O Rei do Nelore: a trajetória de Rubico Carvalho e a evolução da pecuária nacional

Do Triângulo Mineiro a Barretos, a trajetória de um dos maiores selecionadores de gado zebu do país explica parte da transformação que levou o Brasil ao topo da pecuária mundial, movimentando R$ 987 bilhões em 2024.

A pecuária de corte brasileira não se tornou uma potência por acaso. Com 238 milhões de cabeças de gado, segundo o IBGE, e um setor que movimentou R$ 987 bilhões em 2024, o Brasil consolidou-se como um dos maiores produtores de carne bovina do mundo graças à soma de tecnologia, genética e personagens que transformaram a atividade. Entre esses nomes, Rubens Andrade de Carvalho, o lendário Rubico Carvalho, ocupa lugar de destaque, sendo considerado um dos grandes responsáveis pela modernização e pelo avanço da bovinocultura nacional.

Sua atuação determinou rumos, abriu fronteiras genéticas e ajudou a formar o rebanho que o Brasil ostenta hoje. A história da pecuária zebuína e, especialmente, das raças Nelore e Brahman, não pode ser contada sem passar por ele.

Natural de Prata (MG), Rubico descendia de uma família com tradição profunda na criação de gado zebu. Seu pai, Francisco José de Carvalho, foi um dos pioneiros na importação de animais Nelore ao Brasil em 1918, quando o Triângulo Mineiro despontava como um dos polos mais fortes da pecuária zebuína.

Dois anos depois, em 1920, Francisco registrou oficialmente sua marca no Ministério da Agricultura, reforçando o compromisso da família com a criação seletiva. Esse legado seria o ponto de partida para o trabalho de Rubico.

Rubico Carvalho. Foto: Fazenda Brumado

Em 1948, Rubico Carvalho mudou-se para Barretos (SP) e criou a Fazenda Brumado, que se tornaria um dos pilares da genética bovina brasileira. Ali, ele deu continuidade ao aprimoramento do Nelore, selecionando animais que influenciariam o rebanho nacional por décadas.

A Brumado cresceu, ganhou notoriedade e se transformou em referência absoluta. Sob sua liderança, a fazenda se tornou reconhecida pela seleção criteriosa, pela avaliação de desempenho e pela introdução de novas tecnologias — práticas inovadoras para a época.

Além de dominar o Nelore, Rubico assumiu o protagonismo na chegada e consolidação de outra raça que marcaria a pecuária brasileira: o Brahman.

Fêmeas Guzerá importadas da India por Rubico Carvalho e Nene Costa. Foto: Fazenda Brumado

O Brahman, desenvolvido nos Estados Unidos a partir do cruzamento de diversas linhagens zebuínas vindas da Índia, destacou-se mundialmente por sua resistência ao calor, eficiência produtiva e excelente adaptação ao clima tropical.

No Brasil, sua entrada oficial ocorreu apenas em 1994, na 5ª fase das importações zebuínas. A operação contou com o apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Brahman (ABBA) e trouxe ao país um rebanho registrado pela ABCZ — cujo destino inicial foi justamente a Fazenda Brumado, de Rubico.

Outros importantes criadores participaram dessa etapa, como Manoel Garcia Cid, Carlos Eduardo Quartim Barbosa e John Jeffcoat, mas Rubico tornou-se a figura central da expansão e da credibilidade do Brahman no país.

A partir da década de 1990, o rebanho Brahman da Brumado tornou-se o primeiro no Brasil a integrar um programa de melhoramento genético conduzido pela USP, em Ribeirão Preto. Foi um marco para a pecuária nacional.

Menakshi V POI Brumado. Grande campea Expozebu 1985. Foto: Fazenda Brumado

Tecnologias como a Fecundação In Vitro (FIV) ganharam força e elevaram a taxa de nascimento, acelerando de forma decisiva o progresso genético. A partir de 1997, investidores americanos começaram a atuar no Brasil, aumentando o intercâmbio técnico e impulsionando a evolução da raça.

Hoje, o Brahman é parte essencial da pecuária de corte brasileira, amplamente utilizado em cruzamentos industriais com raças taurinas, como Angus e Hereford, gerando animais de maior rendimento e carne de qualidade superior.

Rubico Carvalho não só transformou a pecuária brasileira — ele ajudou a projetá-la internacionalmente.

Entre suas conquistas mais marcantes estão:

  • Importações históricas de zebu em 1962, fundamentais para o aprimoramento do Nelore brasileiro.
  • Reconhecimento internacional ao se tornar, em 1993, o primeiro criador brasileiro a registrar um animal Nelore nos Estados Unidos.
  • Formação de um dos maiores bancos genéticos do país, hoje preservado pelo Projeto POI Brasil.
  • Influência direta sobre gerações de criadores e técnicos que moldaram o rebanho zebuíno moderno.
Tirano da Indiana. Campeão Nacional 1956. Foto: Fazenda Brumado

Seu legado inclui ainda homenagens importantes, como o nome dado ao tatersal do Parque Fernando Costa, em Uberaba, e o título de Cidadão Emérito de Barretos.

Rubico Carvalho faleceu em 18 de julho de 2009, aos 92 anos, deixando um legado que continua moldando a pecuária nacional. Selecionador, pesquisador, criador e apaixonado pela genética, ele foi reconhecido como um dos maiores nomes da história do zebu no país.

Sua contribuição permanece presente nos rebanhos, nos programas de melhoramento, nos criadores que seguem seus passos e nas raças que se fortaleceram graças ao seu trabalho — especialmente o Nelore e o Brahman.

Num setor que movimenta quase R$ 1 trilhão por ano, a história de Rubico é parte essencial da construção do que hoje chamamos de potência pecuária brasileira.

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