Pecuária: Frame size não deve ser indicador decisivo

Especialista recomenda que o produtor avalie outros critérios antes de escolher seus touros ou comprar sêmen no mercado.

Parâmetro usado no velho oeste americano, quando não existiam balanças para pesar os animais na hora de comercializá-los – e não era justo precificar apenas por cabeça -, o frame size é popular até hoje, sendo nada mais nada menos do que uma medida da altura do animal. “Sabemos que há alta correlação entre altura e o peso. Então, se naturalizou a ideia de que ao escolher os animais mais altos, você estava escolhendo os mais pesados”, diz Tiago Carrara, gerente de mercado na Alta Genetics.

Mas para que serve essa medida hoje diante de tantos outros indicadores?

Disseminação do conceito – De acordo com Carrara, o frame size ganhou força no Brasil porque, no passado, alguns produtores chegaram à conclusão – por experiência prática ou por desconhecer outras informações envolvidas – de que touros com maior frame size teriam mais sucesso no confinamento. “Isso foi tão divulgado, que hoje temos diversos produtores escolhendo dessa forma, apesar de existirem múltiplas informações no catálogo das centrais”.

Critério interessante, mas não indiscutível, o frame size não deve ser olhado de forma isolada, segundo o especialista. “Na genética, eu tenho perfis mais adequados para cada tipo de sistema. A genética certa no lugar certo agrega em produtividade, mas a errada no lugar certo pode limitar o rendimento”, conta Carrara. Por isso, é tão importante encontrar o melhor modelo para cada propriedade.

E por que o frame size não é tão preciso? – Primeiro, porque ele foca apenas na altura e deixa de lado outras medidas importantes de determinação de peso, como comprimento, profundidade e arqueamento. E, segundo, porque o ambiente em que o animal se desenvolveu é decisivo para explicar dados do seu porte. “Um animal que foi criado em cocheira, por exemplo, que vai participar da pista, tende a ser maior do que se fosse criado a pasto. Ele fica com maior frame size do que outro animal com o mesmo potencial genético. Então é uma medida de baixa confiança”.

Além disso, a altura do animal traz consigo outras características que podem ou não ser interessantes para diferentes sistemas, e que muitas vezes são desconsideradas. Um exemplo é a questão nutricional. Carrara lembra que animais de frame size maior, via de regra, têm maior poder de conversão alimentar, mas também são mais exigentes. Em condições mínimas de manejo, terão desempenho pior. E, por serem grandes, a dificuldade de parto pode aumentar.

Ainda é possível ter problemas de fertilidade, porque mais energia é conduzida para o crescimento, e menos para a área reprodutiva. “Para quem está pensando em algo terminal, que vai matar machos e fêmeas, olhar somente para o frame size pode ser interessante, mas não tanto para quem tem ciclo completo, que faz reposição. Porque as características negativas que vêm junto são muito importantes para a fêmea”, afirma.

De acordo com ele, o acabamento de carcaça também tem relação negativa com o frame size, porque, quanto maior ele é, menos energia é direcionada para a deposição de gordura. “Vemos muitos animais machos jovens não castrados chegando sem o devido acabamento nos frigoríficos. E, provavelmente, esse erro não está sendo causado pela dieta, mas, sim, pela escolha genética feita lá atrás, quando um animal muito grande foi escolhido para aquele sistema”.

touro angus
Foto: Divulgação

Como fazer a melhor escolha genética para seu sistema? – Com planejamento e aproveitando as informações disponíveis. Para uso na fazenda, Carrara recomenda que sejam avaliados os aspectos visuais, como o frame size, e índices zootécnicos – prenhez, desmame, entre outros -, o que muda se o produtor trabalha com genética. “Se eu trabalhar somente com recria, posso olhar o tamanho dos animais que estou comprando, o peso deles no momento da compra e assim definir o perfil genético que quero estabelecer para o meu sistema. Se é um perfil mais agressivo em ganho de peso, mais exigente, ou se é perfil menos agressivo, mas mais adequado para meu sistema, que às vezes não é tão intensivo”, explica o gerente da Alta. “Mas não posso apenas aumentar a exigência dessa genética e não dar subsídio para o sistema. Eles são um casamento que vai seguir para o resto da vida”.

Na hora de se planejar, alguns passos podem ajudá-lo a determinar qual a melhor genética para sua propriedade. Veja abaixo:

1) Descreva seu sistema e defina seu objetivo de produção.

Comece descrevendo as características do seu sistema: se é extensivo, semi-intensivo ou intensivo; qual região do país ocupa; o nível de tecnologia empregada; qual o manejo nutricional; tipo de reposição – e se depende da compra de animais no mercado ou não; qual o produto final de venda; mercado comprador e suas exigências. “Com isso, é possível definir o objetivo de produção. E, com ele, você faz seu planejamento genético, nutricional, sanitário”, diz o gerente. Entre os objetivos de produção estão, por exemplo, produzir bezerros com alto potencial de ganho de peso pós-desmama ou bois com 21 @ aos 20 meses e com gordura uniforme, ele explica.

2) Encontre os indicadores de desempenho que mais impactam o sistema

Defina, dentro dos objetivos de produção estipulados, os pontos que mais impactam nos custos e receitas da propriedade e melhore esses índices. “Se eu vendo animais para o frigorífico, qual ponto importante? O peso do animal. Então tenho que aumentar esse número. Se trabalho com ciclo completo, qual aspecto importante para redução de custos? A fertilidade das minhas vacas. Então o primeiro passo é eleger esses indicadores e trabalhar em cima deles”.

A segunda etapa, esclarece Carrara, é coletar as informações para calcular essas medidas. “Suponha que um indicador seja o de quilos de bezerro por hectare. Quais informações é preciso coletar? Área explorada, depois quem é o bezerro, a mãe e o pai dele, dia em que nasceu, quanto pesou na desmama e a data dela. Com isso, consigo fazer um cálculo de todo o grupo, mas também individual, por lote, por vaca, por pai de cada bezerro. E aí, monitorando esses desempenhos e indicadores, eu começo a traçar um perfil genético para trabalhar dentro do meu sistema”. Essas informações darão base para uma orientação de seleção e descarte mais precisa, e ajudarão a definir os investimentos em genética – por meio de sêmen ou touro para monta natural.

3) Eleja critérios próprios

Cada propriedade é diferente e precisa de uma genética específica, que se adeque aos objetivos, custos e ao sistema. As etapas anteriores vão fornecer a munição necessária para que, dentro das várias características apresentadas nos sumários – que podem ficar em torno de 28 -, você separe as mais importantes para o seu caso. O ideal, segundo Carrara, é agrupar os aspectos mais próximos e, então, eleger critérios e índices próprios para ranquear e definir filtros de seleção para os touros. “Essa parte requer conhecimento técnico. Se você não tem, busque junto ao seu fornecedor de insumos. Todo mundo capacita a equipe para poder ajudar o produtor nesse sentido. Mas faça uma escolha consciente, com mais precisão e não baseada apenas no frame size”.

Fonte: Portal DBO

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