
O mapeamento, realizado pela Embrapa no ano de 2024, mostra a presença, o tipo e a dispersão da resistência a herbicidas em populações de azevém (Lolium multiflorum) e caruru (Amaranthus spp.)
Um levantamento da Embrapa mapeou a incidência de casos de resistência de azevém e caruru aos principais herbicidas disponíveis no mercado. A resistência de azevém foi registrada em 38% dos munícipios do Rio Grande do Sul, causando prejuízos na ordem de R$ 1,2 bilhão na safra anual de grãos.
O mapeamento, realizado pela Embrapa no ano de 2024, mostra a presença, o tipo e a dispersão da resistência a herbicidas em populações de azevém (Lolium multiflorum) e caruru (Amaranthus spp.) nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os mapas mostram casos de resistência cruzada (caracterizada pela resistência a herbicidas de diferentes grupos químicos, mas com mesmo mecanismo de ação) e de resistência múltipla (que envolve resistência a herbicidas com diferentes mecanismos de ação) possibilitando uma caracterização regionalizada da ocorrência de resistência.
No Rio Grande do Sul, 38% dos municípios no Estado apresentaram algum tipo de resistência a herbicidas nas populações de azevém e 27% dos municípios mostraram dificuldades para controle de caruru. Estimativas de custo feitas para manejo (dessecação e controle) com as principais alternativas de produtos químicos registrados no Brasil, utilizando os preços dos herbicidas de maio 2025, indicam aumento no custo produção e perdas de rendimento em função de presença de azevém resistente de R$ 1,2 bilhão e para caruru de R$ 485 milhões.

Em Santa Catarina, a incidência de casos de resistência a azevém está presente em 8% dos munícipios e de caruru em 2,3%.


A estimativa das áreas afetadas foi obtida por meio de entrevistas com produtores rurais, assistentes técnicos de cooperativas e de revendas agrícolas, fornecendo percepção do tamanho do problema. De acordo com o pesquisador Décio Karam, da Embrapa Milho e Sorgo, os mapas são uma ferramenta importante para orientar estratégias de manejo integrado, apoiar recomendações técnicas e subsidiar ações públicas e privadas de pesquisa e extensão voltadas à mitigação da resistência no campo.
Origem do problema
As plantas daninhas são invasoras que aparecem no meio das lavouras, afetando a produtividade das culturas na competição por luz, água e nutrientes. As plantas daninhas também podem servir de hospedeiras para pragas e doenças, ou causar efeitos tóxicos, que inibem a germinação das sementes.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Leandro Vargas, existem três métodos para minimizar o problema: o preventivo, como a aquisição de sementes livres de infestantes, a limpeza de máquinas e equipamentos, e a manutenção de beiras de estrada, carreadores e terraços livres de infestantes; o método mecânico, como as capinas e roçadas; e o método químico com a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação, em sistemas de controle distintos.
Os herbicidas são o método mais rápido e eficiente de combater as plantas daninhas. O número de aplicações em uma safra varia conforme a cultura, às espécies daninhas presentes e às condições climáticas. Contudo, nos últimos anos, erros no manejo químico têm resultado na seleção de espécies resistentes em plantas daninhas. O pesquisador alerta que o uso contínuo e repetido do mesmo herbicida, ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação, inevitavelmente levarão à seleção de espécies resistentes.
Histórico e Controle
Os primeiros casos de plantas daninhas resistentes a herbicidas surgiram há mais de 20 anos no Brasil. A resistência de azevém (Lolium multiflorum) foi registrada em 2003 e de caruru (Amaranthus spp.) em 2015.
Azevém
O azevém (Lolium multiflorum) é uma gramínea que se desenvolve de forma espontânea ou cultivada no período de inverno e primavera, utilizada principalmente como forrageira e para fornecimento de palha ao sistema plantio direto. É uma espécie de fácil dispersão e, por isso, caracteriza-se como planta daninha em praticamente todas as lavouras de inverno, em pomares e em vinhedos da região Sul do Brasil.
A resistência de azevém ao herbicida glifosato foi registrada pela primeira vez em 2003, em lavouras de culturas anuais e em pomares no Rio Grande do Sul. Devido a essa resistência, os herbicidas inibidores da enzima ACCase (Acetyl-CoA carboxylase) e ALS (Acetolactato Sintase) passaram a ser usados em maior escala. Porém, o uso contínuo desses herbicidas selecionou plantas de azevém resistentes aos inibidores da ALS em 2010. Um ano depois, em 2011, a situação da resistência se agravou, quando foram registrados casos de resistência múltipla a todos os herbicidas disponíveis no mercado.
Controle
Frente a situação atual de resistência de azevém, a aplicação de herbicidas pré-emergentes (s-metolachlor, pyroxasulfone e bixlozone) é ferramenta importante para reduzir a pressão de seleção na pós-emergência. A pesquisa sugere, ainda, aliar outros métodos de manejo como o físico e cultural, juntamente com o químico, visando reduzir a produção de sementes, diminuindo assim gradativamente a presença dessas plantas daninhas na lavoura. Outra ferramenta importante é a rotação de culturas que permite a utilização de herbicidas com diferentes mecanismos de ação favorecendo o manejo e diminuindo a pressão de seleção dos herbicidas sobre as plantas.
Caruru
Amaranthus palmeri é uma planta daninha exótica de caruru, que já causava perdas nos algodoais nos Estados Unidos e no México quando foi identificada pela primeira vez no Brasil, em 2015, em lavouras do Mato Grosso, em locais de rotação de algodão, soja e milho. Além do crescimento rápido (2 a 3 cm por dia), as flores femininas podem produzir sementes mesmo sem a ocorrência de polinização (cada planta pode produzir de 100 mil a 1 milhão de sementes). Sem controle, as perdas no rendimento das culturas podem atingir 91% em milho, 79% em soja e 77% no algodão.
O controle do caruru (Amaranthus spp.) exige estratégias integradas, devido à sua alta capacidade de produção de sementes e em função da resistência aos herbicidas. O uso de culturas de cobertura de solo, como milheto, aveia, centeio ou braquiária, é essencial para suprimir a emergência das plantas de caruru. No manejo químico, os herbicidas pré-emergentes como s-metolachlor, flumioxazina, sulfentrazona ou metribuzin devem ser aplicados em pré-emergência do caruru em sistema plante-aplica. Já os pós-emergentes, como fomesafem e o glifosato em soja RR e ainda o 2,4-D, e o glufosinato em soja Enlist, devem ser aplicados no estádio vegetativo correto (3-4 folhas) para maximizar o controle. O manejo integrado, que associa plantas de cobertura + herbicidas pré-emergentes + herbicidas pós-emergentes, é fundamental para reduzir a produção de sementes, esgotar banco de sementes do solo e controlar as plantas de caruru d forma eficiente, reduzindo a probabilidade de seleção de biótipos resistentes a outros herbicidas e garantir maior produtividade da soja.
Fonte: Embrapa
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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