
Estudo da USP revela que a maciez, o marmoreio e o sabor da carne do Wagyu podem ser mantidos com abate antecipado, abrindo novas perspectivas para a pecuária de corte no Brasil
A carne de Wagyu é reconhecida internacionalmente como um dos cortes mais nobres e valorizados do mundo, principalmente pela presença de alto marmoreio, maciez e sabor inconfundível. No entanto, a produção dessa carne sempre esteve associada a um ciclo de engorda prolongado, com abates tardios que ultrapassam 40 meses de idade. Esse tempo elevado de permanência no sistema produtivo, além de encarecer o processo, limita a rentabilidade do pecuarista.
Agora, um estudo inédito conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu (ABCBRW), comprova que é possível reduzir em até 15 meses a idade de abate sem comprometer os atributos de qualidade da carne. A descoberta representa um marco para a pecuária de corte nacional, ao demonstrar que o Wagyu pode ser produzido de forma mais eficiente, rentável e sustentável.
O experimento: 28 meses vs. 43 meses
A pesquisa acompanhou animais da raça Wagyu Kuroge, criados na Fazenda Yakult, em Bragança Paulista (SP). Foram avaliados dois grupos de machos castrados, submetidos às mesmas condições de manejo e dieta:
- Grupo 1: abatido aos 28 meses, com peso médio de 607,3 kg.
- Grupo 2: abatido aos 43 meses, com peso médio de 827,8 kg.
Os resultados mostraram que, mesmo abatidos mais cedo, os animais jovens apresentaram carne macia, com elevado marmoreio, boa palatabilidade e excelente aceitação sensorial. Ou seja, a redução da idade não comprometeu características fundamentais para o mercado gourmet.
Impactos para toda a cadeia da carne
O encurtamento do ciclo produtivo traz vantagens para todos os elos da cadeia:
- Produtores: obtêm menor custo de produção, maior giro de capital e aumento da rentabilidade das fazendas.
- Indústria: recebe carcaças mais consistentes, com melhor rendimento de cortes e menor perda durante a desossa.
- Mercado gourmet: ganha cortes de tamanho mais adequado ao consumo, mantendo qualidade premium.
- Consumidores: têm acesso a carne de altíssimo padrão, produzida com menor impacto ambiental, já que o tempo de permanência do animal no sistema é reduzido.
Segundo a professora Angélica Simone Cravo Pereira, responsável pela orientação da pesquisa, a descoberta abre espaço para que o Brasil fortaleça sua posição no mercado de carnes nobres, conciliando eficiência produtiva e excelência de qualidade.
Influência das linhagens na carne do Wagyu
Além da idade de abate, o estudo também avaliou diferentes linhagens do Wagyu Kuroge: Tajima, Hiroshima, Alto Tajima e Itozakura. Todas demonstraram elevado valor agregado, mas as linhagens Hiroshima e 100% Tajima se destacaram por apresentarem maiores escores de marmorização e carne ainda mais macia e saborosa.
Essa informação é estratégica para os criadores brasileiros, pois possibilita identificar quais linhagens apresentam melhor custo-benefício dentro da realidade produtiva nacional.
Saúde, nutrição e aceitação do consumidor
Outro ponto analisado na pesquisa foi o perfil de ácidos graxos e índices nutricionais da carne. Animais mais jovens apresentaram maior quantidade de ácidos graxos de cadeia ramificada e ácido linoleico conjugado (CLA), enquanto animais mais velhos tiveram maior proporção de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) e índices relacionados à saúde cardiovascular.

Apesar das diferenças, a carne dos animais abatidos aos 28 meses continuou sendo considerada favorável à saúde do consumidor, já que a genética do Wagyu está naturalmente associada a menor risco de doenças coronárias e cardiovasculares. Além disso, a avaliação sensorial demonstrou alta aceitação do público, principalmente no quesito maciez, independentemente da idade ao abate.
O que muda para a pecuária brasileira
A comprovação científica de que o Wagyu pode ser abatido com menos tempo sem perda de qualidade representa um avanço significativo para a pecuária nacional. A redução da idade de abate em mais de um ano pode ampliar a competitividade do Brasil na produção de carnes nobres, abrir novos mercados e tornar o Wagyu mais acessível ao consumidor interno.
De acordo com a pesquisadora Ester Costa Fabricio, autora da dissertação de mestrado que embasou o estudo, essa inovação coloca o Brasil em posição de destaque na produção de carne premium: “Animais mais jovens ainda entregam carne de excelência, com alto marmoreio e sabor diferenciado, o que abre caminho para uma pecuária mais rentável e sustentável”.
A pesquisa inédita da USP comprova que o abate precoce do Wagyu mantém a qualidade da carne, garantindo maciez, marmoreio e sabor característicos da raça. O resultado revoluciona o sistema de produção desse gado no Brasil, oferecendo ganhos econômicos, ambientais e de mercado.
Com isso, a pecuária brasileira ganha não apenas em eficiência produtiva, mas também em competitividade global, reforçando o potencial de transformar o Wagyu em uma das maiores vitrines da carne premium nacional.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.