O prejuízo da produção leiteira na pecuária de corte

Na pecuária de corte, a unidade de trabalho mais expressiva, em que incidem as principais ações, sejam elas para seleção ou como unidade comercial, são os bezerros na fase de desmama.

Por LUIZ JOSAHKIAN

Nesse contexto, o número de bezerros em relação ao número de vacas em idade reprodutiva é um bom indicador da fertilidade do rebanho, assim como o peso à desmama é um indicador seguro de desempenho.

Um bezerro é formado pela sua genética (recebida do pai e da mãe), pela genética da vaca para leite e habilidade materna e por todos os outros efeitos de ambiente.

A produção de leite (habilidade materna) e a fertilidade das vacas são características que têm impacto relevante sobre a efetiva disponibilidade de bezerros de qualidade, mas não é só isso.

Temos o desafio de estabelecer níveis adequados na produção de leite disponível ao bezerro, no rebanho de corte.

as vacas consomem 50% dos investimentos do produtor só para mugir “presente, estou aqui”

Vacas são seres vivos, e seres vivos utilizam os nutrientes de forma particionada seguindo uma ordem possivelmente determinada pela seleção natural: primeiro sua própria manutenção, seguida da produção de leite, depois o crescimento, a preservação da condição corporal e, por último, a reprodução. Genes responsáveis pela digestão dos alimentos e sua transformação em reservas corporais são parcialmente incompatíveis com genes para secreção de leite.

A relação mãe-cria é sagrada, mas o efeito da mamada é expressivo, por suprimir o retorno ao cio (instinto de defesa da cria e da preservação da espécie), aumentando o intervalo entre o parto e a próxima ovulação, especialmente em vacas com condição corporal inadequada, sem reservas de gordura no momento do parto.

Então, o bezerro precisa ser muito bom para pagar essa conta.

Dessa forma, o aumento da produção leiteira em gado de corte deve ser conduzido com reserva, só se justificando até o ponto em que a cria tenha capacidade genética de responder ao estímulo nutricional e desde que não comprometa a funcionalidade da vaca.

Excessos podem ocasionar problemas de diferentes naturezas, quais sejam, aumento de custo de manutenção e de produção da vaca, perda de investimentos na nutrição da vaca, aumento da dificuldade de manejo mãe-cria, pela possibilidade de surgimento de diarreias, e especialmente redução da funcionalidade reprodutiva da vaca por antagonismos entre os hormônios indutores da secreção láctea e aqueles ligados à reprodução, especialmente nos casos em que as demandas nutricionais não forem atendidas.

Vale lembrar que impressionantes 71% do total de energia utilizada na produção de gado de corte são destinados à simples manutenção dos animais e que 70% dessa energia é consumida pelo rebanho de cria, ou seja, as vacas consomem 50% dos investimentos do produtor só para mugir “presente, estou aqui”. Somem-se a isso as demandas energéticas para reprodução e para lactação e teremos que quase 70% de toda a alimentação do sistema de gado de corte são gastos na fase de cria. Então, o bezerro precisa ser muito bom para pagar essa conta.

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A conversa aqui teria de ser muito mais longa, mas vamos lembrar que, para ter um bom bezerro, é preciso ter uma boa vaca (e um bom touro, claro, mas esta é outra história), e isso só vai acontecer se a vaca olhar para si mesma e ao seu redor e concluir que “OK, estou bem e sem um bezerro para criar, então vamos ao próximo”.

Simples assim: vaca de corte não é vaca de leite. Pode chamar de especialização, se quiser. Eu prefiro chamar de lógica biológica.

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Fonte: Globo Rural

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