Parceria entre Embrapa e ACGJB marcam início do Melhoramento da Jersey

O programa de melhoramento genético irá representar um salto positivo não apenas para os criadores de Jersey mas também para o aumento de produção de leite

Coordenadora de programas de melhoramento genético de bovinos das raças Gir Leiteiro, Girolando, Guzerá e Holandês, que possuem grande importância para o desenvolvimento da pecuária leiteira nacional, a Embrapa Gado de Leite inicia neste ano as ações do Programa Nacional de Melhoramento do Jersey. Em visita à sede da instituição, em Juiz de Fora – MG, dirigentes da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil (ACGJB), oficializaram a parceria que irá contar ferramentas de última geração, como marcadores moleculares e seleção genômica no desenvolvimento da raça.

Elizabeth Nogueira Fernandes, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, saudou a parceria com a ACGJB ressaltando que a raça é a que possui o maior teor de sólidos no leite (cerca de 30% a mais que a raça Holandesa). “O programa de melhoramento genético irá representar um salto positivo não apenas para os criadores de Jersey, mas também para o aumento de produção de leite e de sólidos na pecuária nacional”, afirma a gestora.

Nelci Mainardes, criador de Jersey em Castro – PR há quase 20 anos e presidente da ACGJB, diz que a parceria com a Embrapa abre novos horizontes para os criadores. Segundo ele, a ABCGJ possui em torno de 700 sócios ativos e 50 mil animais registrados (10% do rebanho Jersey existente no país). Com o programa de melhoramento, o controle leiteiro será otimizado, com auditagem da Associação. “Além do programa de melhoramento, estamos levando outros serviços para os associados, como a assistência técnica e a criação de um banco de dados da raça”, diz o presidente.

Marco Antônio Machado, chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite, realça a importância dos programas de melhoramento genético da Embrapa, que tiveram início, em 1985, com o PNMGL (Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro). Há duas décadas, os pesquisadores introduziram as ferramentas genômicas no processo de seleção, dando maior acurácia ao melhoramento. “Atualmente temos 33 mil animais Gir Leiteiro genotipados, além de outros 25 mil da raça Girolando, configurando o maior programa de gado zebuíno do mundo”, informa Machado.

Representando 5% da produção de leite brasileira, os maiores rebanhos de Jersey estão concentrados em Minas Gerais e nos estados da Região Sul. Embora a vaca Jersey produza menos leite que a Holandesa, o alto teor de sólidos é a grande vantagem da raça. A composição do leite é formada por 5,5% de gordura, 3,9% de proteína, 4,9% de lactose e 15% de sólidos totais. Na entrevista abaixo, o pesquisador, Marcos Vinícius G.B. da Silva, gestor técnico pela Embrapa Gado de Leite do Programa de Melhoramento da Raça Jersey, fala sobre o potencial da raça e o cruzamento com a raça Holandesa:

Um preconceito existente em relação à raça Jersey se relaciona ao tamanho. Isso tem alguma importância econômica para o produtor?

Marcos Vinícius – Se estamos falando da venda do bezerro Jersey (puro ou mestiço), provavelmente o valor deverá ser menor em comparação às outras raças. No entanto, as vacas Jersey são incrivelmente eficientes na conversão alimentar, reduzindo os custos com alimentação de 13% a 18% quando comparadas às vacas da raça Holandesa. A habilidade da vaca Jersey e seus mestiços em utilizar a energia do alimento na produção de leite é uma vantagem econômica devido ao alto custo da alimentação do rebanho. A redução dos custos de alimentação resulta em menos terra a ser usada para este fim e menores gastos para colher e estocar grão e silagem. Além disso, a raça possui características positivas do ponto de vista econômico, como a capacidade de parir a uma idade mais precoce. Podemos então concluir que o tamanho da raça é uma vantagem, não um problema.

E quais seriam as vantagens do cruzamento Jersey/Holandês (Jersolando)?

Marcos Vinícius – Nos estudos realizados pela Embrapa, verificou-se que a vaca Jersolando apresentou menor emissão de gases de efeito estufa por vaca por quilo de leite produzido. Além disso, em relação à capacidade de lotação, é possível ter uma vaca a mais por hectare, quando comparado a um rebanho Holandês puro. As pesquisas mostram também que o mestiço Jersey/Holandês apresenta maior teor de sólidos do leite, maior fertilidade, longevidade e facilidade de parto, além da redução dos problemas de endogamia.

Austrália e Nova Zelândia são grandes produtores de leite com as raças Jersey e Jersolando. O que as instituições de pesquisa desses países afirmam em relação a essas raças?

Marcos Vinícius – Os trabalhos desenvolvidos por universidades e centros de pesquisa com rebanhos experimentais nesses países e também nos EUA, mostraram que a produção de leite, gordura e proteína por litro de leite de vaca/ano dos animais mestiços Holandês X Jersey são superiores às raças puras. O mesmo acontece com a relação produção de leite/hectare/ano. Produtores australianos e neozelandeses constataram melhores escores da taxa de concepção e sobrevivência do bezerro mestiço. Os estudos também indicam melhor taxa de prenhez, facilidade de parto, maior índice de sólidos no leite e de sobrevivência do bezerro Jersolando quando comparado as raças puras.

No Brasil, o Girolando (Gir/Holandês) já é reconhecida como raça sintética pelo Ministério da Agricultura. Qual a vantagem o para o Jersolando também ser reconhecida como uma raça sintética?

Fonte: Embrapa

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