A Nacional deu lucro ou prejuízo? Quanto a associação gastou e quanto arrecadou? Nós notificamos a associação, mas até hoje não recebemos nenhuma resposta formal.”
Eleições acirram o debate e já tem data marcada
Esse embate ocorre em meio ao aquecimento para as eleições da ABCCMM, que agora têm data oficial: 26 de novembro de 2025, das 8h às 20h. O pleito definirá a nova diretoria que comandará a associação de 2026 a 2029, sem direito à reeleição.
A disputa já movimenta os bastidores do agronegócio, da política, do empresariado e até do Judiciário em Minas Gerais. A entidade, que comanda o registro da raça equina mais popular do Brasil — com plantel estimado em mais de 700 mil animais — será palco de uma eleição que promete ser histórica.
Até o momento, três nomes se colocaram como pré-candidatos: Daniel Siriema, Dario Colares e Marcelo Tostes. O mandato da atual presidente, Cristiana Gutierrez, termina em dezembro deste ano.
Nesse cenário, a defesa da transparência e da competência na gestão financeira se tornou um dos principais pilares da campanha de Marcelo Tostes, que promete incluir pequenos e médios criadores e propor uma renovação na governança da associação.
O futuro em disputa
A 42ª Nacional do Mangalarga Marchador mostrou a força da raça e movimentou negócios em todo o Brasil. Mas, ao mesmo tempo, trouxe à tona questionamentos sobre a real saúde financeira da ABCCMM.
Enquanto a gestão atual celebra conquistas, opositores defendem que a associação precisa avançar em clareza nas contas e eficiência administrativa.
Assim, a pergunta que ecoa entre criadores, investidores e associados permanece em aberto: a Nacional 2025 deu lucro ou prejuízo?. A resposta oficial pode não apenas definir a avaliação da atual gestão, mas também influenciar diretamente os rumos da eleição que decidirá o comando da entidade para os próximos quatro anos.
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