Opções de forragem conservada na Região Sul

A escolha na forma de preparo da forragem conservada depende de fatores como desenvolvimento das espécies, clima e investimento do produtor

O desenvolvimento final dos cultivos de inverno é o momento de preparar alimento conservado nas propriedades que trabalham com Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). O aproveitamento das áreas com pastagens de inverno agora dá lugar à lavoura de grãos de verão, especialmente a soja e o milho, em muitas propriedades da Região Sul. Com menor espaço para a engorda de gado e vacas de leite, a suplementação com forragem conservada é a estratégia para a manutenção do plantel, principalmente em épocas de escassez de pasto ou após vários dias de chuva que impedem a entrada nos piquetes.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo Renato Fontaneli, a profissionalização na elaboração da forragem conservada tem crescido na Região Sul em função do aumento da produção leiteira, já que as vacas são mais responsivas ao investimento: “as vacas leiteiras são exigentes quanto ao balanço de nutrientes e necessitam comer, praticamente, a mesma dieta todos os dias do ano”, explica ele, lembrando que, embora os custos de produção sejam mais elevados em comparação ao alimento colhido direto pelo animal no pastejo, a forragem armazenada ainda apresenta custo bem menor do que os concentrados (rações industriais e grãos).

Os cereais de inverno, como trigo, cevada, triticale, aveia, centeio, ou o azevém, podem ser colhidos e armazenados em forma de feno ou silagem. A silagem tem sido preferida nas propriedades da Região Sul devido à dificuldade de secagem da forragem para feno, com clima chuvoso na primavera que exige o uso de equipamentos e, até secadores, para atingir a umidade desejada.

Duas características são consideradas na escolha de uma espécie e cultivar: potencial de rendimento de biomassa seca e valor nutritivo. Por exemplo, a cevada rende, aproximadamente, a metade do rendimento de biomassa do centeio, mas com volume de biomassa semelhante a maioria das cultivares de trigo, de aveia preta e de azevém anual. Entretanto, quanto ao valor nutritivo, a silagem de cevada é superior, por exemplo em concentração de proteína bruta, consumo de matéria seca, digestibilidade e valor relativo da forragem.

Preparo de silagem com trigo – Foto: Joseani Antunes

Feno

Feno é um alimento com baixa umidade, conservado em fardos, retangulares ou cilíndricos, bem compactados para diminuir espaço de armazenamento e facilitar o manuseio. Deve ser protegido de chuvas (galpões), já que pode ser conservado por longo tempo, desde que bem abrigado de umidade.

Para obtenção de feno recomenda-se o corte do início do elongamento até o florescimento pleno (50% de panículas e espigas emitidas), onde há um balanço entre boa produção de forragem e valor nutritivo. Nesse estágio, é possível obter-se de 5,0 a 10,0 t/ha de matéria seca, com teores de proteína bruta de 10 a 13%. Atrasar o corte, significa perda de valor nutritivo superior ao maior acúmulo de matéria seca. As plantas são cortadas e enfardadas logo na sequência, por isso é importante evitar chuvas durante o corte, secagem e enfardamento do feno. A forragem deve ser enfardada somente quando estiver com menos de 20% de umidade, pois do contrário permitirá o desenvolvimento de microrganismos que comprometem a qualidade do feno. A chuva também lixivia nutrientes solúveis (açúcares) das folhas, reduzindo o valor nutritivo do feno.

Feno x Silagem?

A silagem é uma forma de conservação de menor custo e risco do que a fenação, em regiões de chuvas intensas como a primavera na Região Sul. Quando o período chuvoso não permite o enfardamento como feno, ensilar é a melhor alternativa, já que a silagem pode ser produzida com umidade de 55 a 65%.

As silagens pré-secadas ou murchadas tem menor risco do que fenadas, pois a necessidade de perda de umidade é menor (menor tempo no campo) quando comparado com o feno.
Contudo, as menores perdas estão na silagem de planta inteira, pois envolve menos operações de campo, apenas colheita direta e trituração da forragem a ser ensilada. Entretanto, silagem de planta inteira, geralmente tem menor valor nutritivo que silagens pré-secadas, pois são colhidas com plantas mais maduras que as outras formas de conservação de forragens.

Silagem

Silagem são forragens úmidas, conservadas em ambiente anaeróbio (sem entrada de oxigênio). Durante o processo de fermentação, parte dos açúcares da forragem é convertido em ácidos graxos de cadeia curta, principalmente os ácidos lático e acético, que baixam o pH e permitem conservar a forragem por longo tempo, podendo ser armazenado em um ano e utilizado em outro.

A conservação de forragens e grãos na forma de silagem depende diretamente da rápida queda e estabilização do pH. Para que isso ocorra, é necessário que a forragem colhida tenha adequada quantidade de açúcares prontamente fermentáveis. Quando cumprido esses requisitos ocorrerá estabelecimento e crescimento de bactérias do gênero homofentativas, as quais produzem somente ácido lático, que é o desejado, pois é um ácido forte capaz de baixar rapidamente o pH, resultando em menores perdas bioquímicas.

A ensilagem dos cultivos de inverno pode ser realizada de três formas: planta inteira, pré-secado e de grãos úmido.

Para obtenção de silagem de planta inteira, recomenda-se colher as plantas de cereais de inverno no estádio de grãos em massa, quando além de propiciar boa colheita de biomassa, consegue-se uma boa preservação dos nutrientes via fermentação. O teor de umidade deve ser entre 60 a 70%, média de 65%. É importante triturar bem o material a ser ensilado em partículas de 0,5 a 5,0 cm de comprimento, compactar bem no silo para diminuir a presença de oxigênio e a perda por respiração e permitir a condição de anaerobiose, cuidados indispensáveis para conseguir-se a obtenção de baixo pH em curto período, menos de 10 dias, para estabilização da forragem. A forragem armazenada, fermentada e estabilizada é chamada de silagem. Essa silagem terá geralmente, teor de proteína bruta entre 8 a 10%, menor que os pré-secados, mas bom valor energético, devido a presença de grãos.

O pré-secado é uma silagem que antes de ser armazenada sofreu uma perda de água para permitir fermentação. Essa diminuição da água ocorre no campo, onde material pode ficar em exposição ao sol algumas horas após o corte. Uma vez atingindo a concentração de matéria seca próximo a 45%, pode ser enfardado (rolos) e plastificado (com máquina envelopadora) para que não ocorra a penetração de água e mesmo oxigênio.

A silagem de grão úmido pode ser uma opção de suplementação concentrada no manejo alimentar de animais de produção, levando à redução significativa dos custos de alimentação. Ensilar o grão úmido permite antecipar a colheita em três a quatro semanas, dependendo da espécie e cultivar, liberando a área para plantio da cultura subsequente, otimizando o uso da terra. A prática também reduz significativamente as perdas a campo por condições climáticas adversas, além de diminuir a presença de fungos e toxinas nos grãos.

Para a ensilagem de grãos úmidos, a colheita dos grãos é realizada logo após a maturação fisiológica, ocasião em que se verifica teor de umidade ao redor de 28 a 35%. Caracteriza-se pelo momento em que cessa a translocação de nutrientes da planta para os grãos. A tecnologia de ensilagem de grãos deve seguir o mesmo princípio (fermentação anaeróbia) utilizado para a conservação de qualquer forrageira, ou seja, com todos os cuidados em relação à colheita, carregamento, compactação, vedação e posterior descarregamento do silo.

Experiência do produtor

O clima é o maior adversário do produtor Diógenes Basso, que produz forragem conservada em Pejuçara, RS: “Nossas decisões dependem sempre do clima. Nem sempre o momento ideal para fazer a silagem coincide com o clima ideal. Com a chuva, acabamos atrasando a colheita e as plantas viram um feno de menor valor nutritivo”.

A aposta do produtor Luiz Auri Visioli, em Catuípe, RS, é investir no trigo para silagem. Em parceria com o genro Odélio Pariagni, o cultivo do trigo de duplo propósito (pastejo e grãos ou silagem) contou com uma área de 10 hectares no ano passado, mesma área repetida nesta safra. A escolha foi a cultivar BRS Pastoreio, um trigo da Embrapa com ciclo longo entre a emergência e o espigamento, desenvolvido praticamente sem aristas que não irritam a mucosa dos animais. “Temos observado que o gado prefere a silagem de trigo pela melhor palatabilidade do que a silagem de milho. Apesar do milho resultar em maior volume de silagem, o trigo possui menor custo de produção”, compara Luiz Visioli, destacando que o trigo é cultivado no inverno, quando não existem muitas alternativas rentáveis.

Com o propósito de aumentar o volume de biomassa, o produtor plantou o trigo em consórcio com a aveia preta, o que acabou atrasando a colheita para silagem: “Fizemos dois pastejos e vamos colher a silagem em meados de outubro. A aveia atrasou por causa do frio e tivemos que segurar o trigo mais um pouco para começar a colheita com a mesma maturação dos grãos”, conta Luiz Visioli.

A orientação do pesquisador Renato Fontaneli é para o cuidado com a mistura de espécies, devido às diferenças no desenvolvimento adequado e estágio para serem colhidos: “Cultivares da mesma espécie são diferentes quanto ao ciclo, com variação maior ainda em espécies diferentes. De maneira geral, não é recomendável associações e consorciações entre espécies e, mesmo entre cultivares, para facilitar a identificação do momento adequado para colheita, processamento e armazenamento”.

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Fonte: Embrapa

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