Pequenos produtores de leite deixam a atividade, entenda!

Muitos produtores estão deixando a atividade que se concentra, cada vez mais, em grandes propriedades de alta tecnificação e elevada produtividade. E agora?

A pecuária leiteira tem é um importante setor da economia nacional, gerando renda e emprego pelo país. Entretanto, estamos vivendo um momento de mudança na cadeia produtiva do setor. Da porteira pra dentro, muitos produtores estão deixando a atividade que se concentra, cada vez mais, em grandes propriedades de alta tecnificação e elevada produtividade.

A tendência é universal: concentrar para otimizar. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) está preocupada com um fenômeno que ocorre no campo: o intenso abandono da atividade leiteira por produtores rurais.

Segundo a Federação, já na década de 1990 – de acordo com dados da Secretaria da Agricultura – existiam em território catarinense 75.000 produtores de leite. Agora, em 2022, são apenas 24.000 produtores. Essa é uma debandada que traz grande risco as microrregiões onde vem ocorrendo este fenômeno.

Essa brutal redução de 68% do número de estabelecimentos rurais dedicados à pecuária leiteira está levando a uma forte concentração da produção“, observa o vice-presidente da FAESC, Enori Barbieri.

É comum ouvir falar que a pecuária não é rentável, que ela perde para a agricultura, que o pecuarista está desatualizado, que ele vai perder área para agricultura. E isso não é uma “meia verdade”. Nos próximos 20 anos, 60% dos pecuaristas que estão em atividade no Brasil vão desaparecer. Em contraponto a má notícia, a produção pecuária será maior daqui a duas décadas.

O fenômeno é explicado pela possibilidade de um negócio não rentável ser substituído por um lucrativo, ou seja, pequenos produtores de gado poderão abandonar a atividade por não terem lucro. A avaliação é do Consultor em gestão de projetos para a pecuária de corte e diretor da Sociedade Rural Brasileira, Francisco Vila.

O pecuarista precisa acompanhar a evolução tecnológica e as mudanças de mercado, entretanto, informações de qualidade e orientação de quais os melhores caminhos a seguir

O produtor Gerôncio Antônio de Souza lamenta o valor que recebeu da indústria pela entrega feita em abril. Foto: Divulgação

Debandada da atividade já começou

Nos últimos três anos verificou-se a maior taxa de abandono, consequência da conjugação de vários fatores como as secas que reduziram a oferta de alimento para o gado e a crise econômica que achatou o poder de consumo da população.

Outros fatores também interferem nesse fenômeno. Os pequenos produtores, por falta de capacidade de investimento, não puderam acompanhar as novas tecnologias, portanto tiveram dificuldade em ampliar a produção e a produtividade. Assim, perseveraram na atividade os proprietários de estabelecimentos maiores, com alto grau de automação e agregação de tecnologia que apresentam melhor qualidade, maior produtividade e balanceamento dos custos.

“O microprodutor ficou de fora porque produzia pouco e para a indústria não compensa enviar o caminhão de coleta para apanhar a matéria-prima de um produtor com 3 ou 4 vacas”, explica Barbieri. Entretanto, a maior taxa de desistência é daqueles que não conseguem produzir dentro da propriedade os insumos necessários para nutrição das vacas. Esses produtores não conseguem aumentar o plantel porque não tem comida para o rebanho – o que representa o maior item nos custos de produção.

O êxodo rural associado à sucessão nas famílias rurais também tem influência nesse cenário. Os filhos se mudam para as cidades e optam por atividades urbanas, enquanto os pais permanecem até encerrar o trabalho no campo e vender a propriedade rural.

O dirigente prevê que a concentração irá aumentar, favorecendo o surgimento de grandes e médias propriedades, com áreas mecanizadas onde o proprietário consegue plantar o pasto, fazer feno e manter baixos os custos de produção.

A situação foi acelerada no último triênio com grande desistência da pecuária leiteira por causas multifatoriais. Além do êxodo rural, da falta de capacidade de investimento e da interrupção da sucessão nas propriedades, a seca afetou a produtividade, a crise financeira baixou o consumo, o preço caiu e os custos subiram. 

A evolução do agronegócio exige, cada vez mais, que o produtor tenha estratégias de curto, médio e longo prazo bem definidas e modelos de produção estabelecidos para o seu negócio.

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