
Após cenas de desgaste entre governo brasileiro e Estados Unidos, o tarifaço realmente foi aplicado o que acarretou impacto já demonstrado no mês de agosto na cadeia produtiva do pescado, com a redução de 32% de importação de tilápia brasileira.
O crescente aumento da produção de tilápia no Brasil, não foi o suficiente para nos manter como exportadores do principal país importador da espécie, os Estados Unidos. Após cenas de desgaste entre governo brasileiro e Estados Unidos, o tarifaço realmente foi aplicado o que acarretou impacto já demonstrado no mês de agosto na cadeia produtiva do pescado, com a redução de 32% de importação de tilápia brasileira.
Embora em volume, isso não seja tão expressivo, acaba por atrasar o crescimento nas exportações e aumentar o volume de peixe disponível no mercado interno, o que preocupa produtores devido possibilidades de queda na comercialização e sobra de produto no mercado. Este artigo apresenta oportunidades, discute desafios e recomenda estratégias para produtores que desejam ingressar ou fortalecer sua atuação na cadeia produtiva do pescado.
Panorama atual da tilapicultura no Brasil
Nos últimos anos, o Brasil elevou significativamente sua produção de tilápia, posicionando-se entre os principais players mundiais. Segundo a FAO, o país ocupa atualmente a quarta posição global na produção da espécie, com cerca de 662 mil toneladas anuais.
Apesar desse volume expressivo, as exportações representam parcela ainda modesta. Em 2024, apenas cerca de 3 % da produção nacional foi destinada ao mercado externo. Essa discrepância revela o enorme espaço que ainda existe para a expansão internacional da tilápia do Brasil.
Um dos entraves históricos é a limitação de unidades frigoríficas habilitadas e adequadas às exigências dos mercados externos, bem como a necessidade de investimentos em logística, certificações e processos padronizados.
Mercados internacionais promissores
Estados Unidos
Os EUA representam um dos destinos mais promissores para a tilápia brasileira. Lá, o consumo per capita da espécie é estimado em 460 gramas por habitante por ano — um dos níveis mais elevados globalmente. Além disso, a tilápia já é consolidada sendo consumida de maneira mais generalizada.
Há grande oportunidade de expansão das exportações brasileiras de tilápia congelada, segmento em que o país ainda tem participação modesta, apesar de sua estrutura de produção. Outro ponto citado é que, mesmo com o “tarifaço” nos EUA, as exportações brasileiras resistiram à queda esperada — no primeiro mês de vigência, houve uma retração de cerca de 32 % no volume exportado em relação ao mesmo mês do ano anterior.
No entanto, para ampliar a presença no mercado americano, será necessário conciliar preço competitivo, certificações exigidas e logística ágil para produtos frescos e congelados.
Europa
Na Europa, o consumo médio de tilápia ainda é bastante modesto — cerca de 39 gramas por habitante ao ano. A tilápia é consumida principalmente em produtos congelados de menor preço, o que limita sua penetração em mercados mais amplos.
O relatório da Embrapa aponta que as importações europeias de tilápia são relativamente estáveis — em torno de 36.641 toneladas, mantendo-se em patamares semelhantes dos últimos dez anos.
Apesar desse panorama conservador de crescimento, há janelas de oportunidade:
- Caso haja reabertura ou flexibilização de exigências sanitárias para o mercado europeu, a tilápia fresca brasileira poderia ganhar espaço — aproveitando malha aérea e posicionamento de qualidade já existentes.
- Produtos com valor agregado (cortes marinados, cortes prontos, pré-cozidos) e certificações reconhecidas (como o selo ASC) podem conquistar consumidores exigentes.
- A atuação em feiras internacionais, marketing internacional e promoção das qualidades do pescado brasileiro são apontados como estratégias importantes.
Outros mercados emergentes
Além de EUA e Europa, mercados da África, Oriente Médio e Ásia que importam peixes brancos em larga escala também podem se tornar destinos estratégicos para a tilápia brasileira. Alguns exportadores nacionais já começaram ações e parcerias nesses mercados, estabelecendo presença e adaptando produtos ao perfil local.
Novos produtos e agregação de valor
Exportar filé fresco ou congelado é apenas uma fração das alternativas possíveis. A agregação de valor, ou seja, transformar a tilápia em produtos processados ou diferenciados, pode gerar margens mais altas e conquistar nichos premium. A seguir, alguns exemplos:
- Cortes prontos e empanados: tilápia em formato “ready-to-eat” ou “ready-to-cook” facilita o consumo e pode atrair consumidores que buscam conveniência.
- Produtos funcionais e de apelo saudável: destacar atributos como “sem antibióticos”, “cultivo sustentável”, rastreabilidade e certificações pode agregar valor ao produto final.
- Inovação em alimentos à base de tilápia: sobremesas, snacks, petiscos e pratos prontos com tilápia são alternativas ainda pouco exploradas, com potencial de diferenciação no mercado.
- Aproveitamento de subprodutos: escamas, partes não aproveitadas e resíduos podem ser transformados em ingredientes para ração, fertilizantes ou biomateriais, reforçando uma cadeia circular.
- Diferenciação por qualidade e certificação: selos de rigor internacional são muitas vezes pré-requisito para acesso a mercados desenvolvidos.
Vale destacar que estudos da Embrapa mencionam explicitamente os cortes diferenciados e produtos empanados como nichos promissores para a tilápia brasileira no mercado americano.
Inovação, tecnologia e sustentabilidade
Para competir em mercados exigentes, a adoção de inovações e práticas sustentáveis torna-se imperativa. Algumas frentes que se destacam:
- A Embrapa, em colaboração com universidades como Unicamp e UFSCar, desenvolveu um insumo natural chamado Terpenia Acqua, que fortalece o sistema imunológico da tilápia e melhora desempenho zootécnico sem o uso de antibióticos. Embrapa
- Investimentos privados em melhoramento genético e edição gênica visam aumentar o rendimento de filé, reduzir consumo de ração e acelerar ciclos produtivos, tornando a tilápia mais competitiva.
- Adoção de sistemas de cultivo mais inteligentes, com controles de parâmetros de água e zootécnicos bem monitorados e gestão financeira apurada, podem reduzir impactos ambientais e melhorar a eficiência.
- Automação, rastreabilidade digital, monitoramento em tempo real e logística integrada são diferenciais extras para atender requisitos internacionais.
- A sustentabilidade ambiental, incluindo o uso eficiente da água, manejo adequado de resíduos e licenciamento ambiental, ajuda a compor o diferencial competitivo do produto.
Desafios e barreiras
Mesmo com as oportunidades evidentes, produtores brasileiros enfrentam obstáculos consideráveis:
- Certificações internacionais e requisitos sanitários rigorosos: muitos mercados exigem certificações como HACCP, ASC ou BAP, que demandam investimento e adequação.
- Tarifas e barreiras comerciais: o “tarifaço” americano e barreiras não tarifárias podem conter o avanço das exportações, como já tem acontecido de agosto pra cá.
- Logística e transporte refrigerado: transporte aéreo ou marítimo com refrigeração exige precisão, custos elevados e riscos de ruptura no frio.
- Custo de habilitação e homologação de plantas de processamento: muitas unidades de beneficiamento ainda não estão habilitadas para exportação.
- Concorrência internacional forte: países com estrutura exportadora já consolidada (como China e países asiáticos) oferecem preços competitivos.
- Fragmentação da cadeia produtiva: produtores pequenos e médios podem ter dificuldade para cumprir volume mínimo, padrões constantes e unir esforços.
- Capital para investimento: adequação, certificações, automação e logística exigem investimento elevado e retomada lenta.
Por exemplo, poucos frigoríficos no Brasil atendem às exigências sanitárias dos mercados externos, limitando o aproveitamento potencial da produção.
Estratégias e recomendações para produtores de tilápia brasileira
Para aproveitar essas janelas de oportunidade, seguem sugestões práticas:
- Estabelecer associações, cooperativas ou consórcios para agrupar produtores e compartilhar custos de certificação, infraestrutura e logística.
- Investir em certificações internacionais e rastreabilidade, garantindo credibilidade nos mercados externos.
- Introduzir tecnologias e conhecimento que elevem eficiência e qualidade (manejo, monitoramento de dados, sistemas de gestão, sistemas intensivos sustentáveis).
- Realizar pesquisa de mercado internacional, definindo países-alvo, exigências sanitárias, tarifas e canais de comercialização.
- Firmar parcerias com empresas exportadoras consolidadas, distribuidoras e plataformas logísticas para acesso a cadeias consolidadas.
- Planejar logística refrigerada com eficiência e parcerias com operadores especializados.
- Investir em marketing internacional e promoção dos atributos competitivos da tilápia brasileira (qualidade, sustentabilidade, origem).
- Participar de feiras internacionais do setor (como Seafood Expo) para visibilidade, networking e aprendizado.
A tilápia brasileira já possui estrutura produtiva consolidada e potencial de escala, mas ainda está longe de explorar todo o espaço de mercado internacional. Mercados como os Estados Unidos e a Europa (além de mercados emergentes) oferecem janelas reais de oportunidade — sobretudo se combinadas com inovação, diferenciação e foco em produtos com valor agregado.
Para os produtores dispostos a apostar em conhecimento, certificações, logística, tecnologia e parcerias, esse momento pode ser decisivo de quem permanece na atividade e quem não vai se sustentar. Pois é nas dificuldades que todo mercado se profissionaliza e filtra os aventureiros.
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