“Não tenha dó de descartar vaca vazia”, alerta pecuarista; vídeo

Pecuarista mostra na prática o prejuízo de reter fêmeas com baixa fertilidade depois da estação de monta; “bezerro da vaca de chance”, é um bezerro que não se paga

A reposição anual do rebanho de matrizes é importante para manter a produtividade nas propriedades rurais, com o descarte dos animais improdutivos, que falharam em mais de uma estação de monta, e os considerados “velhos”, ou seja, perto de diminuir a fertilidade. A recomendação é que todo ano sejam repostos 30% dos animais. A pesquisadora da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Alessandra Nicácio, explica que, além da idade do animal, o descarte deve considerar vários critérios como: falha reprodutiva, temperamento da vaca e, no caso de se trabalhar com inseminação artificial, deve-se avaliar se o animal tem uma condição ginecológica favorável à técnica.

“Normalmente, o descarte é feito depois do diagnóstico de gestação, que detecta as vacas que falharam. Então, faz-se a análise do histórico do animal, se já falhou outras vezes. Tem propriedade que a vaca falha um ano e já é descartada mesmo sendo jovem ainda, o que é chamado de pressão de seleção”, diz a pesquisadora. Segundo ela, essa vaca que falha um ano não é necessariamente uma vaca improdutiva, então ela pode até ser vendida para outra propriedade ao invés de ser enviada para o abate.

O pecuarista e médico-veterinário Joaquim Carvalho Franco Neto, da Fazenda Pântano no Município de Ituiutaba (MG), aprendeu da pior maneira do “por quê” não segurar vaca vazia depois da estação de monta, em vídeo publicado nas redes sociais ele mostra uma matriz que abortou e desabafa. “Matriz primípara na estação de monta 2020/2021, passou vazia, eu fiquei com dó e perdoei, ela entrou na estação 2021/2022 como vaca solteira, emprenhou já na primeira IATF, em outubro/21. Quando foi no terço final da gestação ela abortou o bezerro”. Ao final do vídeo, o profissional enfatiza – ” Não tenha dó de descartar vaca não, negócio é descarte mesmo, novilha, primípara, multípara não tem que ter dó não, olha o prejuízo, fica de aprendizado.”

Confira o vídeo:

O veterinário orienta também que o pecuarista precisa sempre fazer uma seleção rigorosa das fêmeas do rebanho, segurar animais com subfertilidade ou com possíveis doenças reprodutivas podem gerar um grande prejuízo ao pecuarista no longo prazo.

Nós consultamos o gestor do Instituto Inttegra e autor do Livro “Como ganhar dinheiro na Pecuária“, Antonio Chaker El-Memari Neto, e ele falou sobre o assunto. “O ponto mais importante é dizer o seguinte: o custo do bezerro tem ligação com o tempo que a vaca precisa para produzi-lo, quando você dá chance, aumenta o tempo de permanência dessas vacas. Hoje o custo de manutenção de uma vaca de cria no rebanho gira em torno de R$ 85,00/cab/mê, logo cada mês que você mantém uma vaca improdutiva no seu rebanho fica mais caro. Normalmente essa chance dura um ano, só aí o bezerro encareceu R$ 800,00, somado-se aos outros custos, podemos adicionar R$ 1.400,00. No final, o “bezerro da vaca de chance”, é um bezerro que não se paga. E olha que nem falamos sobre os aspectos de problemas na seleção genética desses animais subférteis” – Chaker.

bezerro vermelho com vacada
Foto: Fazenda Elge

Números da atividade de cria

“A atividade de cria, produzir bezerro, é a atividade (dentro dos sistemas de pecuária) que mais tem indicadores. Enquanto na recria e terminação eu tenho muitas vezes só lotação, GMD, mortalidade e produção de arrobas por hectare, na cria eu tenho fertilidade, perda pré-parto, taxa de desmame, mortalidade de bezerro, quilos de bezerros desmamados, uma infinidade de indicadores.”

“O primeiro grande ponto que eu quero reforçar para você aqui analisando índice de cria é que, infelizmente, enquanto a fertilidade ou (taxa de) prenhez das fazendas que tiveram prejuízo foi de 75,2%. Já as que mais ganharam dinheiro foi de 81,4%. E o potencial para esse índice, os top dentro do indicador, tiveram 87% de prenhez dentro de num banco de dados bastante grande”.

O zootecnista apontou também a solução para fazendas que trabalham com cria. “Indo para as fazendas de ciclo completo ou apenas de cria, eu te faço uma pergunta: o que é mais importante, quantidade de vaca ou quantidade de bezerro desmamado?

“Tenho certeza que você respondeu quantidade de bezerro desmamado. E se nós respondemos que é quantidade de bezerro desmamado, por que essa atuação tão forte e muitas vezes não querer reduzir o número de vacas? Se eu não tiver pelo menos 75% de taxa de desmame, será que vale a pena eu ter mais vaca? Porque quem determina é quantidade de bezerro desmamado. Então eu chego na quantidade de bezerro desmamado, que é 75% de taxa de desmame e vou até mais longe ainda, que são os 150 kg de bezerro desmamado por vaca exposta – e agora eu vou ter mais vaca”, apontou Chaker.

vacada nelore em rondonopolis - com serra ao fundo
Foto: José Victor C. Macêdo

Vaca de descarte é um grande negócio

Surpreenda-se, em média, menos da metade do faturamento de uma fazenda de cria vem da venda de bezerros. De acordo com os dados Inttegra a venda de machos corresponde a 45% da arrecadação financeira. A segunda maior parcela, ou seja, 35% é proveniente da venda de fêmeas que não emprenharam e saíram do ciclo de reprodução. A conta fecha com 20% do que foi vendido em novilhas que não serão usadas na própria reposição.

Fica claro que em seus pastos, a fazenda de cria abriga outro negócio de impacto financeiro que é a venda de animais de descarte. Muitas vezes, em época de preço de bezerro em baixa, a venda das matrizes de descarte é a salvação da “lavoura”, o que nos leva a defender a ideia de que toda fazenda de cria esconde em sua alma uma fazenda de engorda.

O produtor de bezerros precisa assumir essa característica para que, consequentemente, esteja mais atento às melhores estratégias relacionadas à produção de carne em curto período de tempo. Essa preocupação é importante, pois muitas vezes, o produtor sustenta uma fêmea vazia por longo período na fazenda em razão da baixa afinidade com as práticas de engorda e deixa de fazer caixa em curto prazo. Vendendo antes, ele se capitaliza e ainda libera área, no período seco, para as fêmeas em produção.

Confira também algumas dicas valiosas de cuidados sanitários com as vacas na fazendas, publicado pelo pecuarista Leonardo Bernardes:

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