O ‘bezerro do cedo’ garante melhor retorno ao pecuarista

A pecuária de corte nacional está passando por uma revolução silenciosa e, neste contexto, a busca por estratégias para garantir o aumento da produtividade passa, necessariamente, pelo setor da cria. E o ‘bezerro do cedo’ garante melhor retorno ao pecuarista

Na bovinocultura de corte busca-se cada vez mais estratégias para maximizar a produtividade, e a produção do conhecido “bezerro do cedo” é uma delas, trazendo diversos benefícios não só para a pecuária de cria, mas para o ciclo completo da atividade. É importante lembrar que estabelecer o objetivo da propriedade e realizar o planejamento para alcançar as metas é o primeiro passo.

O chamado “bezerro do cedo” é aquele cujo o nascimento se dá no início da estação de nascimento, coincidindo com o período seco do ano, ocorrendo geralmente entre os meses de junho e agosto. Já os animais que nascem posteriormente a esse período, são chamados de “bezerros do tarde”, e são prejudicados em seu desenvolvimento em comparação aos “bezerros do cedo”.

Para entender melhor sobre a produção desses animais, vale lembrar que sua concepção depende da estação de monta, frequentemente realizada entre os meses de setembro e novembro. Esse formato de projeto impacta fortemente em fatores como a programação fetal, período em que ocorre a formação das fibras musculares no primeiro e segundo terço da gestação e a formação das células de gordura (adipócitos) no terceiro terço gestacional, pois para que esses processos ocorram com eficiência é necessária que a nutrição durante a gestação dessas fêmeas esteja em condições adequadas, levando em conta a boa oferta de pastagem que será em sua maior parte no período das águas do ano, sendo apenas o terço final da gestação na pastagem de transição para o período seco.

Deve-se considerar também a importância de intensificar a suplementação mineral para as matrizes durante a prenhez, onde as exigências nutricionais do organismo são maiores, e não ao contrário como tradicionalmente é feito.

Tendo em vista também a possibilidade de estabelecer uma suplementação proteica nas águas e na seca, que trarão benefícios como a regularização de consumo diário da suplementação e aumento na ingestão de matéria seca, juntamente com a mineralização da mãe e do feto, dando suporte ao período gestacional.

Os impactos benéficos, inclusive, serão refletidos na próxima estação de monta, pois irá coincidir com o início do período das águas, proporcionando forragem com maior oferta e maior qualidade nutricional para as reprodutoras, dando condições para uma melhora no índice de condição corporal, desencadeando índices reprodutivos superiores, como a taxa de prenhez.

Foto: Freepik

A particularidade de os bezerros não nascerem ruminantes completos deve ser considerada, pois quando esses animais atingirem os cinco meses (idade média em que estão se tornando ruminantes verdadeiros), estarão com alta oferta de volume de pastagem e terão maior aproveitamento dessa fibra.

Se o nascimento acontece de forma inversa, ou seja, no período das águas, a oferta será de acordo com o período seco do ano, ou seja, menor volume e menor qualidade da fibra.

Além disso, os cuidados com a cura de umbigo, principal manejo realizado após o nascimento e ingestão do colostro, têm melhores resultados no período seco do ano devido às menores chances de contaminação de microorganismos na região, que funciona como porta de entrada para infecções sistêmicas.

Analisando as próximas etapas da atividade, como a desmama, recria e engorda, outros benefícios são apresentados quando falamos do “bezerro do cedo”. Esses animais demonstram maior peso à desmama, que ocorre entre os meses de fevereiro e abril (quando não realizada precocemente). Na recria e engorda, pode-se relacionar o mês de nascimento com a idade em que esses animais serão abatidos.

Exemplificando, animais que nascem até o mês de setembro possuem maiores chances de serem abatidos até 2,5 anos de idade (30 meses), resultando em animais voltados para o mercado de exportação, como o “boi china”, que possui a arroba mais valorizada em relação ao mercado nacional.

Outro aliado para otimizar o desempenho produtivo é o sistema de creep feeding, que pode consolidar ainda mais o sucesso do “bezerro do cedo”. A técnica consiste no fornecimento de produtos com fontes proteicas e energéticas desde o início da vida dos bezerros, desenvolvendo de forma mais rápida as suas papilas ruminais, aumentando a capacidade de absorção de nutrientes.

O fator financeiro é o maior gerador de apreensão para o produtor, mas ainda existem grandes falhas na rotina de coleta de informações dentro das propriedades, exercício que pode e deve ser utilizado para avaliar criteriosamente a lucratividade da produção do “bezerro do cedo” dentro de cada fazenda.

No ano de 2022 o Brasil abateu apenas 15% de seus animais com até 24 meses. Apesar desse índice estar progredindo ao longo dos anos (estando menor apenas comparado a 2019, onde alcançou 16%), ainda está abaixo do potencial de desfrute que o país pode alcançar. O estado do Mato Grosso possui o maior rebanho bovino brasileiro, sendo a cria sua principal atividade, mas no ano de 2022 abateu apenas 17% dos animais com idade inferior a 24 meses.

Isso demonstra a importância de visualizar a operação como um todo, e não de forma individual, sendo necessária a preparação desses animais desde a sua formação para que tenham o máximo desempenho possível durante a vida produtiva. E para que isso aconteça, o planejamento deve se iniciar através da seleção de matrizes, estação de monta, programação fetal, estação de nascimento e desmama, possibilitando assim uma recria e engorda em intervalo mais curto.

Fonte: Matsuda

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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