“O lucro sumiu: quem é o culpado?” Scot expõe caminhos para rentabilidade na pecuária intensiva

Debate técnico e visão estratégica mostram que eficiência, integração e gestão são as chaves para um futuro sustentável e lucrativo no campo; veja o que rolou no encontro da Scot

A pecuária brasileira vive um momento de transição. Entre custos de produção em alta, mudanças no consumo, volatilidade de preços e novas exigências ambientais, a busca pela eficiência produtiva nunca foi tão urgente. Foi nesse contexto que o Encontro de Intensificação de Pastagens (EIP), promovido pela Scot Consultoria, reuniu especialistas, pesquisadores e produtores para investigar o enigma que assombra o setor: “O lucro sumiu: quem é o culpado?”.

Durante dois dias de intensos debates, 18 palestrantes e mais de 600 participantes — entre técnicos, consultores e pecuaristas — analisaram os principais fatores que afetam a rentabilidade na pecuária a pasto e apresentaram estratégias práticas e tecnológicas para transformar a produção em um negócio mais rentável, sustentável e competitivo.

Eficiência é o novo mandamento da pecuária

O evento deixou claro que o lucro da pecuária moderna não está escondido — ele depende de decisões estratégicas. Gestão de dados, nutrição inteligente, integração de sistemas e inovação foram apontados como pilares da pecuária que prospera, mesmo em cenários adversos.

Segundo Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria, 2025 é um ano oportuno para ajustar estratégias e aproveitar os sinais positivos do mercado: menor abate de fêmeas, valorização do bezerro e exportações aquecidas. “O produtor que lê o mercado com antecedência se posiciona melhor, evita perdas e captura margens mais altas”, destacou.

Esse diagnóstico reforça uma visão recorrente: a eficiência produtiva não depende apenas do preço da arroba, mas de processos integrados, planejamento forrageiro e uso racional de insumos.

A lição da suplementação: mais do que ração, uma estratégia

O primeiro bloco do encontro reforçou que a suplementação animal deve ser encarada como uma ferramenta de gestão e não apenas um custo operacional. O uso inteligente de insumos permite equilibrar o ganho de peso, reduzir desperdícios e sincronizar oferta de forragem com demanda animal.

Para Luiz Gustavo Nussio (Esalq/USP), a expansão do etanol de milho vai ampliar a oferta de coprodutos úmidos — como DDG e WDG —, o que exigirá planejamento nutricional e logístico. Já Adilson Aguiar (FAZU) lembrou que “calcular produtividade é simples, mas entender de onde ela vem é complexo”, ressaltando o papel do manejo e da adubação na eficiência final.

O recado foi claro: o lucro não desaparece por acaso — ele se dilui em cada decisão mal planejada, seja na escolha do suplemento, no momento da compra, na taxa de lotação ou na qualidade da pastagem.

Brasil: protagonista global e guardião da proteína

O segundo bloco trouxe uma análise mais ampla: o papel do Brasil no cenário global da carne bovina. Com sanidade reconhecida internacionalmente e um rebanho adaptado ao pasto tropical, o país segue como player estratégico no abastecimento mundial.

De acordo com Alcides Torres e Juliana Pila (Scot Consultoria), o cenário é positivo:

  • A menor oferta de fêmeas no abate indica ciclo de retenção e tendência de valorização da arroba;
  • As exportações firmes sustentam a demanda por boi gordo;
  • O consumo interno dá sinais de retomada.

Francisco Castro, presidente da CNA, foi enfático:

“O Brasil é o maior, melhor e único player do futuro para produzir alimento.”

A reputação sanitária, reforçada pelo status livre de febre aftosa reconhecido pela OMSA, e o potencial de rastreabilidade, colocam o país em posição privilegiada. Mas os especialistas alertam: reputação se constrói com eficiência e transparência.

Para o analista Leonardo Alencar (XP Research), o mercado reage bem, e as frigoríficas mostram margens sólidas e diversificação de portfólio. A leitura é otimista: cada trimestre vem superando as expectativas anteriores.

A verdade sobre o pasto: ele é o elo da eficiência na pecuária

Se o boi não é o culpado pelo desaparecimento do lucro, o pasto pode ser o principal suspeito. No terceiro bloco, especialistas lembraram que a pastagem é a base da pecuária brasileira e que falhas no manejo comprometem toda a cadeia.

A professora Janaina Martuscello (UFSJ) foi direta:

“O culpado não é o boi. É o manejo. Sem adubação, sem controle de lotação e sem estratégia, não há milagre.”

Estudos da Embrapa mostraram que a recuperação sem manutenção mantém o sistema preso a um ciclo vicioso de degradação. A recomendação é clara: diagnóstico técnico, reposição de nutrientes e manejo contínuo são condições para garantir estabilidade e retorno.

O lançamento do Circuito Cria, pela Scot Consultoria, reforçou a importância de mapear e entender os sistemas produtivos para desenhar estratégias regionais. Cada solo, clima e manejo têm resposta diferente — e só com dados é possível tomar decisões assertivas.

Integração é o futuro: três safras em um ano

Encerrando o encontro, o bloco sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) apontou o caminho da sustentabilidade lucrativa. Sistemas integrados, bem planejados, entregam três safras em um ano, reduzem riscos e aumentam o retorno por hectare.

Lourival Vilela destacou que a ILPF combina produtividade com preservação e traz resiliência econômica. Casos práticos, como os da Fazenda Agromantova (MA) e da Fazenda Santa Vergínia, mostraram que diversificação e gestão por indicadores são diferenciais competitivos reais.

O pesquisador William Marchió (Rede ILPF) alertou que o termo “agro regenerativo” precisa ser usado com responsabilidade técnica, baseado em indicadores claros de retorno econômico, social e ambiental.

Insights finais: o lucro mora no detalhe

O Encontro de Intensificação de Pastagens 2025 concluiu que o lucro na pecuária moderna é construído no detalhe:

  • Planejamento forrageiro e nutricional;
  • Uso racional de insumos;
  • Gestão de dados e indicadores;
  • Integração de sistemas;
  • Capacitação e atualização constante.

O futuro da pecuária é intensivo em conhecimento. E o produtor que dominar a arte de produzir mais com menos, com sustentabilidade e visão estratégica, não só encontrará o lucro — mas o multiplicará.


🗓 Próxima edição: O Encontro de Confinamento e Recriadores 2026 acontecerá entre 7 e 10 de abril, em Ribeirão Preto (SP).

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