O boi não era o vilão das mudanças climáticas?

O isolamento social causado pelo covid-19 fez com que várias regiões do mundo, antes centros de poluição, ficassem com o céu azul de brigadeiro

A quarentena estabelecida no estado de São Paulo, em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), provocou a diminuição das atividades econômica e, consequentemente, a circulação de veículos, reduzindo as emissões de substâncias poluentes na atmosfera na Região Metropolitana de São Paulo. Desde o dia 20 de março, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) tem registrado, em todas as 29 estações de monitoramento da região, qualidade do ar boa para os poluentes primários, que são emitidos diretamente pelas fontes poluidoras.

“Temos redução bastante significativa nas grandes vias, mas ainda tem movimento. Mas nos bairros, a queda na movimentação caiu e a qualidade do ar melhorou. O movimento caiu muito mais do que na época de férias, apesar do movimento ainda grande nas marginais, é uma queda drástica. Mas estamos com condições meteorológicas muito boas e isso faz também com que a poluição realmente caia bastante”, disse a gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb, Maria Lucia Gonçalves Guardani.

Quarentenas e restrições reduzem poluição na Itália, China e em NY

Em quarentena há doze dias, os moradores de Veneza viram pela primeira vez em muitos anos as águas dos canais da cidade ficarem claras – e até golfinhos, cisnes e cardumes de peixes foram flagrados nadando por ali. Com fábricas paradas e trânsito quase inexistente, a Itália registrou considerável melhora qualidade do ar. Mas a nação não foi a única em que a natureza se beneficiou da pandemia de coronavírus: cientistas já registraram redução da poluição na China e nos Estados Unidos.

Estudos mostraram uma melhora de 21,5% na qualidade do ar na China, onde é comum os moradores da capital, Pequim, usarem máscaras para se proteger da poluição. Um pesquisador na Universidade Stanford calcula que, apesar das muitas vidas tiradas pela Covid-19, a paralisação das fábricas e do trânsito no país pode ter salvo entre 50.000 e 75.000 pessoas que poderiam morrer de forma prematura por causa da poluição. O pesquisador, Marshall Burke, porém, advertiu que seria “incorreto e imprudente” concluir que “pandemias são boas para a saúde” por causa disso.

Medidas reduziram poluição e salvaram 50 mil na China, diz pesquisador

Medidas de isolamento tomadas pela China contra o coronavírus diminuíram maciçamente a poluição do ar e podem ter salvado a vida de pelo menos 50 mil pessoas no país desde janeiro.

A conclusão é de Marshall Burke, pesquisador e professor assistente da Universidade de Stanford (EUA). Formado em Relações Internacionais pela Universidade de Stanford e doutor em economia de recursos agrícolas pela UC Berkeley, ele atua como professor assistente do Departamento de Ciências do Sistema Terrestre e diretor-adjunto do Centro de Segurança Alimentar e Meio Ambiente da Universidade de Stanford. Ele analisou a relação do ar mais limpo com a redução da morte prematura de pessoas no país que foi o berço do vírus.

Imagem de satélite mostra poluição por dióxido de nitrogênio, resultante da queima de combustíveis fósseis, em janeiro, antes de medidas contra o coronavírus, e fevereiro, durante as restrições, na China – Joshua Stevens/Earth Observatory/Nasa/AFP

— Minha estimativa sugere que 50 mil pessoas foram salvas por causa da melhora da qualidade do ar na China. Isso é realmente maior que a quantidade de pessoas que morreram diretamente em razão do coronavírus até agora — afirmou Burke em entrevista à reportagem.

Apesar disso, o pesquisador pondera que os custos econômicos, de saúde e sociais são altíssimos e que não é possível olhar esses dados como um lado bom na pandemia.

— Temos melhores caminhos para melhorar a qualidade do ar, (…) que trazem os benefícios do ar mais limpo sem os custos de uma epidemia.

Adaptado de Gauchazh, Veja e VejaSP

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