Grupo familiar de Sorriso (MT) se torna modelo nacional de verticalização, com investimentos na suinocultura, agricultura, energia e biometano para frota própria.
A Nutribras Alimentos, empresa familiar sediada em Sorriso (MT), acaba de consolidar um dos projetos mais completos de verticalização do agronegócio brasileiro, tornando-se autossuficiente em toda a sua cadeia produtiva — do campo à gôndola dos supermercados. O grupo, liderado por Paulo Cezar Lucion, investiu R$ 500 milhões em quatro anos e passou a produzir todos os insumos necessários à sua operação, incluindo grãos, energia e agora biometano, usado como combustível em sua frota. As informações foram divulgadas pela AGFeed.
Em 2024, a Nutribras recebeu certificação internacional de autossustentabilidade, um reconhecimento que a coloca como a única indústria de carne suína do mundo com esse selo. “O que é subproduto de uma atividade já é matéria-prima para outra”, resume Lucion. O grupo opera com 17 mil matrizes suínas, abate 2,3 mil animais por dia e utiliza 16 mil hectares cultivados com milho e soja, além de áreas irrigadas de feijão. A meta é ampliar em 40% a capacidade de abate até 2030, atingindo 3 mil suínos por dia, com expansão agrícola sustentável e conversão de pastagens degradadas em lavouras.
O avanço agrícola foi o primeiro passo da Nutribras rumo à autossuficiência. A aquisição de mais de 45 mil hectares permitiu ampliar a produção de grãos, reduzindo custos e garantindo o fornecimento de ração. Hoje, as lavouras da companhia registram produtividade acima da média regional, com 72 sacas de soja e 150 de milho por hectare.
Desde o ano 2000, a empresa utiliza biodigestores para gerar energia e adubo orgânico, abastecendo todas as suas propriedades e eliminando a dependência de energia externa. Com o tempo, o grupo passou a buscar soluções para aproveitar o excedente de biogás, antes queimado para evitar emissões diretas.
O novo investimento da Nutribras, avaliado em R$ 80 milhões, é voltado à instalação de uma fábrica de purificação de biometano. O objetivo é transformar o biogás gerado pelos biodigestores em combustível veicular, substituindo o diesel em 50 caminhões da frota própria. A planta terá capacidade para produzir 30 mil m³ de biometano por dia, o equivalente a 30 mil litros de diesel, tornando a Nutribras carbono neutro e ainda permitindo a venda de excedentes para o mercado.

“Esse é um investimento que não estamos segurando”, afirma Lucion. “Com o biometano, vamos zerar nossas emissões e abrir uma nova fonte de receita limpa.”
Em 2024, a Nutribras registrou receita de R$ 700 milhões, com projeção de R$ 800 milhões em 2025. Apesar do cenário de altas taxas de juros, a empresa mantém um planejamento estratégico de cinco anos, com foco na redução do endividamento antes de novos aportes. Parte da expansão virá do aumento da participação de produtores parceiros, que deve passar de 8% para 15% do total de abates.
Segundo Lucion, a meta é crescer com sustentabilidade e eficiência, aproveitando o potencial agrícola de Mato Grosso e os diferenciais competitivos do modelo integrado. “Aqui é o local mais barato do mundo para se produzir suíno ou aves”, destaca.
A história da Nutribras começou em 1984, em Abelardo Luz (SC), quando a família Lucion integrava a cadeia da Seara. Na década de 1990, buscando reduzir custos com ração, que representa 70% do custo total da suinocultura, o grupo migrou para o Mato Grosso, atraído pela abundância de milho e soja.
Em 2000, a suinocultura foi transferida integralmente para o Centro-Oeste. Com o crescimento da produção e a limitação dos frigoríficos regionais, surgiu a necessidade de verticalizar o negócio. Em 2011, após dois anos de obras, o grupo inaugurou seu próprio frigorífico, agregando valor ao produto e reduzindo custos logísticos. “Ao invés de levar três carretas de milho, levava uma de carne”, resume o empresário.
Atualmente, 90% da produção da Nutribras é destinada ao mercado interno, com forte presença nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. O grupo atua com marca própria, e cerca de 8% das vendas são exportadas para países da América do Sul, Ásia e Leste Europeu. A habilitação para exportar à China está em andamento, e o plano é elevar a fatia de exportações para 15% até 2030.
Parte da estratégia de diferenciação está na aposta na genética Duroc, uma linhagem de suínos americana que confere carne marmorizada e macia, posicionando a Nutribras no segmento premium. “A autossuficiência não gera um preço maior, mas permite acessar mercados mais exigentes e garantir estabilidade a longo prazo”, explica Lucion.
Com o ciclo produtivo fechado, da lavoura ao varejo, passando pela energia limpa, a Nutribras se consolida como referência nacional em suinocultura sustentável. O grupo prova que é possível unir eficiência produtiva, responsabilidade ambiental e competitividade internacional, transformando resíduos em energia e desafios em oportunidades.
Nas palavras de Paulo Cezar Lucion: “Nosso foco é simples: produzir com responsabilidade, sem depender de ninguém e entregando qualidade em todas as etapas.”
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