
Enquanto algodão, café e laranja se concentram em poucas regiões, a pecuária com a criação de gado está presente em todo o território e envolve 56 microrregiões
A agropecuária brasileira é marcada por fortes polos produtivos: o algodão se concentra em apenas três microrregiões, a laranja está praticamente toda em São Paulo e o café tem sua força em Minas Gerais. No entanto, um setor foge completamente dessa lógica. A pecuária bovina é a atividade menos concentrada do agronegócio nacional, presente de forma expressiva em todas as cinco regiões do Brasil.
De acordo com o SITE-MLog, plataforma da Embrapa Territorial, são necessárias 56 microrregiões para alcançar metade da produção bovina nacional. Esse número contrasta com cadeias produtivas mais concentradas, como aves e suínos no Sul, ou mesmo a cana-de-açúcar, majoritariamente produzida no estado de São Paulo e arredores.
Pecuária presente do Norte ao Sul
A força da bovinocultura vai além da tradicional imagem do Centro-Oeste como coração do gado brasileiro. O estudo mostra que a atividade é também a que mais envolve a Região Norte, com estados como Pará, Rondônia e Tocantins entre os grandes destaques no efetivo de rebanho. Esse cenário reforça a característica de desconcentração territorial da pecuária, algo raro no agro brasileiro.
Segundo André Rodrigo Farias, analista da Embrapa Territorial, essa distribuição ocorre porque a pecuária bovina pode ser realizada em diferentes sistemas produtivos, com alta ou baixa tecnologia, o que facilita sua adaptação a distintos solos, climas e realidades econômicas. Além disso, trata-se de uma das atividades mais antigas do país, que se espalhou historicamente por diferentes territórios.
O contraste com outras cadeias do agro
O estudo mostra contrastes impressionantes:
- Algodão: apenas Parecis e Alto Teles Pires (MT) e Barreiras (BA) responderam por metade da produção nacional em 2023.
- Laranja: em São Paulo, quatro microrregiões concentram um quarto da safra nacional.
- Café: mesmo com polos em outros estados, Minas Gerais domina amplamente a atividade.
- Soja e milho: embora espalhados pelo Brasil, seis microrregiões de soja e quatro de milho concentram 25% da produção.
Enquanto essas culturas e cadeias se organizam em torno de polos bem definidos, a pecuária bovina apresenta um perfil distinto: não depende de maquinário complexo, pode ser conduzida em diferentes escalas e se adaptou às mais variadas realidades regionais.
Relevância estratégica da pecuária
Essa desconcentração não é apenas uma curiosidade estatística: ela tem impacto direto na logística e nas políticas públicas. No caso de cadeias concentradas, como café ou laranja, a infraestrutura se organiza em torno de rotas específicas de exportação, como o Porto de Santos. Já na pecuária, a dispersão exige múltiplos corredores logísticos, com diferentes portos, rodovias e até rotas hidroviárias.
Além disso, a distribuição territorial da pecuária amplia seu peso estratégico: o gado está presente em praticamente todos os biomas do Brasil, o que garante relevância econômica, geração de empregos e integração das regiões ao mercado nacional e internacional de carnes.
Enquanto culturas como algodão, laranja e café estão restritas a poucos territórios, a pecuária bovina se destaca como a mais capilarizada e distribuída entre todas as regiões do Brasil. Essa característica ajuda a explicar por que o país ocupa posição de liderança mundial na produção e exportação de carne bovina, e reforça o papel estratégico da atividade para o desenvolvimento regional.
No agro brasileiro, o gado está em todos os cantos — do Pará ao Rio Grande do Sul, do Tocantins a Mato Grosso, do interior de Minas às fronteiras do Pantanal. Essa presença nacional mostra que a pecuária não é apenas uma atividade econômica, mas um elo que conecta diferentes regiões em torno de um dos maiores patrimônios do campo brasileiro.
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