Políticas de renda podem beneficiar lácteos, diz economista

Setor vive um momento de restrição de oferta de matéria-prima. A produção de leite cru nas fazendas brasileiras recuou no ano passado devido à alta de preços dos insumos.

Apesar do nublado cenário econômico, o consumo de leite e derivados deve crescer no país neste ano, acredita o economista Paulo do Carmo Martins, da Embrapa Gado de Leite.

O segmento é muito sensível às oscilações dos indicadores macroeconômicos. “Acho que o consumo vai afetar a cadeia positivamente”, afirmou. “Por um lado estamos importando leite para suprir a demanda e, desse modo, o preço não deverá crescer tanto. E, por outro, há as políticas de transferência de renda”, disse.

Entre essas políticas está o recente reajuste da merenda escolar, rememorou o economista. O governo federal anunciou neste mês repasse de até 39% ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, o que não ocorria desde 2017, durante o governo Michel Temer. “O setor é sempre impactado por elas [políticas de repasse de renda]. É uma oportunidade para o produtor de leite e para os laticínios brasileiros”, reforçou.

O setor vive um momento de restrição de oferta de matéria-prima. A produção de leite cru nas fazendas brasileiras recuou no ano passado devido à alta de preços dos insumos e aos efeitos do clima desfavorável em regiões produtoras importantes, como o Sul. Mesmo que se preveja uma recuperação de volumes, esta ocorrerá aos poucos — e, para ele, o país deverá manter em 2023 níveis similares de produção do ano passado.

Parte do problema veio do encarecimento de insumos, causado por uma instabilidade econômica reforçada pela guerra na Ucrânia, uma questão que Martins vê como “temporariamente minorada”.

O ponto de alerta agora, diz, é o reflexo, para a economia, da turbulência no setor bancário internacional, da amplitude da crise das Lojas Americanas e do debate em torno dos juros no Brasil. “…Esses fatores têm potencial de impactar o consumo de leite, que é muito dependente do desempenho da economia, principalmente da taxa de juros, do nível de emprego e do crescimento do PIB”, escreveu em análise.

Ainda que a produção do país se recupere aos poucos nas bacias leiteiras, a oferta de leite cru no mercado interno não deve sofrer um grande impacto ao longo do ano, visto que os preços internacionais e o câmbio favorecem as compras externas, continuou.

Nos dois primeiros meses do ano, o país importou 303,6 milhões de litros, volume que supera três vezes o da mesma época em 2021. Ainda segundo o economista, a oferta de leite dos principais países exportadores ficou relativamente estável em 2022 em comparação com o ano anterior. Ademais, escreve, os preços internacionais das principais commodities lácteas negociadas na plataforma Global Dairy Trade (GDT), referência de preços no mercado internacional, estão em nível similar ao período pré-pandemia.

Inflação

Apesar de agentes do setor não esperarem que os fortes aumentos dos lácteos no ano passado voltem a se repetir em 2023, os preços de leite e derivados têm pressionado a inflação medida pelo IPCA. Em fevereiro, os lácteos subiram 2,4%, ou três vezes mais do que o IPCA, que foi de 0,8%, lembra o economista. O destaque ficou com o leite longa vida, que ficou 4,2% mais caro no mês passado.

Fonte: Valor Econômico

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