
Associações pedem menos burocracia e apoio técnico para garantir que o crédito do Plano Safra chegue à ponta; Rio Grande do Sul já perdeu 50 mil produtores em oito anos
O Plano Safra 2025/26 trouxe uma novidade importante para a pecuária leiteira brasileira: uma linha de crédito específica do Pronaf voltada à transferência de embriões em propriedades familiares, com juros de apenas 3% ao ano. A medida visa melhorar a genética dos rebanhos leiteiros e fortalecer a segurança alimentar, já que, segundo a Embrapa Gado de Leite, dois a cada três litros de leite produzidos no país vêm da agricultura familiar.
Apesar da boa notícia, entidades representativas do setor alertam para obstáculos sérios, como o alto nível de endividamento dos produtores e a burocracia excessiva no acesso aos recursos.
Setor reconhece avanço no Plano Safra, mas cobra efetividade
Para a Associação de Criadores de Gado Holandês (Gadolando), a linha de crédito do Plano Safra é um avanço, mas a principal preocupação está na ponta da cadeia, onde o acesso ao dinheiro enfrenta barreiras concretas. Segundo o presidente da entidade, Marcos Tang, a medida só terá impacto real se o governo garantir desburocratização e efetivação prática dos anúncios feitos.
“Se vê coisa positiva quando tentam ajudar, mas nós queremos saber o que realmente é efetivado. O que está acontecendo com nosso produtor hoje é que ele está negociando com instituições financeiras. O que a gente quer saber é o que vai se efetivar da porteira para dentro, com esses juros bons anunciados pelo governo”, afirmou Tang.
Genética com critério e assistência técnica
Tang também destaca que o investimento em genética precisa ser feito com critério técnico, o que exige assistência especializada ao produtor, tanto para escolha dos animais como para o manejo correto após o nascimento.
“Vale a pena multiplicar animais com registro genealógico, controle leiteiro, análise morfológica e genes superiores. Caso contrário, é um dinheiro mal empregado”, pontuou.
Êxodo leiteiro no RS e crise estrutural
O estado do Rio Grande do Sul, um dos maiores produtores de leite do país, despencou da 3ª para a 4ª posição nacional. Estima-se que, nos últimos oito anos, cerca de 50 mil produtores abandonaram a atividade no estado. E após as enchentes históricas de 2024, o número deve crescer, já que muitas propriedades foram destruídas.
Além disso, a ociosidade das pequenas e médias indústrias leiteiras já atinge 36%, segundo a Apil (Associação de Pequenas e Médias Indústrias de Leite), que representa 45 estabelecimentos gaúchos. A entidade entregou um documento ao governador Eduardo Leite com três propostas emergenciais:
- Criação de um Programa de Incentivo à Produção Leiteira, com crédito acessível e juros compatíveis;
- Constituição de um Fundo Permanente de Desenvolvimento do Produtor de Leite, voltado à modernização, mecanização e aquisição de tecnologias;
- Redirecionamento de recursos de programas como o de Recuperação de Solos para investimentos diretos e eficazes na cadeia leiteira.
Retorno econômico do leite é ignorado, dizem lideranças
O presidente da Apil, Humberto Brustolin, defendeu que o leite tem alto retorno econômico e precisa de políticas permanentes, de estado, e não apenas medidas pontuais como o Plano Safra.
“Temos um número de que a cada R$ 1 investido na produção de leite, retorna para a economia R$ 3,40. Tentamos mostrar ao governo do estado que vale a pena investir nesse setor.”
Conclusão: Apesar do anúncio positivo de juros reduzidos para genética leiteira, o sucesso da medida depende da sua execução prática. Produtores enfrentam dívidas acumuladas, enchentes devastadoras e falta de apoio técnico — um cenário que ameaça não apenas a produção de leite, mas a permanência da agricultura familiar na atividade. Para reverter esse quadro, será preciso muito mais que crédito: é necessária uma política estruturante e duradoura.
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