Óculos especiais identificam sintomas do greening em folhas de citros

Um par de óculos com lentes revestidas por um filtro especial é o mais novo invento para detectar os sintomas do huanglongbing (HLB), também conhecido como greening, durante a inspeção visual em pomares de citros. A novidade, que já está disponível no mercado, permite ao usuário enxergar o principal traço da doença, conhecido como mosqueamento das folhas ou amarelecimento, porque intensifica o contraste entre as cores verde e amarela, características da praga.

Os óculos para auxiliar a inspeção visual do greening na citricultura facilitam o trabalho dos inspetores, reduzem a taxa de erros na identificação da doença e trazem proteção visual ao usuário. Os idealizadores da invenção acreditam que, além do Brasil, a tecnologia poderá ser usada por inspetores em outros países produtores de citros, como Estados Unidos, China, México, Espanha e Índia.

Embora muitas técnicas estejam sendo desenvolvidas para melhorar a identificação de plantas infectadas, até o momento não há conhecimento de nenhum dispositivo para aplicação em inspeção visual do greening em campo.

Pelo método tradicional, o greening, pior doença da citricultura dos últimos tempos, pode ser identificado por meio de inspeção visual por profissionais treinados, mas com altas taxas de falhas. Acredita-se que metade das plantas sintomáticas seja mantida em campo por erros na inspeção, o que permite a proliferação da doença entre as árvores saudáveis.

Desenvolvidos pela Embrapa Instrumentação e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os Óculos de Inspeção de Greening na Citricultura serão apresentados na 24ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), que ocorre de 1º a 5 de maio, em Ribeirão Preto (SP).

A tecnologia, já patenteada, está disponível na Fhocus Optical Solutions, empresa licenciada para fabricação e comercialização dos óculos, sediada em São Carlos (SP) e com filial na capital paulista, e pode ser adquirido mediante cadastro prévio por telefone ou na página da empresa.
De acordo com o diretor de Marketing da Fhocus, Clédio Romero Rodriguez, o custo unitário dos óculos está estimado em torno de R$ 200,00, mas deve ser reduzido em função da quantidade adquirida. Acima de 100 peças, a empresa calcula que o valor possa cair para, aproximadamente, R$ 170,00 a unidade. “Nossa expectativa de mercado é bem otimista e temos capacidade produtiva para absorver tranquilamente 500 peças por mês”, afirma.

Rodrigues lembra que a tecnologia está sendo produzida de acordo com as rigorosas exigências dos padrões do American National Standards Institute (ANSI), e acredita que o produto deve se consolidar como uma ferramenta inovadora de trabalho para auxiliar na diminuição da contaminação dos laranjais.

Teoria das Cores

O trabalho é resultado da dissertação de mestrado do estudante Luiz Otávio dos Santos Arantes, conduzida no Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar, concluída em 2013, com o apoio do professor Nilton Luiz Menegon e da pesquisadora da Embrapa Instrumentação, Débora Milori. Arantes recebeu suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com recursos de um pouco mais de R$ 28 mil.

Débora conta que a ideia inicial era desenvolver sistemas para proteção ultravioleta, a pedido de uma indústria brasileira de suco de laranja. Entretanto, após discussões, surgiu a proposta de avaliar a possibilidade de inserir um filtro adicional nos óculos capaz de ressaltar os sintomas do greening e, assim, facilitar a inspeção visual.

O estudo, então, seguiu em frente, baseando-se na chamada Teoria de Cores, segundo a qual, para absorver uma determinada coloração, um corpo deve refletir a cor complementar a ela. A pesquisa consumiu cerca de três anos entre o estudo dos filtros, ensaios em campo e laboratório até chegar ao mercado.

A pesquisadora explica que o filtro de luz atenua majoritariamente a cor verde, levando a percepção de contraste pelo olho humano a ser ainda maior, fator fisiológico que ocorre devido à hipersensibilidade da retina humana à cor verde. Assim, é possível que sejam identificados tons periféricos que não seriam percebidos normalmente. Para o inspetor de campo, esse fator significa que pequenas alterações do verde para o amarelo, em virtude da doença, sejam identificadas mais facilmente.

Se a folha está saudável, ou seja, está no tom verde, o filtro mitiga a transmissão dessa cor, visualizando-a com cor mais escura. Já se a folha apresenta alguma alteração na coloração, o dispositivo permite que esta alteração seja transmitida através do filtro de luz, mostrando-a de forma mais clara.

Mas a pesquisadora Débora Milori comenta que, mesmo com o uso dos óculos de inspeção visual de greening na citricultura, a detecção adequada dos sintomas vai depender da experiência dos inspetores, porque o mosqueamento das folhas pode ocorrer por diversos outros fatores, como déficit de zinco ou um galho quebrado impedindo a passagem da seiva.

Benefícios da tecnologia

Milori informa vantagem adicional da invenção: o dispositivo bloqueia os raios ultravioleta, proporcionando ao usuário proteção contra a luz do sol e conforto visual na execução da atividade.

A tecnologia ainda é bastante flexível e pode ser aplicada em diferentes materiais e formas, podendo ser utilizada até mesmo em conjunto com outros equipamentos de proteção individual (EPIs) como capacetes, abafadores, protetores auriculares e máscaras de proteção respiratória. O diretor de Marketing da Fhocus conta que, caso o usuário necessite de lentes corretivas, os óculos detectores de greening podem ser adaptados de acordo com o grau do usuário, seguindo a prescrição do oftalmologista.

Em sua pesquisa, Luiz Otávio dos Santos Arantes registrou que os trabalhadores declararam que o óculos promove conforto visual e diminui o esforço de identificação da doença, além do aumento da quantidade de plantas detectadas. “Todos gostaram e pediram para continuar usando o equipamento por facilitar muito o trabalho”, diz o ex-mestrando que acredita que os óculos ainda pode reduzir afastamentos.

O professor da UFSCar, Nilton Menegon, diz que a invenção foi inspirada em aplicações similares para identifcação de doenças em plantações e até mesmo para uso militar. Ele conta que o trabalho se baseou nessas tecnologias para desenvolver um filtro específico para greening. “Nosso trabalho foi identificar uma frequência que deixasse passar alguns comprimentos de onda e outros, não. A diferença entre a luz que chega aos óculos e aquela que passa por eles é o que permite a melhoria da capacidade perceptiva do operador”, explica.

Fonte Embrapa

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM