O que aconteceria se a indústria da carne acabasse?

Os seres humanos consomem 346,14 milhões de toneladas de carne por ano, existem projeções para um aumento de 44% nos números até 2030.

De acordo com dados fornecidos pelo Portal do Comércio Exterior (Comex), órgão do Ministério da Economia, a indústria da carne movimenta cerca de US$ 14 milhões por mês no Brasil — cerca de R$ 67 milhões —, dos quase US$ 1 bilhão mensal — ou em torno de R$ 5 bilhões — que o país exporta de proteínas animais.

Em escala global, os números impressionam ainda mais. Atualmente, o setor de carnes está estimado em US$ 838,3 bilhões — quase R$ 4 trilhões —, como as estatísticas de 2020 mostraram, com previsão de aumentar para US$ 1,157 trilhão — aproximadamente R$ 5,5 trilhões — até 2025.

Ou seja, os números falam por si só sobre o valor inestimado da pecuária para a economia, principalmente no ramo da importação de cada país, por gerar não apenas divisas valiosas, como também economias através da substituição de importações. A indústria da carne oferece a oportunidade de converter recursos não exportáveis em um importante componente da economia de cada país.

Apesar de sermos considerados naturalmente onívoros, os seres humanos consomem 346,14 milhões de toneladas de carne por ano, sendo que há projeções para um aumento de 44% nos números até 2030, alcançando 453 milhões por ano.

Segundo a pesquisa do Statista Global Consumer Survey, em média 86% das pessoas entrevistadas em 39 países disseram que mantêm uma dieta com a presença de carne, apesar de fazer substituição por outros tipos de fontes de proteínas.

Nessa quantidade toda de números, os países mais carnívoros do mundo são os Estados Unidos, em primeiro lugar, com 120 kg de carne em consumo per capita por ano, seguidos pela Austrália, Uruguai, Argentina e Hong Kong. Para começar, se a carne fosse eliminada da dieta dos seres humanos, em termos ambientais, um quarto a um terço de todas as emissões antropogênicas de gases de efeito estufa seria reduzido — um fator muito importante e bastante negligenciado.

“A maioria das pessoas não pensa como os alimentos impactam nas mudanças climáticas”, disse Tim Benton, especialista em segurança alimentar da Universidade de Leeds, em entrevista à BBC Future. “Mas apenas comer um pouco menos de carne agora pode tornar as coisas muito melhores para nossos filhos e netos”.

O estudo de Marco Springmann, pesquisador do programa Future of Food, da Oxford Martin School, fez uma projeção do que aconteceria se todos aderissem ao vegetarianismo até 2050, e os resultados indicaram que as emissões de gases relacionados à indústria pecuária cairiam cerca de 70%. Apesar desse cenário não ser muito realista, ele reforça a importância que as emissões teriam no futuro.

O que aconteceria com os animais?

Sessenta e oito por cento dos 5 bilhões de hectares de terras agrícolas do mundo são destinados à pecuária. Se a carne fosse eliminada da mesa dos seres humanos, pelo menos 80% dessas terras seriam dedicadas à restauração de pastagens e florestas, responsáveis por capturarem o carbono e aliviar ainda mais o cenário climático.

A conversão das pastagens em habitats nativos alavancaria a biodiversidade, gerando muito resultado inclusive para grandes herbívoros, como os búfalos, expulsos para dar lugar ao gado. Entre 10% a 20% das pastagens poderiam ser cultivadas mais culturas para preencher as lacunas na oferta de alimentos, compensando a perda da carne, visto que um terço da terra, atualmente, é destinada às plantações e à produção de alimentos para o gado, em vez de para humanos.

Tudo isso levaria tempo e investimento, visto que o processo de restauração ambiental não acontece da noite para o dia. “Você não pode simplesmente tirar as vacas da terra e esperar que ela se torne uma floresta primária novamente por conta própria”, disse Andrew Jarvis, do Centro Internacional de Agricultura Tropical da Colômbia, na matéria da BBC.

O que aconteceria com os humanos?

A começar pelas questões econômicas e pessoais, haveria uma grande onda de desemprego de trabalhadores da pecuária, e seriam necessários instrumentos de assistência em larga escala para ajudar essas pessoas na transição de carreira de modo que não fossem abandonadas ou negligenciadas no meio do caminho.

Se o sistema deixar ou se negar a fornecer alternativas claras de carreira e meios de subsídios para ex-funcionários relacionados à pecuária, o mundo enfrentará desemprego e grande convulsão social em comunidades rurais cuja vida é norteada pela indústria da carne.

Com relação à saúde, o efeito do vegetarianismo é misto, visto que o hábito alimentar levaria a uma redução global da mortalidade em até 10% em 2050 devido à diminuição de doenças cardíacas, diabetes, derrames e alguns tipos de câncer — visto que a carne vermelha é responsável por metade desses problemas de saúde.

Em ampla escala, cerca de 7 milhões de mortes por ano seriam evitadas, e menos pessoas sofreriam de doenças crônicas relacionadas à alimentação, reduzindo significantemente o gasto em contas médicas e sobrecarga dos sistemas de saúde pública, gerando uma economia de 2% a 3% do PIB global.

No entanto, seria necessário, mais uma vez, um sistema aprimorado de acompanhamento nutricional para que as pessoas pudessem recorrer a um substituto que fornecesse a mesma quantidade de nutrientes que a carne. Se isso não fosse feito da maneira adequada, poderia gerar uma crise de saúde global. 

Além disso, toda essa mudança poderia ser ainda mais perigosa para os países subdesenvolvidos, podendo fazer explodir os níveis de fome e pobreza extrema, visto que esse plano de futuro ideal seria mais facilmente implementado em países avançados e ricos. No fim das contas, “o problema é a transição”, como disse o escritor e bioquímico Isaac Asimov.

Fonte: Mega Curioso

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