Patrimônio bilionário do “Rei da Soja” vira disputa entre herdeiros

Conflito, que envolve suspeita de falsificação de assinaturas, pode impactar uma das maiores empresas do agronegócio brasileiro, com atuação em outros sete países. O Grupo Amaggi pertence a família do ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

Assim como a pacata São Miguel do Iguaçu, no interior do Paraná, onde começaram os negócios da família Maggi, a rotina entre os herdeiros do homem que chegou ser conhecido como o “Rei da Soja” seguia normalmente até o mês passado.

No entanto, uma descoberta recente tem mexido com todos os integrantes do clã e pode interferir no futuro de um dos maiores conglomerados de empresas do agronegócio do mundo, com atuação no Brasil, China, Argentina, Paraguai, Holanda, Noruega, Suíça e Cingapura.

A família Maggi, dona de um império da soja no País, vive uma disputa patrimonial interna. Uma das filhas de André Antônio Maggi , fundador da Amaggi , entrou com processo na Justiça para questionar a divisão societária de empresas do grupo. Fruto de um relacionamento extraconjugal, Carina Maggi Martins diz ter sido “enganada” pelo restante da família e suspeita da herança que recebeu vinte anos atrás.

lTudo começou em 1955, quando o gaúcho André Antônio Maggi montou uma empresa de processamento de grãos no Paraná. Em pouco tempo, ampliou a atuação para o Mato Grosso. Logo passou a figurar no ranking de maiores produtores de soja do país.

André Maggi morreu em 2001, com o Mal de Parkinson em estágio avançado. Diante disso, a esposa Lúcia Maggi, os filhos e os genros assumiram os negócios. Hoje, todos estão na lista de bilionários da Forbes, cada um com patrimônio médio superior a R$ 6 bilhões.

Nesse total estão incluídas as chamadas “joias” do grupo: a Agropecuária Maggi e a Sementes Maggi — os alvos da disputa entre herdeiros.

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No dia em que o patriarca da família morreu, uma filha concebida fora do casamento passou a ser reconhecida pelos irmãos. Ainda durante o velório, ela teria sido orientada a fazer o exame de DNA.

Carina Maggi nasceu em 1981. Os avós maternos trabalhavam em uma fazenda dos Maggi.

Segundo ela, desde criança sabia que era filha de André Maggi. Mas preferiu viver discretamente, com uma “pensão informal” que também envolvia o pagamento das despesas escolares.

Depois que a paternidade foi reconhecida oficialmente, Carina passou a usar o sobrenome do pai e, em razão do falecimento do pai, foi chamada pelos irmãos para a partilha do patrimônio.

Na ocasião, Carina recebeu, à época, o equivalente a R$ 1,9 milhão (corrigido pelo IGP-M, isso seria hoje algo como R$ 10,6 milhões). O valor recebido por ela na partilha, por meio de acordo sobre o espólio, foi idêntico ao que os cinco irmãos receberam. No acerto, promovido perante a Justiça, ela aceitou ceder seus direitos e ficar excluído da condição de herdeira, o que na prática a retiraria de futuras divisões de bens.

Carina seguiu a vida, e junto ao marido e filhos viraram produtores de soja. Dedicação total ao campo. Até que recentemente precisou tratar de assuntos ligados a André Maggi. Ela teve acesso a documentos das empresas que eram do pai.

A herdeira se assustou ao saber das mudanças realizadas na composição societária das firmas nos meses que antecederam a morte. E mais: as assinaturas, de acordo com ela, teriam sinais de falsificação.

Ou seja: antes de morrer, o pai “doou” para a esposa as cotas que tinha nas duas principais empresas do grupo. Com isso, esses itens não entraram na partilha de bens entre os filhos.

“No patrimônio dessas empresas estavam as maiores fazendas, camionetes, caminhões, máquinas agrícolas que custam milhões de reais, tudo de alto valor. Uma aparente manobra para não entrar na distribuição entre os herdeiros”, explicou o advogado Isaias Diniz, que juntamente com Josmeyr de Oliveira atuam na causa de Carina.

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Assim que terminar o recesso do judiciário, a defesa deve ingressar com ação na Justiça do Mato Grosso pedindo a nulidade dessas transferências de cotas das empresas.

Para embasar o pedido, uma perita especializada em análise documental e grafotécnica foi contratada. O laudo conclui que as assinaturas das alterações de contrato social não batem com outras mais antigas.

Há ainda duas assinaturas, em curto intervalo de tempo, em que a primeira é “tremida, por conta do Parkinson” e a outra “perfeita” assinada poucos dias à frente. “Será que ele foi curado nesse meio tempo?” questiona o advogado.

Paralelamente a isso, os advogados pretendem representar contra o grupo Amaggi na The US Security and Exchange Communit (SEC), o órgão dos Estados Unidos equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil.

A medida, conforme a defesa, será feita porque as empresas atuam em território norte-americano e “precisam deixar claro ao mercado que documentos relevantes que as envolvem estão sob suspeição”, Isaias Diniz.

Por sua vez, os advogados da viúva, Lúcia Maggi, e dos filhos Blairo , Marli, Maria de Fátima, Vera Lúcia e Rosângela Maggi, argumentaram na Justiça que o acordo assinado em 2002 não deveria ser rediscutido. Segundo eles, Carina Maggi aceitou os termos, tendo sido assistida pela mãe, por juiz e promotor de Justiça, além de ter perdido o prazo para questioná-lo. A defesa dos Maggi diz que o acordo foi validado na instância superior e que todos os irmãos receberam o mesmo valor, apurou a reportagem. 

Procurada para dar sua versão, a família informou, por meio da comunicação de assessoria da Amaggi, que “não irá comentar o assunto, reservando-se a tratá-lo somente na esfera judicial”.

“Ele (André Maggi) não poderia ter feito isso, até para uma discussão entre os filhos, mas nem todos foram prejudicados. Tenho certeza que os demais irmãos depois foram aquinhoados pela mãe. Mas a Carina não fazia parte desse ‘direito’ que eles criaram”, diz Josmeyr Oliveira, advogado de Carina Maggi. “Discutimos se ele estava lúcido.”

Compre Rural com informações da CNN Brasil, Estadão Conteúdo e Amaggi.

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