Plano Safra é “maquiagem cara”, Governo controla só 22%, denuncia FPA

Frente Parlamentar da Agropecuária denuncia maquiagem nos números do Plano Safra 2025/26, aponta aumento de custos para o setor produtivo e cobra ações estruturantes do governo federal; Produtores pagarão até R$ 58 bi a mais em juros

O anúncio do Plano Safra 2025/26, feito pelo governo federal nesta terça-feira (1º), provocou forte reação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que acusou o Executivo de transformar a principal política de financiamento agrícola do país em uma “peça de marketing”, com números inflados e pouca efetividade prática.

Segundo o presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR), o valor anunciado — R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial — esconde o fato de que apenas 22% desse total são realmente controlados pelo governo, por meio de recursos com juros equalizados. O restante vem de bancos privados e do mercado, a taxas elevadas, muitas vezes acima de 2% ao mês.

“O plano é recorde no custo, não no apoio. É o produtor quem vai pagar a conta”, declarou Lupion.

Queda real nos juros equalizados e aumento da pressão financeira

Em 2024, o governo havia prometido R$ 138 bilhões com juros controlados, mas contingenciamentos reduziram a execução a R$ 92,8 bilhões. Para 2025/26, o valor anunciado é de R$ 113,8 bilhões, o que representa um aumento em relação ao executado no ano passado, mas uma queda frente ao que foi prometido anteriormente, apontou o parlamentar.

Outro dado alarmante segundo a FPA é o impacto da atual taxa Selic — hoje em 15% ao ano — sobre o financiamento rural. Mesmo com parte do crédito operando com equalização, o custo adicional com juros pode chegar a R$ 58 bilhões na safra 2025/26, segundo projeções do setor.

LCAs sob risco e seguro rural negligenciado

A Medida Provisória 1303/2025, que prevê a tributação das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), também foi duramente criticada. Segundo Lupion, as LCAs financiaram até 43% da produção rural na última safra, e mexer nesse instrumento é “atacar o coração do crédito rural”. A proposta de ampliar de 50% para 60% a exigência de aplicação das LCAs, sem custo fiscal, poderia liberar cerca de R$ 64 bilhões adicionais para o setor.

Além disso, o seguro rural foi ignorado no plano, o que, segundo Lupion, é uma falha grave. Dos R$ 1 bilhão previstos para essa política em 2025, apenas 6,7% foram executados até o momento. “Sem seguro, o produtor fica exposto e o país termina discutindo dívidas e renegociações”, alertou.

A visão da Sociedade Rural Brasileira

A Sociedade Rural Brasileira (SRB) também criticou o plano. Em nota, a entidade considerou insuficiente o volume de recursos e inadequadas as taxas de juros. “O Plano Safra não atendeu o setor, aumentou muito pouco o volume total e diminuiu os recursos para investimento”, afirmou o presidente Sérgio Bortolozzo.

Segundo ele, o crescimento do crédito rural ficou abaixo da inflação (IPCA de 5,2%), reduzindo o poder real de compra. Além disso, a redução de 5,4% em programas para máquinas, irrigação e armazenagem pode comprometer a produtividade futura.

Por outro lado, a SRB elogiou algumas medidas pontuais, como a prioridade para linhas de custeio, o aumento do teto do Pronamp para R$ 3,5 milhões, e incentivos para práticas sustentáveis, como desconto de 0,5 ponto percentual na taxa de juros para produtores que adotem reflorestamento ou culturas de cobertura.

Críticas à condução fiscal e propostas da FPA

Para Lupion, a Selic elevada é consequência da má condução fiscal do governo. Ele responsabilizou o Executivo por não conter os gastos, o que obrigaria o Banco Central a manter juros altos para conter a inflação. “O resultado é crédito caro, produção pressionada e comida mais cara para o consumidor”, disse.

Como alternativas, a FPA apresentou propostas estruturais para melhorar o ambiente econômico, como:

  • Transferência do CAR para o Ministério da Agricultura;
  • Redução do número de ministérios de 31 para 19;
  • Fim dos supersalários e verbas indenizatórias;
  • Melhor uso de imóveis públicos;
  • Prorrogação da alíquota zero do IOF-Câmbio até 2030;
  • Segurança jurídica para crédito rural com risco sacado;
  • Manutenção da isenção da cesta básica.

Enquanto o governo comemora um “plano recorde” em valores nominais, o setor produtivo denuncia falta de transparência, aumento de custos e ausência de garantias básicas como o seguro rural. O Plano Safra 2025/26, que deveria ser um alicerce para a produção agropecuária nacional, entra em vigor sob forte desconfiança do setor, com alertas sobre sua efetividade real no campo.

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