PO ou CEIP? Saiba qual genética traz o maior retorno sobre o investimento para sua fazenda

Entenda a diferença técnica entre as certificações e saiba qual delas entrega maior retorno financeiro real para o produtor de gado de corte

Houve um tempo na pecuária brasileira em que a beleza de um touro — sua cabeça, o formato dos chifres e a pelagem — era o único avalista de sua qualidade. O criador olhava para o animal e, baseado na tradição, decidia o futuro do rebanho. Hoje, com as margens de lucro cada vez mais estreitas e o custo de produção em alta, o “olhômetro” cedeu lugar à calculadora. É nesse cenário que surge uma das dúvidas mais recorrentes nas rodas de conversa e nos leilões de norte a sul do país: afinal, para ter retorno financeiro (ROI), devo investir em animais PO (Puro de Origem) ou CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção)?

Não se trata apenas de uma escolha burocrática. Estamos falando da decisão que vai determinar se os bezerros nascerão mais pesados, se as novilhas emprenharão mais cedo e, fundamentalmente, quanto sobrará no bolso do produtor ao final da safra. Siga a leitura e acompanhe o Compre Rural, qui você encontra informação de qualidade para fortalecer o campo!

O peso da tradição: O que o PO garante?

O registro PO (Puro de Origem) é a carteira de identidade da nobreza bovina no Brasil. Gerenciado majoritariamente pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), esse certificado atesta a pureza racial. Ele garante que aquele animal carrega, em sua genealogia, ancestrais da mesma raça, sem cruzamentos externos, preservando as características fenotípicas padrões.

Historicamente, o PO foi fundamental para formar a base do rebanho nacional. No entanto, é preciso ter cautela. O registro PO, isoladamente, atesta pureza, mas não necessariamente produtividade. Um animal pode ser “lindo” racialmente, mas ser tardio ou ter baixa conversão alimentar.

O alerta: O mercado mudou. O touro PO que traz retorno hoje não é apenas aquele que vence na pista de julgamento pela beleza, mas sim o PO com avaliação genética. Ou seja, aquele que, além do registro, possui DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie) positivas em programas robustos como o PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos).

A revolução funcional: Entendendo o CEIP

Do outro lado do ringue, temos o CEIP. Emitido sob a chancela do Ministério da Agricultura (MAPA), este certificado não está preocupado se o animal tem a orelha perfeita, mas sim se ele produz carne de forma eficiente.

O conceito do CEIP é sustentado por grandes programas de melhoramento genético — como DeltaGen, Cia de Melhoramento e Paint (CRV). A lógica é darwiniana e implacável: de cada safra de bezerros nascidos, apenas os 20% a 30% melhores recebem o certificado. O resto — os animais medianos ou inferiores — é descartado da reprodução e vira gado de corte comum.

Isso garante uma pressão de seleção altíssima. Ao comprar um touro CEIP, o produtor tem a certeza matemática de que está levando para casa um animal superior à média do rebanho de origem em características econômicas.

PO ou CEIP no cocho: Análise de Retorno sobre Investimento (ROI)

Para o produtor que vende bezerro ou boi gordo, a pergunta é pragmática: qual paga a conta?

Precocidade Sexual

Dados de programas de melhoramento apontam que rebanhos focados em CEIP ou PO com forte avaliação genética conseguem emprenhar novilhas, em média, aos 14 meses. Em rebanhos sem essa pressão genética, a idade pode saltar para 24 ou 30 meses. Uma fêmea que emprenha um ano mais cedo produz um bezerro a mais em sua vida útil, diluindo drasticamente o custo fixo da fazenda.

Ganho de Peso e Abate

Aqui reside o grande gargalo da eficiência. Segundo protocolos recentes da Embrapa, alinhados às exigências da Carne de Baixo Carbono, a idade de abate recomendada é de até 30 meses para garantir produtividade e sustentabilidade. O Cepea corrobora essa necessidade de eficiência, apontando em suas pesquisas uma tendência consistente de aumento no abate de animais jovens no Brasil.

Com genética superior (CEIP ou PO avaliado), é possível abater animais pesados muito antes desse teto de 30 meses. O boi que ultrapassa essa idade no pasto torna-se um “hóspede” caro que corrói a margem do produtor.

O Custo de Aquisição

Na hora da compra, o produtor também precisa fazer conta. Enquanto a elite das pistas de julgamento muitas vezes atinge cifras milionárias — inflacionadas pelo marketing e premiações —, o touro comercial focado em produção (seja CEIP ou PO de campo) costuma ter seu preço balizado pela realidade: geralmente em múltiplos da arroba do boi gordo. O investimento inicial em genética funcional tende a ser mais seguro e com payback mais rápido para quem vive da produção de carne, e não da venda de “grife”.

Touros Nelore PO no curral - PO ou CEIP? Saiba qual genética traz o maior retorno sobre o investimento para sua fazenda
Foto: Bula360

Convergência entre PO e CEIP: O fim da guerra?

É um erro estratégico criar uma rivalidade insuperável entre PO e CEIP. O mercado atual caminha para uma convergência.

Os grandes criadores de PO perceberam que “apenas raça” não vende mais touro para quem faz conta. Por isso, a elite do PO hoje trabalha com avaliações genéticas tão rigorosas quanto as do CEIP. Da mesma forma, programas de CEIP utilizam a base racial do Zebu para buscar rusticidade.

CaracterísticaFoco do PO (Tradicional)Foco do CEIPOnde está o Lucro?
Critério PrincipalPureza Racial e MorfologiaDesempenho e NúmerosNo equilíbrio entre adaptação e produção.
Pressão de SeleçãoBaseada em padrão racialEliminação dos inferiores (Bottom line)A alta pressão de seleção garante evolução rápida.
Objetivo FinalVenda de Genética/PistaProdução de Carne ComercialPara quem vende boi gordo, o desempenho dita a regra.

Não compre a sigla, compre o resultado

Ao final desta investigação, a resposta para “qual traz maior retorno” não está na sigla impressa no certificado, mas na confiabilidade dos dados que acompanham o animal.

Para o pecuarista comercial, que precisa pagar as contas no final do mês, o touro CEIP oferece uma garantia estatística de superioridade produtiva muito direta, pois já passou pelo crivo do descarte dos inferiores. No entanto, um touro PO com DEPs consistentes e top de avaliação entrega o mesmo (ou até mais) resultado, somando a valorização da marca e a consistência racial.

O conselho é claro: abandone a vaidade. Não compre um touro porque ele é bonito ou porque o vizinho comprou. Exija a “bula” do animal. Olhe as réguas de DEPs. Se o touro tiver PO ou CEIP, ótimo. Mas se ele não tiver números que provem que seus filhos ganharão peso mais rápido que a média — respeitando o teto de 30 meses preconizado pela pesquisa —, ele é apenas um boi caro. E na pecuária de hoje, não há espaço para prejuízo de estimação.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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