 
        Mais do que reação à dor, comportamento dos “atletas de pulo” é resultado de décadas de melhoramento genético, instinto defensivo e manejo especializado. Saiba o que é mito e o que é verdade.
Os oito segundos mais eletrizantes de uma arena de rodeio são um espetáculo de força bruta, agilidade e explosão. Ver um animal de 900 quilos saltar, girar e corcovear com tanta intensidade levanta uma questão imediata para o público: por que ele pula?
A resposta mais comum, e também a mais controversa, é a de que o animal pula por dor, induzida por equipamentos. No entanto, para criadores, veterinários e peões, a explicação é muito mais profunda e está enraizada em três pilares: genética, instinto e manejo.
O touro de rodeio moderno não é um bovino comum. Ele é, literalmente, um atleta de pulo, resultado de décadas de seleção genética rigorosa, tão especializada quanto a de um cavalo de corrida ou de um gado de corte de elite.
O Fator Genético: O “Berço de Ouro” do Pulo
Esqueça a ideia de que qualquer touro serve para o rodeio. Os animais que brilham nas arenas vêm de linhagens específicas, criadas exclusivamente para esta finalidade.
“Não se ensina um touro a pular; ele nasce com essa índole”, explica Marcondes Maia, proprietário da Cia 2M e um dos tropeiros mais reconhecidos do Brasil.
Esse trabalho de melhoramento genético busca características muito específicas: reatividade, temperamento forte (índole), força de posterior e a vontade de pular. Muitos dos “atletas” mais famosos do Brasil são resultado de cruzamentos importados e de raças como a Brahman e outras compostas americanas, conhecidas por sua agilidade e temperamento arisco.
Fabio Docusse, da Cia Rancho 3 Irmãos e idealizador do projeto “Jovens Touros”, ressalta que o fomento à genética é o futuro do esporte, inspirado no modelo da ABBI (American Bucking Bull, Inc.) dos EUA, que documenta e valoriza as linhagens de touros de pulo.
O Equipamento: Mitos e Fatos sobre o Sedém
Este é o ponto nevrálgico da discussão. O sedém (ou flank strap) é frequentemente e erroneamente apontado como um instrumento de tortura que aperta os testículos do animal. Especialistas da área são unânimes em refutar essa ideia.
“É um mito que os testículos do boi são apertados para ele pular”, afirma o médico veterinário Marcos Guerra. “O sedém é uma corda que fica na virilha do animal, mas que não aperta [os genitais].”
Dr. Orivaldo Tenório de Vasconcelos, médico veterinário da UNESP que coordenou o “Projeto Sedém”, uma pesquisa aprofundada sobre o equipamento, é ainda mais específico. Em seu estudo, ele concluiu que o sedém, usado corretamente, “provoca apenas cócegas na região da virilha dos animais”, comparando a sensibilidade da área à região das costelas ou axilas em humanos.
Da mesma forma, o Dr. Henrry Birguel Jr., da USP, explica que o sedém, geralmente feito de algodão macio ou lã, funciona como um “sinal” para o animal de que “é hora de pular”.
Como ele funciona, então? O sedém pressiona levemente o flanco (virilha) do animal, uma região sensível. O touro, por instinto, pula para se livrar desse “incômodo” ou “cócega”, utilizando a força máxima de suas patas traseiras. A cinta é solta imediatamente após o pulo, aliviando a pressão assim que o animal deixa a arena.
O Instinto e o Valor do Atleta
Um touro de rodeio de elite é um ativo biológico de alto valor, podendo custar mais de R$ 1 milhão. Para os criadores, maltratar esse animal não faz sentido econômico.
Marcondes Maia usa um argumento lógico para desmistificar a ideia de dor: “Se o sedém machucasse, fizesse o boi pular porque machuca ele, ninguém iria pagar R$ 1 milhão num boi”.
Um touro que sente dor aguda reage de forma diferente: ele deita, coiceia para os lados ou tenta fugir, mas não executa os saltos coordenados e potentes vistos na arena. O que se vê é a expressão do instinto defensivo de um animal com predisposição genética, estimulado por um incômodo leve.
Além disso, a rotina desses animais é a de atletas de alta performance, incluindo dietas balanceadas, manejo racional, períodos de descanso e assistência veterinária constante, obrigatória em todos os grandes eventos.
A “Tempestade Perfeita”
O pulo espetacular de um touro de rodeio não é um ato de desespero por dor, mas sim uma “tempestade perfeita” de fatores. É a genética apurada por criadores como Tércio Miranda e Cias especializadas, o instinto defensivo do animal e o manejo correto (incluindo o sedém como “sinalizador”) que o estimula a mostrar seu potencial máximo nos oito segundos de fama.
É a união da zootecnia de ponta com a natureza bruta do animal, resultando em um dos esportes mais desafiadores do mundo.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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