Operação ‘Agrofraude’: esquema milionário fazia venda de defensivos ilegais

Polícia desmonta esquema milionário de venda de defensivos agrícolas ilegais; operação “Agrofraude” cumpre mandados em oito endereços e investiga grupo por crimes ambientais, fraudes fiscais e lavagem de dinheiro

A Polícia Civil deflagrou na manhã desta sexta-feira (24/10) a operação “Agrofraude”, que investiga um esquema criminoso de comercialização irregular de defensivos agrícolas, vulgo agrotóxicos, fraude fiscal e lavagem de dinheiro em São José do Rio Preto, interior do estado de São Paulo. A ação é resultado de seis meses de investigação conduzida pela Delegacia de Investigações Gerais (Dig), vinculada à Deic do Deinter-5.

Cerca de 40 policiais civis, distribuídos em oito equipes das divisões Dig, Dise, Seccold e Homicídios, cumpriram oito mandados de busca e apreensão em endereços da cidade, incluindo condomínios e bairros como Mais Parque, Alta Vista, Rios de Itália, Jardim Vila Flora, Jardim Jandira, Residencial Fraternidade, São Francisco, São Judas Tadeu e Residencial das Américas. Os investigados foram conduzidos à sede da Deic.

As apurações começaram em abril deste ano, quando os policiais realizaram buscas em um escritório de vendas online e em dois barracões na zona leste da cidade. No local, foram encontradas diversas irregularidades, inclusive crimes ambientais, o que levou à interdição dos imóveis e à suspensão dos CNPJs ligados ao grupo.

agrofraude - producao ilegal de agrotoxicos estoque
Foto: Polícia Civil

De acordo com a investigação, os líderes do esquema — dois irmãos — usavam empresas de fachada registradas em nome de “laranjas”, como um azulejista e uma atendente de lanchonete, para sonegar impostos e movimentar valores milionários em contas bancárias. Um contador também é apontado como peça-chave do grupo, responsável por abrir empresas fraudulentas e manipular balanços fiscais.

A Justiça determinou o bloqueio das contas bancárias e a indisponibilidade dos bens dos investigados. Além disso, veículos e dispositivos eletrônicos foram apreendidos durante o cumprimento dos mandados.

A Deic informou que a operação continua em andamento e que o material apreendido será analisado para aprofundar as investigações sobre a extensão do prejuízo fiscal e ambiental causado pelo grupo.

Mapa recolhe cerca de cinco toneladas de defensivos ilegais apreendidos
Foto: Mapa/Divulgação

Defensivos ilegais: uma ameaça silenciosa

A comercialização de defensivos ilegais e adulterados configura-se como um dos mais graves desafios enfrentados pelo agronegócio e pela saúde pública no Brasil. Produtos contrabandeados, falsificados ou com registro cancelado circulam no mercado paralelo, seduzindo produtores rurais com a promessa de preços mais baixos.

Do ponto de vista comercial, o impacto é devastador e atinge diversas esferas da economia. O mercado legal perde bilhões de reais anualmente para a ilegalidade, o que resulta em perdas de arrecadação de impostos e desestímulo à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos inovadores pelas indústrias que operam dentro da lei.

Adicionalmente, o uso de defensivos sem eficácia agronômica comprovada pode levar à perda total da lavoura por fitotoxicidade ou ineficácia no controle de pragas, gerando prejuízos incalculáveis para o produtor e comprometendo a segurança alimentar nacional.

A dimensão da ilegalidade ultrapassa as fronteiras e ameaça a reputação do agronegócio brasileiro no exterior. Produtos agrícolas contaminados com substâncias proibidas ou em níveis de resíduos superiores aos Limites Máximos de Resíduos (LMR) estabelecidos por países importadores podem desencadear embargos internacionais e barreiras técnicas comerciais. Isso não só prejudica a cadeia de exportação, vital para a balança comercial do país, como também lança dúvidas sobre a qualidade e a segurança dos alimentos produzidos em território nacional.

O aspecto sanitário é, talvez, o mais alarmante. Defensivos ilegais frequentemente contêm substâncias desconhecidas ou em concentrações inadequadas, com potencial de toxicidade severamente amplificado. A exposição a esses químicos coloca em risco a saúde do trabalhador rural — que manuseia o produto sem o devido conhecimento ou equipamento de proteção — e do consumidor final, que pode ingerir alimentos com resíduos perigosos. As consequências variam desde intoxicações agudas com sintomas imediatos até o desenvolvimento de doenças crônicas graves, como câncer, malformações congênitas e distúrbios neurológicos.

É imperativo que o combate a essa prática criminosa seja intensificado, por meio de uma ação integrada entre órgãos de fiscalização, polícia e o setor produtivo. A conscientização dos produtores rurais sobre os riscos de adquirir produtos de procedência duvidosa é fundamental, aliada a um rigoroso controle de fronteiras e punições mais severas para os envolvidos na produção e comercialização de defensivos agrícolas ilegais.

Somente assim será possível proteger a saúde da população, garantir a integridade do meio ambiente e preservar a competitividade e a imagem do agronegócio brasileiro.

Com informações da Gazeta de Rio Preto

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