Operação da Polícia Federal ‘atira’ no frango, mas abate o boi

Concentrada principalmente em irregularidades apuradas na produção de carnes de frango e suína, a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira, 17 de março, atingiu em cheio os exportadores de carne bovina, segmento que tem apenas uma planta sob investigação.

Depois que Hong Kong e Egito, que suspenderam as compras de carnes produzidas no Brasil, os embargos temporários à carne bovina já estão em vigor em uma lista de países (Hong Kong, Egito, China, Chile, Argélia, Jamaica e Trinidad e Tobago), que representou mais de 50% das exportações do produto em 2016.

Segundo estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a Operação Carne Fraca pode reduzir em US$ 1 bilhão o montante total estimado para as exportações brasileiras de carnes neste ano, o que significa 8% dos US$ 12.76 bilhões estimados pela AEB para a receita com os embarques conjuntos de carnes de frango, suína e bovina.

Até o fechamento desta edição, cinco países haviam restringido totalmente as carnes brasileiras. Juntos, quatro deles (Hong Kong, China, Egito e Chile) além da Argélia, que barrou a carne bovina in natura, e Jamaica e Trinidad e Tobago, que vetaram a carne bovina processada, desembolsaram US$ 2.8 bilhões para importar carne bovina do Brasil no ano passado, ou 50,9% da receita total. Os cálculos são baseados em dados da Secex compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Ao todo, as exportações somaram US$ 5.5 bilhões. Em volume, os quatros países importaram, em 2016, 765.900 toneladas, ou 54,5% do total.

Na segunda-feira, o presidente da ABIEC, Antonio Camardelli, já havia lamentado a dimensão dos reflexos deletérios da Operação Carne Fraca sobre o comércio internacional de carne bovina. Segundo ele, a investigação causou uma “crise desnecessária” justamente quando o segmento projetava uma retomada das vendas externas, que tiveram fraco desempenho em 2015 e em 2016.

Até aquele momento, no entanto, as restrições de Egito e Hong Kong não haviam sido comunicadas. Com elas, o quadro de embargos temporários se agravou, reforçando a situação negativa descrita por Camardelli, que também destacou que a Carne Fraca retirou as certezas de seu segmento. “Agora não temos mais certeza de nada”.

Dentre os importadores da carne bovina brasileira, os três clientes mais relevantes, Hong Kong, China e Egito, dos frigoríficos em 2016 impuseram travas. Quarto maior comprador da carne bovina brasileira em 2016, a Rússia ainda não se posicionou, assim como o Irã, quinto maior. O Chile, que também vetou os produtos brasileiros, foi no ano passado o sexto maior comprador.

No caso da carne suína, os embargos devem ter impacto significativo. Juntos, Hong Kong, China e Chile responderam no ano passado por 37% do faturamento das exportações, conforme a ABPA. No segmento de carne de frango, a dimensão dos embargos também não é desprezível, mas é muito menor que nos outros dois casos.

Os cinco mercados que vetaram totalmente os produtos brasileiros – o quinto é o México – foram responsáveis, no ano passado, por mais de 20% da receita de US$ 6.7 bilhões da receita obtida na exportação de carne de frango.

Para os exportadores brasileiros, a confirmação ontem de que o México também suspendeu as compras de carnes brasileiras caiu como um balde de água fria. Embora não esteja entre os dez maiores importadores de carne de frango, os mexicanos vinham sendo cortejados pelo Ministério da Agricultura.

Com a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA e suas rusgas com os mexicanos, o governo tinha esperança de abrir o México também às carnes bovina e suína, o que ficou mais difícil.

“O placar está contra nós”, lamentou uma fonte da indústria, lembrando que só a Coreia do Sul revogou o embargo que havia anunciado à BRF, ao passo que México, Hong Kong e Egito engrossaram a lista de países que anunciaram restrições, sem contar a Jamaica, que bloqueou a carne enlatada brasileira, e o Japão, que barrou os produtos dos 21 estabelecimentos sob suspeita, como já havia feito a União Europeia.

Em meio a notícias negativas, coube à Arábia Saudita trazer um alento, ainda que temporário. O país pediu explicações ao Ministério da Agricultura e intensificou os testes nos portos com as carnes vindas do Brasil, mas não as embargou. A Arábia Saudita é a maior importador de carne de frango do Brasil.

Fonte: Valor Econômico

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