Pela primeira vez na história, abate de fêmeas supera o de machos no Brasil

Fenômeno inédito desde 1997 levanta alerta para o ciclo pecuário e os impactos na reposição do rebanho; abate de fêmeas supera o de machos, que registraram alta de 16% em relação ao ano anterior

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe um dado histórico que acendeu o sinal de alerta no setor pecuário: pela primeira vez desde o início da série histórica, em 1997, o número de fêmeas abatidas superou o de machos no Brasil. O levantamento, referente ao 2º trimestre de 2025, mostra que foram abatidas 10,46 milhões de cabeças de bovinos, um crescimento de 3,9% frente ao mesmo período de 2024. Porém, o destaque ficou para a participação das fêmeas, que registraram alta de 16% no abate em relação ao ano anterior.

Recorde no abate de fêmeas

De acordo com a gerente da pesquisa, Angela Lordão, o movimento é expressivo e rompe um padrão que vinha se repetindo há quase três décadas. “O abate de fêmeas seguiu em crescimento e, apesar da sazonalidade esperada no período, atingiu o maior nível da série histórica da pesquisa, superando pela primeira vez a participação dos machos”, destacou.

Entre as fêmeas, chama atenção a forte presença das novilhas, que representaram 33% do total. O aumento desse abate está ligado, sobretudo, à demanda de exportação, que absorve grande parte das carnes jovens por sua maciez e padrão de qualidade. Mesmo em estados tradicionalmente fortes na pecuária, como o Mato Grosso, o número de fêmeas encaminhadas ao frigorífico foi maior do que no ano passado, mesmo com queda no volume geral de abates.

O que isso significa para o ciclo pecuário?

O ciclo pecuário brasileiro é caracterizado por fases de retenção e descarte de matrizes, o que influencia diretamente na oferta futura de animais. O aumento expressivo no abate de vacas e novilhas indica que o país pode estar atravessando um momento de descarte acelerado de matrizes, reduzindo a base de produção de bezerros nos próximos anos.

Esse fenômeno, historicamente, costuma ser reflexo de alguns fatores:

  • Pressão de preços: quando o custo de manutenção das fêmeas não compensa frente às margens do boi gordo;
  • Demanda externa aquecida: exportações em alta incentivam a indústria a absorver animais mais jovens;
  • Alongamento das escalas de abate: frigoríficos encontram maior oferta de fêmeas e alongam os prazos, pressionando ainda mais o mercado.

Impactos esperados para os próximos anos

Se mantido esse ritmo, o abate elevado de matrizes deve reduzir a oferta de bezerros a médio prazo, impactando diretamente na reposição do rebanho. Esse cenário tende a provocar uma reação em cadeia:

  • Escassez de bezerros: com menos matrizes disponíveis, a produção de bezerros cai, reduzindo a oferta futura;
  • Valorização dos animais de reposição: a procura por bezerros e novilhas de reposição tende a aumentar, elevando preços;
  • Ciclo de alta no boi gordo: com a oferta de animais terminados reduzida nos próximos anos, o mercado pode entrar em uma fase de valorização, beneficiando pecuaristas que conseguirem manter sua base de matrizes.

O desafio da sustentabilidade do rebanho

O dado do IBGE também reacende discussões sobre a sustentabilidade do rebanho nacional. O Brasil, que possui o maior rebanho comercial do mundo, precisa equilibrar atender à forte demanda internacional por carne bovina e ao mesmo tempo garantir a manutenção da capacidade de produção a longo prazo.

A decisão de muitos pecuaristas em descarregar matrizes para o abate imediato pode trazer ganhos no curto prazo, mas compromete a oferta futura e pode gerar alta de custos na reposição. A estratégia mais eficiente, segundo analistas, será dosar a liquidez momentânea com a preservação das fêmeas, especialmente em um cenário de ciclo de alta que se desenha.


📌 Em resumo: O recorde histórico de abate de fêmeas sinaliza uma mudança significativa no ciclo pecuário brasileiro. O setor deve se preparar para um futuro de menor oferta de bezerros, valorização da reposição e possível alta no boi gordo. A questão que se impõe é: até que ponto essa intensificação do abate de matrizes é sustentável para a pecuária nacional?

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