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Nutrição de vacas em lactação e o manejo de resíduos

A concentração de nutrientes nas fezes e urina dos animais é resultado de vários fatores produtivos, sendo um dos mais importantes o tipo de dieta oferecida ao animal.

A bovinocultura de leite deve internalizar em sua rotina produtiva práticas e tecnologias relacionadas ao manejo de seus resíduos e demonstrar para sociedade que é uma atividade que preza pela conservação dos recursos naturais e eficiente uso dos insumos.

A concentração de nutrientes nas fezes e urina dos animais é resultado de vários fatores produtivos, sendo um dos mais importantes o tipo de dieta oferecida ao animal. Dietas formuladas de acordo com as exigências dos animais irão promover maior eficiência de uso dos nutrientes e, consequentemente, menor excreção destes nas fezes e urina. A consideração de estratégias nutricionais como redutoras da carga de nutrientes disponíveis nos resíduos deve ser explorada em sistemas de produção de leite por significar redução do potencial poluidor da atividade.

O preciso manejo nutricional irá promover impactos positivos tanto nos aspectos econômicos da produção, pela redução do desperdício de nutrientes, como nos ambientais, pela menor quantidade de nutrientes a serem manejados na forma de resíduos líquidos e sólidos.

Neste trabalho avaliou-se como o teor de proteína bruta da dieta de vacas em lactação impacta as concentrações de nitrogênio, fósforo e potássio das fezes e urina.

O quê foi feito

O trabalho foi desenvolvido no Sistema de Produção de Leite (SPL) da Embrapa Pecuária Sudeste. As vacas foram divididas em dois grupos de sete animais. Em cada grupo havia três animais da raça Jersey e quatro da raça Holandesa.

O manejo alimentar dos animais foi baseado em sistema de pastejo de gramíneas tropicais, silagem de milho e concentrado contendo níveis de proteína bruta diferenciados para cada um dos grupos. O PB 20% foi alimentado com uma dieta contendo 20% de proteína bruta na matéria seca, ao longo de toda a lactação. O ajuste proteico do concentrado do PBajustada se deu de acordo com a produção de leite média do grupo ao longo do período de lactação. Nos meses de maio e junho o teor proteico foi de 23%, de julho a dezembro de 17% e em janeiro 14,5%

Mensalmente, foram realizadas coletas de fezes e urina de cada animal. As fezes foram retiradas diretamente do reto dos animais e a urina foi coletada pelo massageamento da parte posterior do animal. As amostras dos resíduos foram analisadas para os elementos nitrogênio, fósforo e potássio.

Onde chegamos

Os resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2 demostram significativas amplitudes de variação entres as concentrações máximas e mínimas dos nutrientes nas fezes e urina. Sendo a presença dos elementos nos resíduos dos animais condicionada por aspectos produtivos como: idade do animal, estágio do ciclo produtivo e tipo de dieta. As amplitudes de variação são inerentes à caracterização dos dejetos animais.

Tabela 1. Concentrações médias mensais de nitrogênio, fósforo e potássio nas fezes dos animais para cada tipo de dieta.

Tabela 2. Concentrações médias mensais de nitrogênio, fósforo e potássio na urina dos animais para cada tipo de dieta.

A variabilidade das concentrações de nutrientes é um complicador para tomada de decisão quanto ao uso dos dejetos como fertilizante, bem como para o planejamento e dimensionamento de sistemas de tratamento dos dejetos. Por isso, é importante se ter como rotina nos sistemas de produção o monitoramento das concentrações de nutrientes nos dejetos dos animais a fim de se tomar decisões mais precisas, o que irão determinar menor potencial de impacto ambiental da atividade pecuária.

A manipulação do teor de proteína bruta da dieta não promoveu impactos significativos na excreção dos elementos. No caso do nitrogênio, onde a redução do teor de proteína bruta deveria reduzir a presença do elemento nas fezes e urina, isso não foi observado na maioria das coletas. As concentrações de nitrogênio na urina foram mais elevadas mesmo nos meses em que a proteína bruta da dieta era mais baixa. Estudos futuros devem explorar dietas com menores teores proteicos e aliar a monitoramento da concentração de nutrientes nos dejetos com o monitoramento de indicadores fisiológicos de vacas em lactação a fim de entender melhor como o estágio produtivo (curva de lactação e confirmação ou não de prenhez) influenciam os fluxos de excreção.

Não foi possível identificar um comportamento de excreção de nutrientes nas fezes e urina ao longo da lactação. Enquanto a concentração de nitrogênio nas fezes aumentou ao longo da lactação para os dois grupos experimentais, na urina esse comportamento foi mais heterogêneo, tendendo a uma redução ao longo da lactação. O fósforo teve uma variabilidade menor para fezes e urina, excetuando-se alguns meses onde se observaram elevadas concentrações. Estes picos de concentração podem estar relacionados a questões de coleta das amostras. O potássio na urina apresentou um claro comportamento de aumento da concentração ao longo da lactação.

A ingestão de nitrogênio foi identificada como o principal responsável pela presença do elemento nos dejetos de bovinos, especialmente na urina (Dong et al., 2014). Segundo Misselbrook et al. (2016), a concentração de N na urina é influenciada pelo tipo de dieta, pelo manejo de pastagem e pela estação do ano. Avaliando a concentração de N na urina de vacas Holandesas, os autores observaram médias de 13,1 g L-1, com maior frequência entre 10-20 g L-1. Neste estudo os valores médios foram de 5,9 e 7,1 g L-1 para PB 20% e PBajustada, respectivamente.

Ruiz et al. (2016) encontraram concentração de P nas fezes de vacas em lactação entre 8,9 e 16,5 g kg-1, média de 12,6 g kg-1. No PB 20% o P nas fezes variou de 3,9 e 24,9 g kg-1, média de 9,7 g kg-1. No PBajustada o P nas fezes variou de 2,8 a 24,5 g kg-1, média de 10,6 g kg-1.

Considerando os nove meses de monitoramento e as concentrações mensais de nitrogênio nas fezes e urina, os animais do PB 20% excretaram um total de 533 kg de N e os do PBajustada, 586 kg de N. As 14 vacas experimentais ocuparam uma área de 1,22 ha que compreendia as áreas de pastejo e oferta de alimento no cocho. Portanto, pode-se inferir que ocorreu um aporte potencial de 917 kg de N ha-1. Diz-se potencial porque parte deste nitrogênio será volatizado e parte não foi disposto na área, mas sim no pátio de ordenha.

Para onde ir

manipulação do teor de proteína bruta da dieta não promoveu reduções significativas na concentração de nitrogênio, fósforo e potássio das fezes e urina das vacas em lactação, sendo que em algumas coletas as concentrações foram maiores, mesmo os animais recebendo uma dieta com menor teor de proteína bruta.

O manejo nutricional é um dos principais aspectos produtivos que influenciam na concentração de elementos nos dejetos, mas há outros, que no caso de vacas em lactação, podem ser o estágio da curva de lactação e a presença ou ausência de prenhez. Portanto, estudos futuros em monitoramento de nutrientes nos dejetos de vacas em lactação devem relacionar os aspectos nutricionais e de desempenho do animal com a concentração dos elementos nas fezes e urina. Os sistemas de produção devem ter programas de monitoramento da qualidade dos dejetos e explorar quais manejos produtivos podem reduzir a carga de nutrientes dos resíduos.

Fonte: Milk Point

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