Solos chegam ao centro dos diálogos globais, nacionais e regionais

Aproximadamente 33% dos solos do planeta estão degradados, segundo a FAO, comprometendo a segurança alimentar e a prestação de serviços ecossistêmicos.

Pesquisadora da Embrapa, atual chefe-geral da Embrapa Cocais e representante do Brasil e América Latina e Caribe no Painel Técnico Intergovernamental de Solos, fala sobre governança de solos e manejo sustentável do recurso. Em junho, com a assinatura do decreto pelo presidente da República, iniciou-se o Programa Nacional de Solos do Brasil – Pronasolos, coordenado pela Embrapa Solos.

Que o solo é um recurso natural e essencial à vida na Terra todos sabem. O que poucos sabem é que, além de garantir a produção de alimentos, fibra e energia, fornece serviços ambientais essenciais importantes para a regulação e abastecimento de água, regulação do clima, conservação da biodiversidade, sequestro de carbono, entre outros. E que aproximadamente 33% dos solos do planeta estão degradados, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, comprometendo a segurança alimentar e a prestação de serviços ecossistêmicos de hoje e para as gerações futuras. Esse contexto é o motivador de ações coordenadas de pesquisa nos últimos anos em nível global, nacional e regional, com a participação do Brasil e seus estados, incluindo o Maranhão, para conscientização sobre a situação e a importância do uso e manejo sustentável dos solos.

A atual chefe-geral da Embrapa Cocais, Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, que é doutora em solos e coordenou vários projetos de pesquisa nessa área, em nível nacional e internacional, com foco no mapeamento digital do solo, degradação da terra e agricultura sustentável – é um dos pesquisadores envolvidos na causa dos solos. Representante do Brasil e América Latina e Caribe no Painel Técnico Intergovernamental de Solos da FAO, de sigla ITPS em inglês, desde 2013, tendo sido reeleita e cujo segundo mandato encerra este ano, a pesquisadora apresenta ações realizadas e mostra repercussão do trabalho na esfera mundial nos países e regiões. “O solo é o berço da agricultura e responsável pela fixação do homem na terra. É o componente mais importante da produção e, a depender da forma como o tratamos, construiremos ou não um desenvolvimento em bases duradouras. É preciso conhecer melhor nossos solos para melhorar a produção agropecuária, a disponibilidade de água e ainda reduzir a quantidade de gases de efeito estuda na atmosfera, garantindo a sustentabilidade econômica, social e ambiental do planeta e a qualidade de vida e sobrevivência da população e das gerações futuras”, reforça.

O ITPS é constituído por 27 especialistas de solos do mundo em busca da gestão sustentável dos solos nas diversas agendas de desenvolvimento. A principal função desse Painel é proporcionar assessoramento científico e técnico à Aliança Mundial para os Solos (“Global Soil Partnership – GSP”), estabelecida pela FAO, em 2012, para deter os processos de degradação dos solos e seus principais problemas no mundo. O ITPS foi criado durante a primeira Assembleia Plenária da Aliança Mundial do Solo, realizada na sede da FAO, em Roma, em 2013.

Solos no mundo

Segundo Maria de Lourdes Mendonça, os solos nunca estiveram tão presentes em discussões conjuntas dos grandes painéis intergovernamentais do mundo, como o IPCC. Mas, graças aos trabalhos do Acordo de Paris, mais abrangente tratado intergovernamental sobre mudanças climáticas criado até agora e do qual o Brasil é signatário, foi de comum acordo que o carbono orgânico do solo é o principal fator para mitigação das mudanças climáticas. Para ela, a conscientização de que o manejo sustentável do solo é a chave para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas foi um processo que se iniciou com as pesquisas científicas e se fortaleceu com criação, desde 2012, da Aliança Mundial pelo Solo – AMS, cujas ações foram acolhidas pela comunidade internacional e que devem ser continuamente cultivadas para que se alcancem os objetivos propostos. “Os solos constituem a maior reserva de carbono terrestre. Quando manejados de forma sustentável, desempenham papel fundamental na adaptação e mitigação das mudanças climáticas e na produção de serviços ecossistêmicos, armazenando carbono (sequestro de carbono) e diminuindo as emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera. Além disso, os solos com alto teor de carbono orgânico são mais férteis e produtivos e atuam na purificação da água e são fonte de biodiversidade”, explica.

Por outro lado, continua a pesquisadora, quando o solo é mal manejado ou degradado, o carbono sequestrado e outros gases de efeito estufa resultantes da degradação são reliberados de volta para a atmosfera. Além disso, na presença de alterações climáticas e perda de biodiversidade, os solos tornaram-se um dos recursos mais vulneráveis do mundo. Isso significa que o reservatório de carbono do solo da Terra poderia liberar quantidades maciças de gases de efeito estufa para a atmosfera, ou sequestrar mais deles, dependendo do manejo que se dá a eles, vis-à-vis suas características intrínsecas. O segundo passo desse processo, de acordo com Maria de Lourdes, envolve as políticas públicas e legislações, que devem estimular o produtor na aplicação das boas práticas de manejo sustentável dos recursos solo e água.

Entre os exemplos de práticas de manejo adequadas à melhoria da qualidade do solo e à manutenção de suas funções, destaca: a manutenção da cobertura do solo pelo plantio direto, a rotação de culturas, a promoção do aumento do conteúdo de matéria orgânica do solo e da infiltração da água e a preservação da biota do solo, bem como as tecnologias de gestão eficiente da irrigação, o uso racional de insumos, a fixação biológica de nitrogênio e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). “Essas práticas têm reflexos no aumento da produtividade agrícola e na mitigação de gases de efeito estufa, garantindo, dessa forma, sua sustentabilidade ao longo do tempo”.

Via Embrapa

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